Quando Arde o Coração • Tayvis

capítulo vinte e quatro

No dia seguinte a agenda de Taylor estava cheia. Iria no psicólogo Styles, em uma reunião da escola para discutirem o plano de volta às aulas e na igreja local organizar o banco de doações.
Para ser honesta, Taylor estava animada em ser tratada normalmente na cidade como antes de sua vida virar uma bagunça. Ainda não havia falado com sua família desde a briga mas planejava passar na casa deles depois da igreja.

Não queria mais desavenças e estava com fé de que seguiria em frente logo logo.

"O que faz aqui?" Samara cuspiu com a expressão enojada.

No entanto, Taylor não se deixou abalar por isso. Sorriu fino, pacientemente.

"Taylor! Entre!" seu pai disse ao avista-la atrás da porta.

Samara deu um passo ao lado, irritada.

"Mamãe está?" perguntou se sentando no sofá.

"Estou aqui, por que? Veio cuspir na nossa cara mais ofensas?!" Andrea se sentou à sua frente.

"Eu vim pedir uma trégua." disse simples.

Samara soltou uma risada fingida.

"Conta outra, garota."

"Estou falando sério, Sam." a encarou dando de ombros. "Eu tenho a minha família agora e bem resolvida comigo mesma. Só não quero que fique essa situação chata entre a gente até porque somos vizinhos."

"Por que isso agora?" Andrea murmurou.

"Eu estou mais sentimental do que de costume." riu fraco. "Eu cresci, mãe...eu finalmente cresci."

"Que papo é essa?" Sam questionou, erguendo a sobrancelha.

"Eu amo e aprendi a ser amada, tenho uma filha linda e inteligente, um relacionamento estável, um emprego bom e vivo em uma cidade tranquila..." respirou fundo. "Eu estou vivendo a minha vida."

"Filha...isso é maravilhoso!" Scott exclamou com os olhos brilhantes.

"E Sam..." Taylor se virou para a irmã. "Pode cessar suas provocações. Não importa o que faça Travis ainda vai ser meu, e você tinha razão, eu o tratei com descaso mas agora estou aqui para tratá-lo com carinho. E pode ter certeza de que eu cuido muito bem." sorriu de canto. "Eu não quero brigar com você, então eu perdoo a sua sem vergonhice e vou esquecer que você foi uma puta comigo."

Andrea soltou o habitual som pela boca.

"Olha...eu sei que não fomos bons para você mas estamos aqui do lado. Não precisamos fingir que somos unidos mas também não precisamos nos odiar." suspirou. "Quando precisar estaremos aqui, porque afinal família serve pra isso."

E Taylor sabia que era verdade, porque embora tivessem suas desavenças, sua mãe não a negou ajuda quando precisou.

"Obrigada, mãe." disse entredentes.

"Agora volte para a sua família. Nos vemos no aniversário de Cece." Andrea resmungou.

"No aniversário de Cece?"

"Minha neta vai fazer dezesseis anos, precisa de uma festa decente."

Aquilo fez Taylor sorrir fino.

Samara a encarou com a expressão pensativa, talvez estivesse refletindo todas as suas ações.

"Nos vemos no aniversário de Cece, então." Taylor assegurou, se levantando.

Quando retornou para casa com um sorriso bobo, foi surpreendida por um abraço caloroso de Cece, que nunca fizera isso antes.

Taylor estranhou o gesto da menina mas nada disse.

"Mãe..."

"O que foi, meu amor? Está tudo bem?" perguntou enquanto afagava os cabelos loiros da filha.

"Eu só quero te abraçar assim pra sempre." murmurou.

Sentiu-se o coração amolecer, abraçando a menina mais forte.

Travis havia ido trabalhar na carpintaria e voltaria somente para o jantar, então ela sabia que essa solidão em casa fez Cece lembrar dos velhos tempos, no qual Taylor a deixava sozinha em casa por consequência do trabalho. As aulas iniciaram no dia seguinte, talvez Cece estivesse ansiosa.

"Quer me ajudar com o jantar?"

"Quero."

As duas prepararam a comida mais demorada da história, quase queimando tudo. Quando Travis chegou cansado do trabalho, o aroma da comida o despertou e ambas consideraram aquilo uma vitória. Estar tão próxima assim de sua filha era algo que a deixava emocionada.

"Se a massa estiver queimada foi culpa da mamãe!" acusou com o dedo.

"Ei!" Taylor fez uma careta emburrada.

Travis gargalhou, pegando uma palhinha da comida.

"Está muito bom." garantiu.

"Toca aqui!" Taylor estendeu a palma da mão para a filha, que bateu com a sua na dela.

O jantar foi tranquilo, Taylor falava sobre a situação com sua família.

"Vamos recuar. Eu realmente estou cansada disso e acho que já tenho tudo que preciso agora. Seja lá o que estejam fazendo, não me afeta mais." deu de ombros.

"Mas e o nosso plano?" Cece murmurou meio triste.

"Vamos usá-lo em outro momento se precisarmos mas acho que já está tudo resolvido mesmo."

"Isso é ótimo. Conversou com a sua irmã?" Travis a encarou.

"Ela ainda está orgulhosa." fez careta. "Mas deixei claro que odeio essa barreira que ela colocou entre a gente. Ela é minha irmã e eu não gosto dessa briga boba."

"Então sem mais indiretas no gramado?" Cece fez um bico e Taylor sorriu.

"Sem mais indiretas no gramado." concluiu.

Taylor foi se deitar após um longo banho. Deitada na cama ao lado de Travis, ambos encarando o teto em completo silêncio, ambos ouvindo a respiração um do outro.

"Acha que fez o certo?" ele quebrou o silêncio.

"Não sei. Eu só não quero mais brigas." respondeu ainda encarando o teto.

"Mas eles te magoaram."

"Eu também magoei eles." suspirou. "Eu só quero me sentir normal de novo."

"Como foi a sessão hoje?"

"Eu chorei feito um bebê." riu fraco. "Expliquei a situação com a minha família e tudo mais..."

"Isso é bom."

"Ele me receitou alguns remédios."

"Isso é bom também."

Taylor o encarou, a escuridão do quarto fazia seus rostos serem apenas um borrão.

"Você vê futuro em mim? Na gente?" perguntou com a voz baixa.

Travis se virou para ela, sua mão pousando em sua cintura.

"Vejo sim. E você?"

"Também..." fez careta. "Demorou mas eu vejo sim. Agora eu vejo tudo."

"Você pensa tanto assim?"

"É o que eu mais faço, eu penso em tudo." sorriu fino.

"Então pensa na gente?"

"Penso."

Travis a puxou para mais perto de si, Taylor deitou em seu peito.