Capítulo Dois

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Apesar da ressaca, ela acordou cedo no dia seguinte, lembrando da reunião com o conselho e no mesmo momento mandou mensagem para o grupo adiando, precisava se recuperar. Fez sua higiene matinal e colocou roupas de treino, decidindo correr ao ar livre um pouco.

A mansão dos Hathaway era localizada em um condomínio onde haviam apenas casas de luxo, geralmente só pessoas muito influentes no meio social moravam ali. O condomínio era bem grande, por isso, sempre que podia, saia para correr ao ar livre. Uma dose de adrenalina, mesmo sendo tão cedo, era o que ela precisava para tirar o resto de álcool do organismo e ter energia para aguentar o dia.

Os pensamentos de Sarah ficavam relembrando do beijo do dia anterior mais vezes do que ela gostaria, sentindo ainda a pressão dos lábios de Michael no seu e a sensação dos corpos deles colados. Depois de anos, ela reagia quase da mesma forma quando se tratava dele. Hathaway estava fazendo um bom trabalho mantendo a distância dele, nenhum dos dois cruzaram a linha da amizade desde a morte de Cami. Até ontem.

Cami. Depois de sete anos a perda dela ainda doía, a falta que ela fazia na vida de Sarah era enorme e a culpa sempre corroía ela de dentro pra fora. Canalizou a dor da perda para raiva e seus pés aceleraram, correndo cada vez mais rápido e não deixando margem para pensamentos indesejados. Ela estava acostumada a transformar qualquer sentimento de tristeza em raiva, afinal, aquilo a tornava mais forte, segundo seu pai.

John e Grace também não tiveram a oportunidade de ver a filha deles crescer e se tornar uma excelente líder. Sarah ainda tentava descobrir os mistérios da morte deles, mas ainda não obteve sucesso e sua sede por vingança crescia cada vez mais. Flashes de corpos jogados por toda a mansão, sangue manchando suas mãos e a visão embaçada tomou conta dela por alguns segundos. O casal passou o final de semana sozinhos na mansão, Sarah viajou para a casa do lago deles com Katherine. Quando voltou... estavam todos mortos.

A raiva se contorceu dentro do peito dela. Os policiais não chegaram a lugar algum, a cena do crime não tinha digitais ou qualquer resquício de DNA que não fosse das pessoas mortas. Quem quer que tenha matado eles, não roubou nada da mansão. Era definitivamente homicídio qualificado, concluíram rapidamente, mas o caso foi arquivado depois de meses, por falta de provas.

Sarah não ficou desapontada, sabia que eles não conseguiriam achar quem fez aquilo, porque era óbvio que era relacionado aos Bloods. Ao lembrar daquela época, pensava não só na falta que eles faziam, mas nas diversas vezes em que ela quase morreu, nem sempre por causa dos seus inimigos. As gangues encararam o massacre e a troca de líder como um enfraquecimento no poder dos Bloods e tentaram dizimar eles, mas não conseguiram.

Muita gente morreu, mas muitos sobreviveram e se mantiveram firmes ao lado de Sarah, a nova rainha deles. Hathaway dizimou diversas gangues pequenas e algumas que estavam há anos no mercado, fazendo jus ao seu codinome, Rainha Vermelha. Ela tinha muito mais sangue nas mãos do que qualquer outra pessoa, até mesmo que Clifford.

Um forte suspiro saiu pelos lábios dela antes que parasse na praça central do condomínio. O local estava cheio de mães com seus filhos, conversando e aproveitando o dia ensolarado. Sarah pegou sua garrafinha de água e tomou um gole generoso. Distraída com seus pensamentos, não viu o cachorro correndo em sua direção, apenas sentiu duas patas em sua coxa. Era um bulldog francês branco, com algumas manchinhas pretas pelo corpo, Hathaway achou adorável e fez um carinho atrás da orelha.

— Está perdido? — perguntou ao cachorro, que apenas balançou o rabo e lambeu a mão dela. Sarah olhou ao redor e não encontrou ninguém que parecesse preocupado com o sumiço dele. — Quer ir pra minha casa? Vem, me acompanha.

Sarah voltou a correr e o cachorro a acompanhou sem problema algum. Quando estavam chegando perto da casa da mulher, o cachorro simplesmente parou e correu na direção oposta. Hathaway parou, ouvindo um assovio um pouco longe de onde estava e mesmo forçando os olhos, não enxergou ninguém. Ela deu de ombros e entrou em sua casa, sentindo o corpo levemente exausto depois da corrida.

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