De manhã encontrei Luísa a preparar o café.
- Bom dia Luisinha. - Era assim que era tratada a nossa funcionária. Está connosco desde que eu me lembro. Já cá estava antes de eu nascer e com a morte da minha mãe foi nela que o meu pai se apoiou.
- Bom dia menino. Sente-se que eu já o sirvo.
Gostei muito da canção que cantou ontem na TV. Devia cantar mais vezes.- Achas?
- Tem uma voz linda. Eu sei para quem era a canção. Para a menina Ju, não era?
- Era sim, Luisinha. Pena que ela nem deve ter visto.
- Eu gosto muito da menina Ju, mas também entendo porque desapareceu.
- Talvez não goste de mim. Acontece por vezes.
- Ou seria pela vida doida que o menino tinha?
- Tinha. Não tenho mais.
- Mas ela não sabe. Porque não vai atrás dela?
- Porque sou orgulhoso, cobarde e idiota. Tenho medo.
- E entretanto o tempo passa e quando finalmente tomar consciência ela pode estar com outro.
- Ninguém garante que isso não tenha sucedido já.
- Só sabe se for ver. Ao menos sabe onde ela está, para onde foi?
- Não, mas tens razão. Vou procurá-la. - Rodolffo levantou-se, deu um beijo na bochecha de Luisinha e saiu.
Já no escritório decidiu ligar para Bianca e convidá-lá para almoçar.
- Que tens em mente Rodolffo? Ex das minhas amigas para mim são mulheres.
- Não sejas parva, Bianca. Quero falar contigo sobre a Ju.
- Qual é a ideia?
- Preciso da nova morada dela, mas conversamos ao almoço.
- Está bem. Às 13 horas aqui no restaurante em frente da casa da Ju.
Assim que Rodolffo desligou o telefone eu liguei para a Ju. Não ia dar-lhe indicação da morada sem que ela me desse autorização.
- Não precisas, amiga. Diz-lhe que na próxima semana eu vou aí e se ele ainda quiser, nós conversamos.
- Vens cá? Que surpresa?
- Preciso ir, amiga, mas para ti não vão ser boas noticias. Eu estou a pensar vender essa casa. Preciso do dinheiro para viajar.
- Vais viajar para onde?
- França e Itália. Quero fazer umas férias, ver exposições, visitar museus.
- Queres fugir, não?
- Não. Por isso aceito falar com ele, mas decidi que quero viajar. Afinal, nem sei dizer a última vez que fiz férias.
- Preciso começar a procurar outra casa.
- Vamos conversar primeiro. Depois decides.
- Vens em que dia?
- Segunda perto das 11 eu chego aí. Vou no trem que chega mais ou menos a essa hora.
- Queres que te apanhe na gare?
- Não. Eu pego um táxi.
- Então está bem. Um beijo e até segunda.
- Beijo. - respondeu Juliette desligando de seguida. Hoje ainda era quarta por isso tinha muito tempo para me preparar para conversar com ele.