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KYLLEN

Uma mira não apareceu o dia todo. Ela também não dormiu ao lado da caixa dele naquela noite. Ele ficou acordado por horas, forçando a audição para ouvir o som dos passos leves dela, mas não ouviu nada.

Ele cerrou os punhos, como se pudesse agarrar-se àquela única chance de voltar para casa que estava escapando entre seus dedos.

Ele havia pressionado Amira. Ele havia dito a ela o que precisava dela, e a havia assustado. A impaciência o havia incitado a cutucar, mas agora ele temia que pudesse ter sido muito direto. Paciência nunca foi uma de suas virtudes.

À medida que as horas do dia seguinte passavam sem nenhum sinal de Amira, ele começou a se preocupar por outros motivos.

Amira servia uma deusa corrupta que não tinha honra nem moral. E se a pobre garota tivesse sido descoberta ajudando-o e tivesse pago por sua gentileza? E se ela estivesse machucada? Ou... morta?

Ele não deveria ter dado a ela aquele grampo de cabelo. Ele o fez para ela, desejando colocar um sorriso em seu rosto, mesmo que não pudesse vê- la sorrir. Mas ele poderia tê-la colocado em perigo com isso.

Qualquer um de Nerifir que visse a presilha de libélula saberia que foi feita por uma gorgônia. Eles saberiam que Amira a teria pegado dele. Eles saberiam que ela quebrou suas regras idiotas.

O que fariam com ela então?

A raiva contra Ghata aumentou, queimando suas entranhas com uma sede de vingança. A culpa o destruiu. Ele sairia dessa caixa amaldiçoada e varreria todo esse lugar, transformando todos em pedra. Todo o bando podre deles — os bracks , Ghata…

Mas e se Amira ainda estivesse viva? Ele arriscaria machucá-la acidentalmente também. A ideia de machucá-la de qualquer forma fez seu estômago revirar.

Conforme a noite se aproximava, a luz acima da abertura no topo da caixa diminuiu. Perdido na tempestade de suas preocupações e raiva, ele não ouviu ninguém se aproximando até que o som familiar de uma pessoa limpando a garganta o alcançou através das paredes da caixa.

Amira!

O alívio tomou conta dele como um dilúvio de chuva na floresta.

“Senti sua falta.” Ele deixou escapar a primeira coisa que lhe veio à mente.

Era infantil, espontâneo e... absolutamente verdadeiro. Ele sentia falta dela — do som da voz dela, do leve correr dos seus passos. Ele sentia falta daquele barulho suave e hesitante que ela fazia antes de falar, como ela fez agora, limpando a garganta novamente.

“Você… o quê?” ela perguntou, soando completamente confusa. O sentimento dele obviamente veio tão inesperadamente para ela quanto para ele.

Foi a vez dele de limpar a garganta enquanto ele lutava por uma resposta. “Eu... hum, estava preocupado. Está tudo bem? Você esteve fora.” E agora ele parecia desesperado. Era simplesmente patético o quanto a ausência dela o havia destruído.

“Vim avisá-lo”, ela disse sombriamente. “Depois que a feira acabar, em pouco mais de uma semana, Madame vai nos mudar para a Inglaterra—”

"Onde?"

“Para outro continente”, ela explicou. “Dez, um dos seus bracks, virá amanhã para verificar se você ainda está vivo.”

Ele sorriu. “Que atencioso da parte dele.”

Ela não sorriu para o sarcasmo dele, sua voz permaneceu séria. “Você não pode falar com ele. Se falar, ele vai saber que você estava pegando água esse tempo todo.”

Toque da Serpente: Parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora