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— De onde cê vem, querida?

— Hum, Michigan. — Menti. — Nasci lá, mas moro nesse estado desde que era criança. — Se ela percebesse minha mentira ou fosse boa na geografia da história de Georgia, talvez eu estivesse com uma corda no meu pescoço. Ou eu arriscava uma mentira ou ia perder meu disfarce em menos de dois minutos.

— Nunca fui lá... — Ramona fez uma careta. — E...

Tive medo de que ela me perguntasse como era no Michigan, então tive de emendar rapidamente:

— Então, que lugar é esse?

— Esse é o Castelo. — Ela abriu os braços e deu uma volta. Reparei nas gaiolas de ouro em cada um dos cantos das paredes. — Aqui ficam as putas e as que só dançam. Ninguém é obrigada a ficar com os caras, sabe? — Ramona apontou para as escadas. — Lá em cima fica o nosso Rei, o divino Constantin e sua côrte da nobreza. — Suspirou apaixonamente. — E podemos dizer que eu sou a gerente desse lindo estabelecimento. Cuido do figurino com a Chérrie, fico de olho na limpeza e deixo tudo preparado pra noite.

O nome de Chérrie trouxe uma bandeira vermelha na minha mente.

— Parece ser bem importante! — Bajulei-a. — Tem mais alguém que eu deva conhecer? Ou pelo menos saber de nome?

Ramona pensou.

— Bom, acho que o Constantin cê já conhece, né? O braço direito dele é o Andrei, que não sai da cola do Poderoso. Shani é a terceira no comando e... Acho que isso é tudo. — Ramona deu de ombros. Bom, eu não precisava de muito para saber quem eram. Os nomes continuavam os mesmos, mas imaginei que assim como o de Georgia, não fossem os verdadeiros. Eles eram criminosos, afinal. — Não tem muito mais gente que vá encontrar. Os sócios e caras com quem Constantin faz negócio aparecem misteriosamente na área VIP e somem antes que a festa acabe. Eles sempre ficam lá em cima, escondidos de todo mundo. Ninguém se interessa por aqueles velhos também. — Ramona olhou para uma senhora que esfregava uma barra de metal giratória e acenou com satisfação. — E você, querida? O que fazia antes daqui?

— Eu não era puta, se quer saber. — A palavra queimou na minha língua, por um momento cheguei a hesitar. Ramona não percebeu. Imaginei que, aqui e com ela, eu deveria usar um linguajar diferente do meu habitual para não levantar suspeitas. Queria guardar a revelação para quando Georgia estivesse conosco. Ou Damon. — Trabalho num mercado hoje em dia. Sai da vida errada alguns anos atrás e tava tentando me consertar... Até, hã, Georgia dizer que queria me ver. — Inventei, depressa. Não podia me colocar numa profissão muito chamativa nem dizer que era traficante ou qualquer coisa ilícita. Se Ramona fizesse uma pergunta que eu não soubesse responder, tudo cairia por terra. — Enfim! O que você faz além de gerenciar esse lugar?

— Eu danço, amor. Mais é claro. Esse corpo é o maior entretenimento da casa. — Ramona bateu em sua própria nádega. — Não vê? — E balançou o longo cabelo. — E você? Já dançou assim antes, amor?

Fiz que não.

— Não sou exatamente a melhor. — A minha única vantagem era ter treinado ginástica e me exercitado como uma louca nesses últimos meses. No máximo aprendi alguns movimentos de combate com Chase, mas nada relacionado a rebolar. — Não sei dançar de jeito nenhum.

— Como não? Todo mundo sabe dançar, amor. Ei, dá licença, lindona. — Ramona fez um gesto de enxotamento e a funcionária da limpeza se afastou ao risos. A bela mulher segurou na barra metálica e jogou o corpo para frente. — Tem que sensualizar e mexer seu corpo, assim, como se fosse uma serpente no Egito. Uma super Cleópatra gostosa. — Agora Ramona estava virada com as costas no metal, abaixando o corpo e abrindo as pernas. O vestido quase se levantou demais, mas ela recuou pouco antes de eu descobrir se havia uma calcinha ali embaixo. — Não se preocupa em mostrar, porque os homens gostam. Só não mostra demais pra deixar um gostinho na imaginação. E então, você sente a música... — Não havia nenhum som ali, mas para Ramona, era como se a cabeça dela estivesse cheia de ritmos. — Vem, tenta comigo, amor. — Não pude recusar. Ela parecia divertida e tinha uma energia magnética. Subi no pequeno palanque e fiquei atrás de Ramona. Ela segurou minhas mãos com as suas e as colocou em sua cintura. — Basta me imitar.

Ultraviolência: Retaliação Onde histórias criam vida. Descubra agora