Capítulo IX - 🌊🚢

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Respirações ofegantes. Corpos molhados. Adrenalina e medo. Água gélida por todo lado.

Tebet e Thronicke haviam escapado do César, porém ainda existia um grande inimigo a ser enfrentado. Ambas encontravam-se em meio a corredores do deck inferior, quase submersos, procurando por algum tipo de saída. Após tanto correr alcançaram uma passagem com uma pequena escadaria. Por alguns segundos, pensaram ser a saída para a salvação, contudo um portão de grade estava ali, para destruir qualquer tipo de esperança. Não poderiam voltar, o corredor abaixo já estava completamente submerso.

Sem alguma alternativa, chacoalhavam o portal de metal, gritando por socorro. Entretanto para alguns milagres acontecem, sendo Tebet e Thronicke o alvo dessa vez. Um comissário de bordo surgira no corredor do outro lado, procurando também por uma saída. 

"Ei! Abra a grade, por favor!" Tebet gritou para o rapaz antes que o mesmo fugisse dali. Olhou para as mulheres hesitantes, se dando por vencido logo em seguida. Foi em direção ao portão, retirando um molho de chaves de seu bolso.

O rapaz, com as mãos tremulas, tentava abrir o portão a todo custo. Tentando chave por chave, até o momento em que o molho de chaves escapou de suas mãos e caiu no chão, se tornando invisível por conta da água quase ultrapassando sues quadris.

"A chave caiu!" O rapaz dissera suas últimas palavras para as garotas, antes de lançar um olhar amedrontado e sair correndo dali.

"Por favor, espera!" Implorou Vieira. A Simone logo tentou forçar o portão novamente, porém sem sucesso algum. A mesma parou pra pensar por um segundo, em seguida mergulhou até o fundo e passou a procurar pelas chaves. As encontrou centímetros de distância do portão. A maior rapidamente agarrou o instrumento de metal e voltou à superfície.

"Eu achei! Qual delas é, Thronicke?!" Perguntou ofegante, enquanto tentava regular a respiração.

"A menor! Tente a menor!" Tebet , sem perder tempo, passou seu braço pelas grades, tentando encaixar uma das chaves menores na fechadura.

"Depressa Tebet!" Thronicke pedia, após a água alcançar seus pescoços. Tebet logo sentiu que a chave havia encaixado corretamente, então girou apressada, finalmente abrindo o portão. A mesma logo afastou a Soraya dali e a seguiu até a escada, ambas rapidamente correram para longe do local, que desta vez estava completamente inundado.   

[...]

A forte ambição de querer salvar a si mesmo em cada pessoa que habitava o convés tornava o local a própria personificação do caos e selvageria. Alguns se seguravam em cordas e outros caiam no mar. Os restantes dos botes salva-vidas eram arrancados à força pelos tripulantes desesperados.  Estava complicado até mesmo para os comandantes, que já não conseguiam manter o controle da situação.

"Seu nojento! Quer dizer que ninguém aqui vai ter a chance de sobreviver?!" Davi berrava ao oficial que ameaçava a todos com seu revolver, para que não alcançassem o bote.

"Eu atiro em quem tentar passar por mim! Para trás!" Avisou inquieto.

Após voltar para o convés, Batista atravessava a multidão à procura do oficial que fizera um "trato" horas antes, o encontrando logo em seguida com o revolver em mãos. O mesmo ficou rapidamente ficou confuso depois de receber uma ordem do homem para que se afastasse.

"Nós tínhamos um trato, lembra?" Indagou. McMuller retirou a quantia recebida pelo mais novo e lançou contra seu rosto.

"O seu dinheiro não pode mais salva-lo, nem tampouco a mim." Declarou, o empurrando para trás. O César ficou desnorteado por breves segundos.

Os tripulantes empurravam uns aos outros. Davi buscava manter-se no lugar para que não fosse morto, entretanto o mesmo é empurrado sem que percebe-se, consequentemente fazendo o oficial disparar contra si, o acertando no abdômen. Os gritos logo se tornaram mais intensos.

"Davi!" Pacheco prontamente se aproximou tentando socorrer o rapaz caído. "Não! Davi!" McMuller logo ficou atônito com o que acabara de fazer. Perdido, o mesmo observa todo o local em que estava, enquanto se aproximava para uma ponta do navio. Avistou seu parceiro que impedia a passagem do outro lado e fez o sinal de continência. O mesmo gritou para que não o fizesse, porém de nada adiantou. Outro disparo pôde ser ouvido novamente, sendo seguido de outro corpo que caia sobre as águas.

[...]

Uma direção. As pessoas corriam apenas para uma direção. Logo atrás, seus maiores medos. A morte. A inevitável morte. A popa do nosso belo transatlântico fora preenchido pelas águas. Sua proa apontada pra o céu, se virando cada vez mais. A gravidade os puxavam. Como um cowboy, que enlaçava seu alvo e o arrastava.

A Simone e a Soraya faziam parte da multidão eufórica. Corriam em direção a qualquer grade livre para se agarrem. As mãos entrelaçadas impedia que qualquer uma que fosse se afastasse ou se perdesse entre as pessoas.

"Tebet... Foi aqui que nos conhecemos." Vieira sussurrou estremecida. Ambas se segurando nas grades de cor branca. Em resposta, a Simone não deixou de depositar um beijo na sua testa. Puxou seu corpo, a aconchegando em seus braços e transmitindo segurança.  

"Hey... Thronicke..." Tebet dissera de um modo tremulo por conta do frio. A menor mirou seus olhos novamente, desorientada e estremecida. "Aconteça o que for, vai ficar tudo bem... Saiba que te amarei para sempre e em todas as vidas..." Toda a intensidade transmitida nos seus olhos fora devolvido por Vieira. Não era preciso palavras.

E como um estouro de uma lâmpada, rápida e repentina, tudo se apagou trazendo a tona a escuridão da noite. Mais e mais pessoas caiam sobre o mar. Cena frustrante para quem quer visse. O navio estava sendo sujeito a forças opostas extremas. A proa inundada puxando-o para baixo enquanto o ar dentro da popa o mantinha na superfície. E como resultado de toda a situação, o navio se partiu ao meio. Em dois pedaços. Tão Lentamente que era agonizante. Sua parte traseira permaneceu ligada com a popa, puxando a segunda parte até um ângulo bem alto antes de se soltar, deixando a popa flutuando.

"Soraya! O navio vai nos puxar para baixo! Respire bem fundo quando eu disser!" Vieira apenas concordou com a cabeça. As garotas observavam o navio ser sugado cada vez mais.

"Vamos conseguir, Thronicke! Confia em mim!"

"Eu confio em você!"

Até que logo o último pedaço do navio fora engolido pelo vasto oceano.

Titanic ( SIMORAYA ) Onde histórias criam vida. Descubra agora