Capítulo12

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| Kenma Kozume
E foi assim que tudo começou, no dia que descobrimos que a família do Bokuto controlava toda a cidade e as coisas ruins que nela aconteciam. Foi com eles que meu pai fez a dívida de meio milhão, e são eles que agora me querem na equipe.

O platinado tinha um legado nas costas, mas não queria fazer parte de tudo aquilo, e seu pai achou que seria uma boa ideia me usar para isso. Tanto para convencer Bokuto, quanto para ficar ao seu lado no comando.

Aquilo era insano, uma mudança brusca de cenário e realidade. Meus pés mal conseguiam me manter de pé, e tudo estava embaçado. Mas eu precisava ser racional, tomar a decisão correta e não me levar pelas emoções

Não tinha para onde correr, eu realmente tinha pessoas de olho em mim graças aos serviços que fiz para conseguir o dinheiro, e se não fizesse isso não teria como pagar a dívida do meu pai.

E se eu recusar sua proposta, também corria risco de alguém se machucar.

Então, me juntar a organização era o menos perigoso para todos.

Por enquanto.

Esse seria o meu plano, até analisar melhor as coisas e encontrar uma nova saída.

-Você não pode estar falando sério sobre isso, Kenma. - A voz de Bokuto me trouxe de volta para realidade. - Meu pai é maluco, você não faz ideia de como é a nossa vida de verdade!

Ergui meus olhos até suas íris amareladas, notando como elas praticamente tremiam de raiva enquanto ele ainda segurava a arma contra o pai.

-Eu vou pensar. - Respondi firme e o garoto ficou ainda mais incrédulo. - Entrarei em contato te informando sobre a minha decisão.

Kuroo se mantinha em silêncio do meu lado, com o olhar atento a tudo que acontecia a nossa volta.

-Bom garoto, você tem o sangue frio que precisamos para fazer parte desse mundo. - O velhote sorriu e se preparou para sair, tocando de leve meu ombro antes de passar por nós em direção a porta. - Vamos, filho. Abaixe essa arma, todos aqui sabemos que você não vai usá-la.

Quase pude ouvir o ranger de dentes do meu amigo quando ele guardou a pistola e, contrariado, seguiu seu pai para fora.

Assim que os dois se afastaram minhas pernas perderam as forças, e eu caí de joelhos no chão, sentindo todo peso daquela situação de uma vez.

-Kenma! - E antes mesmo que eu tocasse o chão, ele me segurou, me mantendo sob seus braços enquanto eu desabava. - Eu tô aqui. Vai ficar tudo bem, eu tô aqui.

Meu pulmão parecia incapaz de funcionar, buscando desesperadamente um pouco de oxigênio, como se nós estivesse em baixo d'água.

Kuroo me envolveu em um abraço, praticamente me colocando sob seu colo como uma criança indefesa, e lá eu fiquei.

-Isso é perigoso, Kozume..- Sua voz era preocupada, mas não brava.

Por mais que ele estivesse borbulhando de raiva nesse momento, ele apenas ficou do meu lado.

Eu não merecia, e talvez nunca vou merecer metade do que ele sente por mim.

Não tive noção de tempo enquanto estavam ali, só sei que em algum momento meu ar voltou.

Aos poucos, consegui voltar a respirar e de alguma forma o garoto foi a resposta pra isso.

-Obrigado, Kuroo. - Agradeci meio sem jeito, após me sentir capaz de levantar sozinho.

-Eu tô com você, Kenma... - Ele passou a mão de leve no meu rosto, como um carinho. - Isso tudo é um pesadelo mas você não está sozinho. Até na sua decisão mais idiota, eu vou estar com você para te proteger.

Balancei a cabeça em confirmação, sinalizando que eu sabia daquilo.

E esse era o meu problema principal.

Eu não podia deixar ele continuar com isso, cada vez mais as coisas estão ficando piores e essa merda não é dele.

Eu não tenho escolha, estou preso nisso. Mas ele não, Kuroo deve ser livre e ter a vida que merece. Não posso deixar ele continuar me encolhendo e se afundando nisso comigo.

Eu já tinha tentado conversar, implorado para ele parar com isso e não se envolver. Mas apesar disso tudo, ele ainda continuava, ele ficaria do meu lado.

O problema é que eu sei que ele fala sério quando diz que vai até o fim comigo. Kuroo tomaria um tiro no meu lugar se precisasse, e apesar disso ser romântico e bonito, é mortal.

Esse amor que ele sente pode mata-lo se ele continuar com isso.

E isso é justamente o tipo de coisa que eu não posso deixar acontecer, porque situáveis perigosas não vão faltar e se ele se machucar tentando me proteger....

Eu não posso permitir isso.

Por mais que eu precisasse dele do meu lado para manter minha sanidade, sua segurança sempre virá em primeiro lugar pra mim.

Eu precisava de um plano, eu tinha que sumir e só pensar em tê-lo na minha vida quando ela não fosse uma ameaça para o garoto.

Talvez em uma vida diferente, nos poderíamos ficar juntos.

Eu precisava deixá-lo, mas não simplesmente acabar com nossa relação, eu precisava ir embora.

E foi nesse plano que eu fiquei pensando durante o resto daquela noite, mesmo com o Kuroo dormindo ao meu lado na cama a primeira vez, minha mente não conseguia descansar enquanto não tivesse tudo organizado para ir embora.

O garoto se remexeu ao meu lado e eu respirei fundo, encarando o teto.

-Se você não está conseguindo dormir porque eu estou aqui, eu volto pro colchão. - Ele disse ainda de olhos fechados, como se tivesse algum tipo de sexto sentido.

-Até que não é tão ruim. - Brinquei tirando uma risadinha baixa dele.

-Você.. - Kuroo tocou meu queixo com apenas um dedo, me fazendo olha-lo nos olhos. - Falou sério hoje?

- Eu vou pensar, sei dos riscos..

-Não. - O garoto me interrompeu e eu franzi as sobrancelhas confuso. - Não estou falando sobre isso. Quero saber se você é meu, ou só disse aquilo por conta do momento..

Minhas bochechas esquentaram e eu mordi o lábio um pouco envergonhado.

Eu tinha dito aquilo porque eu queria ser dele, por mais que não entendesse 100% dos meus sentimentos eu não conseguia negar que existia algo.

Kuroo me fazia sentir muitas coisas, a mais diferente delas foi ciúmes, que até então eu não sabia como era.

Eu nunca tinha ligado para essas coisas, mas com certeza algo borbulhou dentro de mim ao vê-lo sendo tocado por outra pessoa. Era uma vontade possessiva e até primitiva de tê-lo só para mim, marcá-lo como meu e não deixar que mais ninguém o fizesse.

-Eu sou seu, Tetsurō. - Disse baixinho e ele sorriu fechando os olhos, caindo no sono de novo.

Mas você nunca vai poder ser meu.

Before A War For YouOnde histórias criam vida. Descubra agora