Capítulo: Eu cheguei!

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Eu consegui! Eu cheguei até aqui!

Quando começaram as fases de teste, confesso que achei que não teria chance, que não passaria. Mas aqui estou eu, sentada em uma cadeira em uma sala escura qualquer da CAD'S, rodeada de jovens da minha idade, em um silêncio absoluto. É como se o menor ruído fosse capaz de acordar o sonho de ter sido selecionada pela Instituição mais difícil do Ocidente. Eles querem parecer intimidantes — e, sinceramente, conseguem. Me sinto como um rato diante de uma mulher assustadora, cheia de cicatrizes, em uma sala lotada de pessoas com olhares tão pesados quanto os próprios rostos.

Na verdade, eu deveria esperar por isso. Lembro que, na academia, o ambiente já era assim. A ideia de que, ao nos odiarmos uns aos outros, ganharíamos mais força, mais poder e mais coragem. E, de certa forma, isso parecia funcionar.

Quanto mais tento desviar o olhar, mais as cicatrizes no rosto da mulher à minha frente se destacam. Ela deve ter sido linda na juventude — ainda é, mesmo com todas as marcas. Seus olhos percorrem a sala com precisão, como se fosse uma câmera em movimento, analisando cada um de nós. Sinto minha respiração falhar quando nossos olhares se encontram. Ela é o tipo de pessoa cuja presença já impõe respeito.

Num movimento brusco, ela se levanta e vai até a mesa. Seus olhos ainda observam atentamente cada um de nós.

-Bem-vindos. - Sua voz é curta, mas poderosa. - É um prazer tê-los aqui na CAD'S. Seus serviços para esta nação nunca serão esquecidos. Meu codinome é Horse, e, a partir de agora, serei sua mentora. - Ela começa a caminhar de um lado para o outro, esperando que assimilássemos suas palavras. - Em cima de suas mesas, vocês encontrarão um envelope. Dentro, estão seu codinome, esquadrão e sede. Ou seja, tudo o que vocês precisam saber. - Ela faz uma pausa, aproximando-se das fileiras de cadeiras. - Bem-vindos ao batalhão 78. Esta será sua nova família. Este será seu novo sangue.

Quando abro o envelope, encontro um broche de um pug fumando um charuto, com um capacete militar antigo, gravado com "Batalhão 78º" na aba. Achei aquilo legal, algo simples, mas cheio de significado.

-Este ano, vocês, os novatos, estão em número reduzido, então estarão juntos na mesma sede. - Ela continua, sem perder a firmeza. - Esqueçam seus nomes verdadeiros. Eles não significam mais nada. Quando saírem dessa sala, serão conhecidos pelos nomes que agora lhes foram dados. Acostumem-se a eles.

Minha família já havia me preparado para isso. Toda essa seriedade. Essas falas metódicas. Não é muito diferente do que vivi na minha infância, nem do que minha irmã passou. Talvez aqui até seja melhor.

-Acredito que já ouviram isso durante os testes, mas não custa reforçar. - Ela se senta novamente, encarando todos com intensidade. - A partir de agora, vocês serão reconhecidos por esses nomes. Receberão as cartas de liberação, que significam que, a partir deste momento, moram, treinam, comem e servem aqui. Servem em todas as áreas. De atirar em assassinos, salvar pessoas, até passar o rodo na cozinha. - Ela para, respira fundo, como se quisesse ter paciência para nos passar as informações básicas. - Este lugar... - Ela gira o dedo no ar, apontando para a CAD'S. - É uma engrenagem. E nós somos peças de algo muito maior.

Abro o meu envelope, tentando manter a calma, retirando os papéis e procurando meu codinome. Quando o vejo, escrito em letras cursivas nos documentos, percebo que sou Nancy Wake. Interessante, um nome histórico. Melhor que nome de arma, pelo menos.

-Preetz. - Horse chama, e o primeiro nome ecoa pela sala.

Um garoto moreno e alto se levanta no fundo da sala. Ele parece forte. Vai até a mesa, pega um pequeno cartão e volta para o seu lugar.

-Armalite.

Vejo outro garoto se levantar, parecido com o primeiro. Eles são tão semelhantes que, por um momento, me pergunto se são irmãos. Suas roupas são a única diferença visível. Ele também pega o cartão e volta para o lugar dele.

Sempre em guerraWhere stories live. Discover now