Dente de Sabre vs o Urso

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Sanemi Shinazugawa caminhava cauteloso pela floresta montanha acima. Quase 1 metro de neve acumulada dificultava sua caçada. O vento não era tão forte, mas machucava seu rosto à medida que subia a montanha em busca de javalis e cervos.

Sua família era grande e o trabalho de vender lenha do seu pai, não era o suficiente para sustentar seus 7 filhos. Sanemi já tinha experiência com caça e vendia peles na cidade grande, mas era a primeira vez que estava sendo obrigado a caçar no inverno. Seu pai se machucou e não podia trabalhar, Genya, seu segundo irmão, decidiu cortar lenha para vender também, os gêmeos Teiko e Hiroshi aprenderam a fazer casacos com as peles que restavam para vender no vilarejo, Sumi e Shuya ajudavam a cuidar de Koto que era o bebê da família. Sem comida, com uma pessoa doente e 8 bocas para alimentar, Sanemi decidiu que era melhor enfrentar lobos, raposas e ursos para não morrerem de fome antes do inverno acabar.

Como se tudo isso não fosse incentivo o suficiente, Sanemi era o primogênito, o único ômega da família Shinazugawa depois de sua falecida mãe. Tinha um dever a cumprir, Genya só tinha 16 anos e não tinha como subir a montanha para caçar, era o segundo mais velho e precisava ficar em casa para proteger a família de um possível ataque. Então o frio que deixava seu corpo lento e dormente, não era o suficiente para lhe deter.

O som de galho quebrando a sua direita o fez paralisar. Se agachando ali mesmo onde estava, Sanemi olhou para a direção de onde veio o som com sua besta em punho. Flechas feitas de carvalho com pontas de ferro, uma pasta fina cobria a ponta com veneno que agia rapidamente para adormecer os sentidos dos animais.

Olhos brancos como a neve lhe encaravam há poucos metros de distância. Sanemi prendeu a respiração quando o dono daqueles olhos se ergueu atrás dos arbustos. Um urso enorme de pelos pretos com mais de 2 metros de altura, suas patas eram maiores que a cabeça de um homem adulto e esmagaria Sanemi com pouco esforço. O dano de suas flechas não o mataria rápido o bastante, o veneno não o conteria a tempo, aquele urso iria lhe matar. Então um latido seguido de um rosnado veio de um ponto atrás do ômega. Lentamente, Sanemi girou o pescoço e olhou por sobre seu ombro. Um dente de sabre, um felino enorme, de pelos brancos, com presas gigantes e quase do tamanho do urso.

A notícia boa, o urso e o dente de sabre eram arqui-inimigos.

Notícia ruim, Sanemi era o lanche pelo qual iriam brigar.

Mas o ômega não iria perder a chance pequena de fugir. Soltando sua besta com cuidado para diminuir o peso que carregava, Sanemi se preparou. O dente de sabre rosnou mais alto e o urso rugiu, eles avançaram em direção ao humano pequeno ao mesmo tempo. Esperando eles estarem bem perto, Sanemi se jogou para o lado e saiu rolando. Os dois animais se encontraram e começaram a brigar. Sem olhar para trás, Sanemi correu montanha abaixo com toda a energia que lhe restava. Seus pulmões queimavam, suas pernas doíam e nada disso o fez desacelerar. Podia ouvir os rugidos e rosnados, uma briga de gigantes pela comida. Os galhos secos e arbustos densos lhe faziam tropeçar vez ou outra.

Sanemi caiu no chão quando tentou frear a si mesmo de forma abrupta. Outro dente de sabre surgiu à sua frente. Aquela coisa era mostruosa, as presas grandes que iam até a ponta do queixo, eram pontudas demais. Puxando sua lâmina, o ômega encarou aqueles olhos acinzentados e famintos, não seria presa fácil para aquele predador.

— Eu não tenho medo de fatiar você - alertou Sanemi ofegante.

O dente de sabre avançou, as garras prontas para rasgar seu peito e expor seu coração. Girando sobre a neve, o ômega conseguiu acertar uma das patas. A neve rapidamente se tingiu de vermelho e fez o animal rosnar alto. Continuando seu ataque, ele levantou a pata novamente. Sanemi ergueu os braços para se defender. Sua túnica e seu casaco grosso rasgaram como se fossem panos vagabundos, o ardor em seu braço esquerdo foi o suficiente para lhe fazer gritar de dor. Levantando com pressa, Sanemi se jogou em uma árvore torta e começou a subir com destreza. O animal encarou seus movimentos com atenção até que Sanemi alcançou o mais alto galho e sentou-se. Estava há quase 10 metros do chão.

O guardião da MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora