Capítulo: Te vejo em sonhos.

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Qual alvo? — Minha voz soa frágil, mais fraca do que eu gostaria. O nervosismo transparece em cada sílaba.

Brenda responde sem hesitar, a mão firme apontando para o alvo mais próximo, ainda com a calma de quem já sabe o que vai acontecer.

O que está mais perto. — Sua voz nunca falha, sempre cortante e direta.

Eu me posiciono, mas o desconforto ainda me prende. O calor do sol parece aumentar, pressionando meus ombros, e os sons ao redor ficam mais intensos, o vento e os disparos se tornando uma pressão constante em minha mente. Sinto o suor escorrendo pelo meu rosto, os fios de cabelo grudados na testa. O cheiro da terra, misturado ao ferro da arma, faz meu estômago revirar.

Minhas mãos tremem quando tento focar o alvo. O peso da pistola é tão grande, e minha visão parece turva, como se a arma fosse maior do que eu consigo controlar. O estalo do gatilho é abafado, e a bala dispara sem acerto. Nada. O silêncio após o tiro é esmagador. Eu vejo o alvo balançando ao longe, intacto.

Essa veio estragada! — Eu grito, a frustração crescendo dentro de mim. Meu corpo está rígido, a raiva se misturando com o medo.

Brenda solta uma risada curta, sem humor, e tira a arma de minha mão com agilidade, como se fosse o movimento mais simples do mundo. Ela a examina por um momento e depois a devolve para mim, desta vez com mais instruções.

Você está esquecendo de destravar. — Ela diz, sua voz mantendo a mesma firmeza.

Ela me dá a arma de volta, e a sensação de seu toque é diferente. Não é de proteção ou carinho. Ela está me corrigindo, me moldando para algo maior. A arma agora parece mais uma extensão do meu braço. Sinto o peso, o poder, mas também a responsabilidade. Meus dedos se posicionam de maneira diferente, a tensão na minha mão é mais forte. O corpo se ajusta lentamente. Tento respirar mais fundo, forçando meu peito a se expandir, mas o calor do ambiente ainda me sufoca.

De novo. — A voz de Brenda corta o ar, exigente. Eu assinto com a cabeça, tentando ignorar o pânico crescente dentro de mim.

Ela me posiciona, ajustando meus ombros, suas mãos firmes, corrigindo cada erro. O calor na minha pele aumenta com a proximidade dela. Sinto o suor escorrendo pelo pescoço e meu coração batendo mais forte, não apenas pela pressão do treino, mas pela presença de Brenda. Cada movimento dela é preciso, controlado, e cada palavra dela é um comando.

Agora, mais firme. Use as pernas. Encontre sua estabilidade. — Ela diz, a calma em sua voz contrastando com minha respiração irregular.

Eu tento de novo, a pistola vibrando nas minhas mãos. Eu me concentro. A sensação de estabilidade é quase imediata. Minha respiração fica mais controlada, mas o estalo da bala ainda parece vir de outro mundo, abafado demais. Eu acerto o alvo, mas não com a precisão que eu esperava. O som da bala atingindo a placa de metal ainda ressoa em meus ouvidos, e uma sensação de frustração invade meu peito.

Isso não é suficiente. — A voz de Brenda é dura, mas não cruel. Ela simplesmente não tem espaço para mais nada. Eu percebo isso.

Ela me observa por mais alguns segundos, seus olhos avaliando cada movimento meu, como se estivesse vendo algo além do que eu vejo. Eu sabia que ela esperava mais de mim. Eu sabia que eu podia fazer melhor, mas o medo ainda me segurava. O suor ainda escorria, mas o treino continuava.

A cena muda então, como se eu fosse transportada de um lugar para outro sem aviso. De repente, estou em meu quarto, a sensação de calor e pressão desaparecendo, substituída pelo cheiro familiar de perfume de flor e de coisas antigas. O quarto, pequeno, com paredes roxas e móveis simples, parece uma cápsula do tempo. As fotos familiares estão espalhadas pelos móveis. O cheiro de infância ainda se mistura com o som da música suave que toca da vitrola, e a cama bagunçada com os livros jogados ao redor.

Sempre em guerraWhere stories live. Discover now