Capítulo 12

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CAROLINA MARIA

Tem pessoas que não são fãs de segundas-feiras e eu como uma boa amante delas, aproveito para me organizar e recomeçar. De fato, hoje tenho uma audiência para acompanhar e decido ir com uma calça pantalona bege e com uma blusa preta um pouco apertada. Prendo os meus cabelos em um coque e após, brevemente tomo o meu café enquanto faço uma leitura de partes específicas que marquei com marca-texto. O caso de hoje é um homem que foi levado para a delegacia com a suspeita de ter roubado uma bicicleta em supermercado, o dono da bicicleta diz que foi ele que o roubou pelo reconhecimento de foto, a família contesta dizendo que ele estava no trabalho.

O advogado em acensão irá com provas e por fim, podendo levar seu cliente de acusado ou fazer que homem na qual o está condenando, pagar uma indenização. A família que me procurou, me jurou que aquele homem é honesto e querem justiça. Infelizmente, independente do resultado, é muito comum homens e principalmente negros, serem acusados de roubos e pela maioria, por pessoas brancas, como advogada, nem sempre posso escolher um lado. Mas é nítido o racismo a cada caso.

Guardo algum dos meus matérias que cabe na minha bolsa e outras como sempre, carrego abaixo do braço. Coloco as louças sujas na pia para em algum momento após o trabalho eu venha lavar e termino calçando os meus saltos. Pego as minhas coisas e desço para a garagem.

Ainda são sete e vinte da manhã, a audiência começa as nove. Só que pretendo arrumar as minhas coisas na sala, agendar outras na minha agenda e provavelmente um encontro com a minha família. Deixo a janela aberta até o fórum enquanto vento gelado da manhã adentra, uma música baixinha toca no rádio e sigo o meu caminho com pouco congestionamento até o fórum.

Meus pensamentos avoam rapidamente para o dia de ontem. Penso em Roberto e na sua teimosia de continuar, mas uma buzina me pega desprevenida e aperto o acelerador mais um pouco indo para o meu destino.

— Bom dia! — Saúdo o manobrista enquanto entrego minha chave e mostro meu crachá que está no meu pescoço. O homem de meia idade sorrir e assim entro para dentro do fórum já tem algumas pessoas circulando.

Tem alguns polícias que trabalham aqui dentro e outros com roupas diferentes já que são os mesmo que trazem os presidiários. Caminho até a minha sala que está quentinha e vejo alguns papéis espalhados que deixei na sexta-feira.

Me organizo rapidamente com os assuntos que precisam ser vistos e sendo mais importantes. Por algum momento me lembro de umas das primeiras pessoas que passou por mim quando cheguei aqui no Rio, a Marilene. Lembro me vagamente do seu convite para conhecer as crianças da sua comunidade, apesar dá ideia ser boa e me deixar animada, não sou nenhuma maluca em pensar em subir murro. Sou filha de polícia, e mesmo que eu meu pai não sejamos a mesma pessoa, qualquer um poderia aproveitar oportunidade para fazer uma maldade. Infelizmente, as pessoas não associam uma coisa com a outra.

Quando a minha sala está da maneira que gosto para um início de semana de trabalho, anoto as tarefas pendentes na agenda e quando termino, pego a minha pasta com alguns papéis e vou me acomodar no local que vai ser a audiência.

Vejo alguns rostos conhecidos e aceno. Logo vou me sentar na mesa na qual vai estar o advogado do réu. Separo algumas provas que usamos para constatações; alguns prints de gravações e também as falas do acusado que deixei marcada com um lápis e interrogações, são claramente falas desconexas e que poderia acusar qualquer um.

— Bom dia, senhorita Carolina — O advogado criminalista, Marcos, com certeza deve ter mais ou menos a idade do meu pai, me cumprimenta com as mãos estendidas e me levanto para apertar. — Consegui falar com o acusado. Ele me prometeu também que não é ele, vamos usar tudo que temos.

MY KIND OF LOVE | capitão nascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora