Capítulo 4: '(Mateus 4-10)'

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"Então Jesus ordenou: 'Retire-se, Satanás! Pois está escrito: 'Adore o Senhor, o seu Deus, e só a ele preste culto.'"

(Mateus 4-10)

🐏Any:

Ao ouvir meu nome sair dos lábios de Padre Alfonso na penumbra, Tentei enxergar seu rosto na escuridão, mas só conseguia discernir a silhueta imponente dele.

Acreditei que ele havia ido vestir seu hábito, para depois irmos ao confessionário e finalmente conseguiria tirar o peso daquele segredo que já estava afetando meu subconsciente.

Não podia negar, que Alfonso ainda mexia comigo e isso me fez levar a mão até o meu nariz e inspirar o cheiro dele. Era uma mistura de sabonete, creme de barbear e colônia e isso me fazia ficar tonta.

-Céus, Anahí, o que você está fazendo? -Exclamei comigo mesmo. -Ele é padre. Me perdoa senhor...

Quando estou perdida em meus pensamentos, sinto alguém entrelaçar a mão na minha e me puxar para o lado esquerdo do corredor. Mas reconheço o perfume e o toque inconfundível.

-Vamos. Antes que nos peguem aqui. -Disse Poncho- É estritamente proibido circular pelos corredores depois da hora de recolher.

Poncho se movia com uma graça sobrenatural, quase como se flutuasse pelo corredor escuro. Suas mãos firmes, mas gentis, seguravam as minhas, guiando-me com precisão e confiança. Seus passos eram silenciosos, apenas o som sutil de sua respiração.

As tochas ao longo do corredor lançavam uma luz trêmula e insuficiente, mal iluminando as paredes de pedra que pareciam se estender infinitamente. A grandiosidade do lugar era esmagadora, com tetos altos que desapareciam nas sombras e corredores que se ramificam em todas as direções, mergulhados na escuridão.

Poncho parecia conhecer cada passo, cada pedra, movendo-se com uma certeza que era quase desconcertante. Ele não hesitava, não vacilava, conduzindo-me com destreza através do labirinto sombrio. Finalmente, uma luz mais forte surgiu à frente, crescendo à medida que nos aproximávamos.

Chegamos a uma grande porta de madeira trabalhada, que Poncho abriu com um empurrão firme. Dentro, o espaço era vasto, com bancos de madeira escura e vitrais que contavam histórias de santos e pecadores. A atmosfera era pesada, carregada de segredos e pecados não confessados. No fundo da igreja, quase engolido pelas sombras, estava o confessionário.

Poncho parou e olhou para mim, seus olhos refletindo a luz fraca das tochas. Ele fez um gesto gentil, indicando que eu deveria entrar, sua presença imponente, mas reconfortante.

Aproximei-me do confessionário, sentindo o peso do olhar de Poncho em minhas costas. O silêncio da igreja era quase palpável, cada passo ecoando nas paredes de pedra. Quando finalmente cheguei à pequena cabine de madeira, hesitei por um momento, a mão pairando sobre a maçaneta fria.

Entrei e fechei a porta atrás de mim, sentado no banco acolchoado. A grade entre mim e o outro lado do confessionário parecia uma barreira tênue entre os mundos do sagrado e do profano. Do outro lado, ouvi o leve som de movimento, seguido pela voz tranquila e familiar de Poncho.

-Minha filha, como posso ajudá-la hoje? -Sua voz quebrou o silêncio, embora serena, carregava um peso de autoridade e sabedoria que eu sempre associei a ele. Por um momento, esqueci que ele era apenas um guia; agora, ele era um confessor, um padre que oferecia redenção.

Respirei fundo, sentindo um nó de ansiedade no estômago. Porque a coragem que brotou em mim começou a se esvair com o vento, mas eu sabia precisa por aquilo para fora ou ao contaria eu iria enlouquecer.

Sagrado Profano - PonnyOnde histórias criam vida. Descubra agora