No dia seguinte, Simone estava sozinha no ginásio, ensaiando sua rotina de solo. Os movimentos eram precisos, elegantes, como se cada passo estivesse perfeitamente sincronizado com a música que tocava ao fundo. A concentração era total, e ela parecia alheia a tudo ao seu redor.
Rebeca chegou ao ginásio e parou na entrada, seus olhos fixos em Simone. A força e a graça de Biles sempre a impressionaram, mas naquele momento, havia algo a mais. Rebeca ficou ali, hipnotizada, incapaz de se mover. O jeito como Simone dançava no solo, como se estivesse em seu próprio mundo, era de tirar o fôlego.
Ela queria sair dali, queria evitar qualquer contato que pudesse trazer à tona os sentimentos complicados que havia prometido ignorar. Mas então Simone a viu. Seus olhos se encontraram por um breve momento, e Rebeca soube que não poderia simplesmente virar as costas e sair.
Tentando não demonstrar o turbilhão de emoções dentro de si, Rebeca respirou fundo e caminhou em silêncio até a barra. Colocou suas coisas ao lado, ajustou as ataduras em suas mãos, e começou a se preparar para treinar. A barra era seu refúgio, um lugar onde podia se perder em sua própria mente, focar apenas no próximo movimento, no próximo passo.
Simone continuou seu treino no solo, mas agora seus olhos se desviavam frequentemente para onde Rebeca estava. Havia uma tensão palpável no ar, um silêncio carregado de tudo o que não foi dito.
Ambas treinavam em silêncio, em um ritmo quase sincronizado, embora em aparelhos diferentes. A distância entre elas parecia ao mesmo tempo infinita e incrivelmente curta. Era uma dança silenciosa, onde os passos eram calculados para manter o espaço que tinham prometido.
Rebeca se concentrou nos giros, nos saltos, tentando bloquear qualquer distração. Mas era impossível ignorar a presença de Simone. Cada vez que seus olhos se cruzavam, era como se o mundo parasse por um segundo, como se todos os ruídos ao redor se dissipassem, deixando apenas o som de seus corações batendo acelerados.
Simone, por sua vez, se forçava a manter o foco no solo, mas a cada movimento, sentia a presença de Rebeca como uma corrente elétrica passando por seu corpo. Ela sabia que precisavam manter a distância, que era o melhor para ambas. Mas, naquele ginásio silencioso, onde só o som dos aparelhos ecoava, a distância parecia insuportável.
Era um treino como qualquer outro, mas carregado de significados que nenhuma das duas estava pronta para encarar. Elas haviam prometido se afastar, mas ali, naquela manhã de treino, perceberam que o que havia entre elas não seria tão fácil de ignorar.
Rebeca se concentrava na barra, os movimentos fluindo como de costume, até que, de repente, sentiu um leve desequilíbrio. Um giro mal executado, e ela perdeu o controle por um instante. Antes que pudesse reagir, seus pés bateram no chão com força, causando uma dor aguda em seu tornozelo.
Antes que pudesse se recompor, Simone já estava ao seu lado, os olhos cheios de preocupação. “Beca, você tá bem?” A voz de Simone era suave, mas carregada de urgência.
Rebeca respirou fundo, tentando conter a dor e o incômodo. “Tô, tô bem. Não precisa se preocupar.” Sua voz saiu mais ríspida do que pretendia, uma defesa automática contra a proximidade de Simone.
“Deixa eu ver,” Simone insistiu, já se abaixando ao lado de Rebeca.
“Não precisa, Simone. Eu disse que tô bem,” Rebeca tentou se afastar, mas a dor a fez vacilar por um momento.
Simone, teimosa como sempre, ignorou a resistência da brasileira e, com delicadeza, segurou o tornozelo de Rebeca. “Shhh, calma. Eu só vou ver se tá tudo certo.” Sem esperar mais protestos, ela começou a massagear suavemente o tornozelo de Rebeca, procurando sinais de torção.
O toque de Simone era firme, mas ao mesmo tempo delicado. Cada movimento de suas mãos enviava ondas de calor pelo corpo de Rebeca, que tentava inutilmente ignorar a sensação.
“Simone... eu disse que não precisa,” Rebeca protestou, mas a voz saiu mais fraca do que pretendia. A proximidade de Simone estava começando a mexer com ela, de uma maneira que não conseguia controlar.
Simone não respondeu de imediato, focada na massagem. Mas à medida que os minutos passavam, ela também começou a sentir os efeitos da proximidade. O ar ao redor parecia mais denso, e ambas estavam ofegantes, embora nenhuma delas estivesse realmente se movendo.
Os olhos de Simone encontraram os de Rebeca, e por um instante, ambas ficaram presas naquele momento, incapazes de desviar o olhar. O silêncio do ginásio parecia amplificar o som de suas respirações, e o espaço entre elas parecia diminuir a cada segundo.
“Você precisa descansar esse tornozelo,” Simone finalmente disse, a voz mais baixa, quase um sussurro.
Rebeca assentiu, mas não conseguiu encontrar palavras. A tensão entre elas era palpável, algo que ambas sentiam, mas que nenhuma delas sabia como lidar.
Simone ainda estava ajoelhada ao lado de Rebeca, o calor do toque de suas mãos permanecendo no tornozelo da brasileira. O silêncio que se seguiu era carregado, quase ensurdecedor, como se cada uma esperasse que a outra quebrasse o gelo.
“Simone, você... você realmente não precisava,” Rebeca repetiu, mas sua voz era agora apenas um sussurro.
“Eu sei,” Simone respondeu, finalmente afastando as mãos, mas sem se levantar. Seus olhos não deixavam os de Rebeca. “Mas eu queria.”
Rebeca engoliu em seco. A proximidade era intoxicante, e ela sabia que qualquer movimento, qualquer palavra mal calculada, poderia ser um ponto de não retorno. “A gente... prometeu,” Rebeca lembrou, quase como um apelo.
“Promessas são complicadas,” Simone respondeu, um leve sorriso nos lábios, mas seus olhos ainda carregavam aquele brilho intenso. “Às vezes, elas se tornam mais difíceis de manter do que imaginamos.”
Rebeca sentiu o coração bater mais rápido, como se estivesse prestes a competir em uma final. “Simone, você tá casada. A gente... não pode...”
“Eu sei,” Simone interrompeu, a intensidade de seu olhar suavizando um pouco, mas ela ainda não se afastava. “Mas isso não muda o que eu sinto quando estou perto de você. E não me diz que você não sente nada, porque eu consigo ver nos seus olhos.”
Rebeca tentou se afastar, o conflito interno evidente em seus olhos, mas Simone, movida por um impulso incontrolável, a segurou pelo rosto. “Me diz que você não sente nada,” ela sussurrou, seus lábios perigosamente próximos aos de Rebeca.
Rebeca abriu a boca para falar, mas as palavras morreram em sua garganta. Antes que pudesse pensar em recuar, Simone fechou o pequeno espaço entre elas, seus lábios encontrando os de Rebeca em um beijo que carregava todos os sentimentos não ditos, todas as emoções que haviam sido reprimidas por tanto tempo.
O beijo começou suave, como uma brisa leve numa manhã de verão, mas logo se intensificou, as emoções contidas rompendo as barreiras que haviam erguido. O mundo ao redor parecia desaparecer, deixando apenas o calor do toque e o sabor do momento que compartilhavam.
Simone sentiu o coração de Rebeca acelerar sob suas mãos, o pulsar frenético combinando com o dela. Cada segundo daquele beijo parecia uma eternidade e, ao mesmo tempo, rápido demais para ser apreciado.
Mas então, como se o destino quisesse lembrá-las da realidade, o som de passos leves ecoou pelo ginásio vazio. Ambas se separaram rapidamente, os olhos arregalados, ainda ofegantes, e se viraram para ver quem se aproximava, o momento de intimidade se desfazendo como fumaça.
A figura de uma das treinadoras de Rebeca apareceu na porta, chamando-a com um gesto.
“Rebeca, está na hora de descansar. Amanhã é um dia importante,” a treinadora disse, alheia à tensão que havia no ar.
Rebeca assentiu, ainda atordoada pelo que acabara de acontecer. “Sim, já estou indo.”
Simone se levantou, oferecendo a mão para ajudar Rebeca a fazer o mesmo. “Boa sorte amanhã,” ela disse, sua voz carregando mais significado do que as palavras deixavam transparecer.
“Obrigada,” Rebeca respondeu, aceitando a ajuda, mas evitando olhar diretamente para Simone.
Quando Rebeca saiu do ginásio, Simone ficou parada, observando-a até que ela desaparecesse da vista. Ela respirou fundo, tentando acalmar as emoções que estavam à flor da pele.
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Amor em Paris
RomanceEm meio à pressão e à glória do Mundial de Ginástica de 2023, a vida de duas das maiores ginastas do mundo toma um rumo inesperado. Rebeca Andrade, a talentosa brasileira, e Simone Biles, a lendária americana, encontram-se em um confronto de habilid...