Prólogo

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😈Poncho:

No trono de obsidiana, observo a cidade à minha frente como um rei sobre meu domínio de sombras. Aqui, entre os becos escuros e os prédios imponentes, reino tanto como senhor do inferno quanto como líder temido na máfia. A luz da lua se filtra pelas janelas altas, lançando sombras dançantes sobre as paredes adornadas com símbolos antigos e armas afiadas.

Meus olhos, brilhando com uma intensidade que não é completamente humana, refletem a dualidade da minha existência. Desde aquela noite fatídica, onde meu nome foi invocado em meio a incensos e murmúrios proibidos, a imagem da mulher que vi escondida entre as sombras não me deixa em paz. Ela é uma intrusa em meu mundo de segredos e pecados, uma testemunha indesejada que agora se tornou uma obsessão.

-Humanos! Como sempre intrusos. -Resmungou ele-

Enquanto aguardo informações sobre a mulher que ousou vislumbrar minha verdadeira forma, reflito sobre o jogo perigoso que começou a se desenrolar. Ela representa uma ameaça não apenas à minha identidade oculta, mas ao equilíbrio frágil da própria Terra . Ser rei no inferno exige astúcia e brutalidade, enquanto ser o chefe da máfia demanda lealdade e controle absoluto.

-Você realmente tem que a eliminar? -Perguntou Christopher o meu Consigliere. - O soberano poderia só apagar sua memória.

-Não é assim que funciona. -Digo de forma seca.- Nunca é apagado totalmente, porque fica gargalo no seu subconsciente.

-Entendo... -Disse Christopher.-

O subchefe, um homem de colorido e postura rígida, inclina a cabeça em sinal de compreensão.

-Vou colocar nossos melhores homens nisso, Dom. Não descansaremos até termos cada detalhe. -Disse Christian determinado.-

Ao seu lado, o capitão, um indivíduo de aparência imponente com um olhar calculista, assente.

-Temos nossos contatos nas ruas. Em breve teremos algo concreto. -Disse o Capitão.-

Um soldado, jovem e determinado, ergue-se com uma determinação feroz.

-Eu vou atrás dela pessoalmente. Ela não vai escapar. -Disse o soldado.-

Poncho acena, dando-lhes permissão silenciosa para agir. meus olhos então se fixam no associado, um homem nervoso que evita seu olhar penetrante.

-E você, o que sabe?" -Perguntei sério.-

O associado engole em seco antes de falar, nervoso.

-Ela esteve no mosteiro abandonado. Eu a vi com meus próprios olhos, Dom. Estava lá quando tudo aconteceu. -Disse ele com a voz trêmula.-

Um sorriso sutil brinca nos meus lábios, satisfeito com a informação obtida.

-Vocês têm suas ordens. Tragam-me o que precisamos. -Ordenei.-

Com essa última ordem, os homens se retiram, cada um determinado a cumprir seu papel na busca pela mulher que desafiou o equilíbrio de poder sob sua égide.

-Posso fazer uma pergunta bem imbecil? -Perguntou Christopher com receio da minha resposta.

-Prossiga. Aproveita o meu bom humor. -Digo.-

-Porque não usa seus poderes? Somos demônios.. -Questionou ele- temos recursos à nossa disposição que nenhum mortal pode igualar.

Christopher foi o único demônio que permitir vim comigo, porque ele foi o único que aceitou peitar o todo poderoso junto comigo e desde então sua fidelidade o fez se tornar mais um demônio, mas o meu melhor amigo. Sendo o único que permito que me questione dessa forma tão íntima.

- Usar o poder dos demônios pode atrair atenção indesejada. Podemos perder o controle sobre quem mais ficará sabendo da nossa verdadeira natureza. É um risco que pode nos expor além do necessário.

Christopher assentiu lentamente, reconhecendo a sabedoria nas palavras de seu Dom.

-Então, faremos do jeito tradicional. Mobilizem nossos melhores homens, empreguem nossos contatos e mantenham isso fora dos olhos curiosos. -Disse ele.-

Com essa decisão tomada, os homens se dispersaram, cada um assumindo seu papel na caçada implacável pela mulher que ameaçava desvendar os segredos mais profundos da nossa organização e me deixando sozinho. No mundo sombrio da máfia Cosa Nostra, onde os demônios e humanos coexistem, minhas decisões eram sempre calculadas, equilibrando o poder oculto com a necessidade de discrição absoluta.

-De onde conheço aqueles olhos? -Sussurro.

Aquele olhar me fez senti uma estranha familiaridade. Eu os conhecia de algum lugar, mas de onde? A lembrança veio de repente, como um relâmpago iluminando a escuridão. Eu me lembrei de uma adolescente que sempre me observava de longe, com um olhar carregado de uma paixão juvenil. Naquela época, eu achava cativante, embora nunca tivesse dado muita atenção. Ela tinha um amor platônico por mim, algo puro e inocente. Agora, aqueles mesmos olhos voltaram a me encarar, mas cheios de medo, pavor e pânico.

-Claro! -Exclamei.

Um sorriso maléfico se formou em meus lábios, fazendo-me saber exatamente o que deveria fazer.

-Cordeirinho! cordeirinho! -exclamei com sorriso quase diabólico no rosto.


🐏Any:

Eu me escondi num canto escuro de um apartamento abandonado, meu coração ainda batendo descompassado enquanto tentava processar o horror que testemunhara poucas horas atrás. Aquele ritual satânico, com seus símbolos profanos e vozes sussurrantes, havia rasgado o véu da minha realidade, revelando um mundo de sombras e medos que eu nunca imaginei existir.

Vi um demônio de verdade. Não na tela de um filme de terror ou nas páginas de um livro macabro, mas ali, diante dos meus próprios olhos incrédulos. Seus olhos ardiam com uma intensidade infernal, sua presença emanava um frio gélido que cortava até os ossos. Eu sabia, sem dúvida alguma, que não era uma ilusão ou um truque de luz. Aquilo era real, e o que era pior, ele tinha me visto.

Agora, escondida na escuridão sufocante, eu me culpava por ser tão curiosa. Por que não ignorei o meu sexto sentido gritando para não entrar naquele mosteiro abandonado? Por que não resisti à tentação de espiar o que acontecia do outro lado da porta fechada com tantos cadeados enferrujados?

Eu sabia que ele viria atrás de mim. Não havia outra explicação para aquele olhar penetrante que trocamos quando nossos caminhos se cruzaram. Ele me viu. Ele sabia.

O medo se misturava com a necessidade urgente de entender o que havia testemunhado. Eu precisava de respostas, mesmo que soubesse que cada resposta poderia me levar mais fundo para um abismo do qual não haveria retorno.

E agora, no silêncio opressivo do meu esconderijo improvisado, eu rezava para que minhas escolhas não me levassem a um destino ainda mais sombrio. Cada sombra que dançava nas paredes esfarrapadas me lembrava da presença do desconhecido que agora me caçava, uma criatura que pertencia apenas a pesadelos antigos e histórias de terror.

Eu era uma observadora indesejada em um mundo que deveria permanecer oculto. Mas, ao mesmo tempo, eu era impulsionada por uma curiosidade insaciável, um desejo de desvendar os mistérios proibidos que a maioria das pessoas preferiria ignorar

Enquanto refletia sobre meu próximo passo, uma ideia começou a formar-se em minha mente. Como se deus estivesse soprando em meus ouvidos. Onde mais eu poderia buscar refúgio seguro, além da casa de Deus? O monastério da minha igreja em minha cidade natal. Era o lugar onde eu sempre me sentia acolhida e protegida, um santuário de paz que parecia impenetrável ao mal que agora me perseguia.

-Óbvio! Obrigada senhor por sempre me mostrar o caminho. -Exclamei em total agradecimento.

Com determinação renovada, decidi que era minha melhor chance de escapar do demônio que me caçava. Era hora de voltar às minhas raízes, de buscar proteção onde a fé e a devoção podiam ser minhas aliadas na luta contra forças sobrenaturais que desafiavam a compreensão humana.

Em meio à escuridão e ao medo crescente, fiz o meu plano. Eu partiria imediatamente para a cidade natal, para o refúgio seguro do mosteiro que conhecia desde a infância. Ali, esperava encontrar não apenas segurança física, mas também respostas para os mistérios que agora me perseguiam.

Sagrado Profano - PonnyOnde histórias criam vida. Descubra agora