19 Anos Antes
A festa anual que a família Hathaway organizava era um evento muito chamativo e extremamente prestigiado por pessoas da alta sociedade. Vários advogados de diversos lugares do Estados Unidos iam até Los Angeles só para participar da festa para a caridade que John e Grace, a maior dupla de advogados de Sunny State, uma cidade pequena no interior da Califórnia, patrocinavam.
Apesar da boa comida e música agradável, nem todos os convidados estavam animados com a festa. Sarah Hathaway, a filha prodígio do casal, estava sentada na mesa colocada no centro do salão especialmente para a família anfitriã, sentindo-se extremamente entediada. A melhor amiga dela infelizmente não pode ir a festa, seus pais não deixaram, mas permitiram que Cami dormisse em sua casa mais tarde naquela noite e esse era o único motivo dela aguentar até o final daquela palhaçada. Se não tivesse aquilo como garantia, provavelmente já teria arruinado a festa de seus pais, porque mesmo sendo criança Sarah era assim: inconsequente e teimosa.
O motivo específico para a pequena Hathaway não gostar das festas que seus pais davam anualmente era óbvio. Sarah era apenas uma garotinha de dez anos e não poderia agir como tal. Muito pelo contrário, ela tinha que manter a postura ereta, ficar sentada na mesa principal e socializar com as pessoas, sendo gentil o tempo todo. Dez anos e a garota já tinha a pressão de ter uma maturidade muito acima do normal. Os pais dela sabiam disso, apenas não se importavam o suficiente para mudar aquilo.
John observava a filha de longe, os olhos dela encarando as pessoas do salão sem interesse algum, Sarah tinha um olhar de superioridade para todos que se aproximavam. Percebendo que a noite estava sendo mais desagradavel para ela que o normal, decidiu tentar conversar com ela um pouco para distraí-la um pouco. Sarah notou a movimentação de seu pai, assim como o sorriso diplomático que ele carregava no rosto enquanto ia em sua direção.
— O que está achando de tudo, querida? — ele perguntou com certa doçura pra filha, enquanto afagava levemente seus cabelos perfeitamente penteados.
— Uma chatice — ela respondeu com sinceridade, arrancando uma leve risada de John, Sarah era sempre extremamente honesta e direta. A garota franziu o cenho e olhou ao redor pra ver se tinha alguém perto deles. — Eu realmente prefiro quando você está me ensinando a lutar ou alguma estratégia, papai! — Sarah sussurrou de forma que só seu pai pudesse ouvir.
Imediatamente ele olhou ao redor, atento a qualquer movimentação próximo a eles. Depois de perceber que não tinha ninguém perto, abriu um sorriso cúmplice com sua filha.
— Eu sempre disse à sua mãe que bater nas pessoas é muito mais fácil do que lidar com elas — falou com certo humor na voz, mas rapidamente sua voz adquiriu um tom sábio quando ele completou: — Sarah, lembre-se que para ser uma líder, não basta apenas sair socando todo mundo. Você deve saber como conversar com as pessoas e manipulá-las à seu favor. Do que adianta vencer na luta corporal se sua estratégia não for boa o suficiente para manter a vitória?
— Isso significa que eu tenho que ser a mais inteligente? — a pequena perguntou fazendo um bico, pensativa.
— Exatamente! — John se inclinou na direção dela, fazendo um carinho em seu pequeno e delicado rosto. — Todo nosso império vai ser seu um dia e quando esse dia chegar, você tem que entender que às vezes a melhor forma de derrotar as pessoas, nem sempre é na agressão.
— Bom, até que faz sentido. — Ela fez uma pausa e logo em seguida olhou para o seu pai com uma carranca no rosto, cruzando os braços. — Mas se a pessoa me irritar, eu fico muito feliz em derrotá-la no soco. — Eles se encararam durante alguns segundos, antes de soltar uma gargalhada.
Naquele momento, John olhou para a filha com um aperto no coração pelo o que ela teria que herdar. Apesar de amar estar no poder, ele teve a opção de escolha. Sarah, entretanto, não teria.
— Às vezes a gente tem que abrir uma exceção, né? — Ele lhe deu um sorriso esperto e desviou os olhos para algum ponto do salão de festa. O sorriu sumiu de seu rosto na mesma hora e uma expressão indecifrável substituiu. — Já volto, princesa.
O homem não esperou nenhuma resposta, naquele momento pareceu pouco se importar com ela enquanto seguia com passos determinados até o fundo do salão. Os sentidos de Sarah se aguçaram e ela pressentiu que algo estava errado. A confirmação veio a seguir quando notou John falar com uma mulher que não conhecia. Os olhos espertos da garotinha notaram que a mulher não parecia uma advogada querendo discutir negócios. Aliás, ela não estava ao menos vestida elegantemente como a maioria das pessoas naquele lugar.
A pequena Hathaway analisou a expressão dos dois e, mesmo de longe, pôde ver que pareciam discutir alguma coisa. John olhou ao redor e quando percebeu os olhares curiosos de sua filha na direção deles. Ele pegou a mulher pelo braço, sem gentileza alguma e a arrastou para as portas do fundo. Sarah viu os dois sumirem de seu campo de visão, sentindo seu estômago embrulhar levemente. O que estava acontecendo?
A mente da garota estava em conflito, tentando decidir o que fazer naquele momento. Procurou sua mãe ao redor e encontrou-a entretida demais em uma conversa com um homem de terno, alheia a situação que acontecia no fundo do salão. Decidindo ouvir sua intuição, Sarah se levantou de onde estava e foi até as portas do salão. Quando estava em frente a porta, encarou-a por alguns segundos, tentando decidir se abria e tentava espionar o que estava acontecendo ou não.
— Você precisa de ajuda? — Ouviu uma voz meiga e doce.
Sarah virou a cabeça em direção da voz com rapidez, sentindo sua visão falhar antes de focar no rosto de uma menina. Hathaway congelou no lugar enquanto analisava a criança de cima a baixo. Ela era provavelmente um pouco mais nova do que Sarah, mantinha um sorriso deslumbrado nos lábios e tinha grandes olhos verdes. Um arrepio se passou pelo corpo dela, sentindo os olhos analíticos da garota em si.
Hathaway não deixou de notar que a menina também não estava vestida de acordo com a festa, usava apenas uma calça jeans de lavagem clara e uma blusa de moletom surrado. Os cabelos dela estavam presos em um rabo de cavalo alto, com alguns fios soltos pelo rosto angelical. Por instantes, Sarah pensou estar olhando para uma versão sua, porém mais nova.
— Hm, não. — A voz dela saiu falha, mas Sarah logo se recompôs e lançou um olhar de dúvida para a porta. — Só estava procurando meu pai.
— Acho que ele está lá fora falando com minha mamãe — a menina respondeu de forma amigável. — Se quiser, posso chamá-los.
— Não! — Sarah protestou, elevando um pouco o tom de voz, com medo de ser descoberta porque não queria levar uma bronca. — Deixa pra lá, obrigada.
Com um aceno de cabeça, Hathaway se despediu rapidamente e saiu andando em direção à sua mesa, sem esperar uma resposta. O coração dela batia rapidamente no peito, sem saber exatamente o motivo e pensando que talvez seja alguma coisa que envolva o negócio da família, por isso, decidiu não se envolver. Enquanto voltava para sua mesa sentiu os olhos de sua mãe queimarem em seu rosto. Ela lançou um olhar para Sarah e em seguida olhou para o fundo do salão. A raiva claramente atingiu sua mãe e em poucos segundos Grace estava ao seu lado.
— Quem é aquela? — indagou com rispidez e Sarah ficou tensa na mesma hora.
— Não sei — respondeu com sinceridade e deu de ombros.
Grace respirou fundo pelo menos três vezes antes de pegar a mão de Sarah e a levar embora do evento beneficente dos Hathaway. O motorista delas estava a postos e a garota ficou quieta enquanto ouvia sua mãe discutir fervorosamente pelo telefone com alguém. Enquanto isso, em sua mente não parava de ecoar uma simples pergunta: Quem eram aquelas duas mulheres?
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Red Queen
ActionApós a trágica morte dos pais, a jovem e determinada Sarah se vê forçada a assumir a liderança da perigosa gangue Bloods, herdando não apenas a posição de líder, mas também o pesado legado de seus pais. No entanto, ao mergulhar mais afundo no mundo...