Capítulo Um

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Dias Atuais

A enorme mansão dos Hathaway não mudou nada desde que ela era criança. Quatro andares luxuosos e impecavelmente decorados, sem exagero algum. Sarah poderia passar os restos dos seus dias ali, pois a casa tinha tudo o que precisava: uma adega com muita bebida, uma sala de jogos e seu quarto. Talvez, em outra vida, Sarah realmente poderia viver desse jeito, sem se importar com nada, apenas ser o mais fútil possível e gastar todo o seu dinheiro com coisas desnecessárias como qualquer herdeira faria.

Entretanto, a vida dela era um pouco mais complicada. Algumas pessoas herdavam empresas, ou dívidas, ou apenas muito dinheiro. No caso de Sarah ela herdou uma gangue com uma reputação muito grande à zelar.

A primeira coisa que ela descobriu foi: ser a líder de uma gangue não era um trabalho simples. Na maioria das vezes a deixava tão exausta que vivia com um mau humor que seus amigos diziam ser crônico. O fato dela ter nascido dentro dos Bloods tornou as coisas um pouco mais fáceis quando precisou assumir a liderança. Os membros nem sempre a respeitaram no auge dos seus vinte anos, mas, quase dez anos depois e com seus pais mortos, as coisas mudaram bastante. Sarah era uma líder incomparável, os Bloods a temiam e a respeitavam na medida certa.

Uma risada de escárnio que quase saiu de sua boca enquanto encarava seu reflexo no espelho com mais atenção. Sentindo-se repentinamente cansada e com os pensamentos muito agitados, ela soltou o peso que estava em sua mão e sentou no equipamento de academia mais perto que encontrou.

Sarah respirou fundo, tentando organizar os seus pensamentos, que naquele dia estavam mais confusos que o normal. John cansava de dizer para ela que uma mente límpida era uma mente pronta para qualquer combate. Nem sempre ela conseguia controlar a confusão dentro de si e sabia que a falta de controle sobre si mesma não agradaria o seu pai. O peito dela se contorceu diante do pensamento, mesmo morto, a lembrança dele e de Grace a assombrava todos os dias.

Distraída demais consigo mesma, só escutou passos se aproximando quando a porta da academia se abriu. Sinceramente, mesmo se ela não tivesse ouvido com tanta atenção, saberia quem estava chegando. Era bizarro, mas sempre que seu melhor amigo estava por perto, o corpo dela entrava em alerta e ficava imediatamente agitado, uma reação que ela não entendia. Aliás, havia muitas coisas que Sarah não sabia explicar quando se tratava dele.

— Precisamos ir, a nossa reunião começa em uma hora. — A voz calma dele preencheu o ambiente silencioso.

Sarah levantou os olhos para encará-lo e ele arqueou uma das sobrancelhas em sua direção, uma pergunta muda. Michael queria saber se ela estava bem, depois de tantos anos de amizade eles facilmente se comunicavam através de olhares e para Sarah era muito mais fácil do que verbalizar o que estava sentindo. Os olhos em um tom verde água intensos e brilhantes que combinado com seu rosto redondo e bochechas levemente avermelhadas, dava um ar jovial a ele.

— Vou tomar um banho e me trocar — respondeu de uma forma mais fria do que pretendia.

Clifford a encarou por mais dois segundos antes de dar as costas e sair da academia particular dos Hathaway.

Sarah sentiu um estranho frio em seu corpo com a falta da companhia dele. No mesmo momento ela balançou a cabeça e fez o que sabia melhor: esconder qualquer resquício de sentimento de seu rosto e imaginou uma cobertura de gelo ao redor de seu coração. Aprendeu com dureza que seu cérebro devia ser a fonte das suas decisões e ações, não a droga do seu coração fodido.

Em tempo recorde, ela tomou um banho e se trocou, não esquecendo de esconder uma faca em seu coturno ou de seu coldre com a arma carregada na cintura. Assim que saiu do quarto, encontrou Michael indo em sua direção com um copo de café em mãos, ele estendeu para a mulher.

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