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— Senhora Queenie! Por favor, espere! — o motorista me chamou quando eu já estava quase na linha de visão dos muros. Eu voltei-me para trás, curiosa. Ele corria atrás de mim com um walkie-talkie nos dedos enrugados. — É o detetive, ele quer falar com você!

Confirmei, esticando a mão para segurar o aparelho ao te-lo sob meu alcance. Era Chase.

Holly, nossa inteligência acaba de flagrar Constantin disfarçado em Skary Lake, numa zona mais afastada da cidade, provavelmente fazendo negócios com traficantes locais.

Esse foi o motivo? Bom, sem Constantin lá eu poderia me virar com um disfarce.

— Não vão abordá-los por causa dos reféns presos na cidade, eu sei disso. O que tem demais?

Uma mulher.

Uma mulher?

— Que mulher, Chase?

Uma mulher loira com casaco branco e óculos escuros. Acha que pode ser a tal Georgia While de quem nos contou?

— Sim, pode ser. Eles são parceiros, eu acho. Ela trabalha pra ele.

— Não acho que seja só isso, Holly... — A voz de Chase estava mais baixa. Considerando que seu chefe não foi mencionado hora alguma no outro lado da linha, Chase fez a ligação fora dos olhos de todos. — Eles estão se beijando em uma das fotos, Holly.

O mundo parou por um segundo inteiro. Talvez dois. Ou cinco.

— O quê?

— E tem mais. — Chase sussurrou. Charles não queria que eu te contasse isso, mas escute bem: lembra de quando dissemos que não conseguimos encontrar ninguém no banco de dados com o nome Georgia While? Bom, isso é verdade. O nome verdadeiro dela é Mercedes Castillo, os pais eram imigrantes espanhóis. Têm registros e testemunhas que diziam que ela e Constantin eram amantes antes de ele ir para o sanatório Harkness. Charles achou que não fosse seguro te contar, teve medo de que você fizesse algo por ciúmes. Mas eu quero que tome muito cuidado com essa mulher. Ela é perigosa, Holly. — Chase parou de falar por um segundo e ouvi um som de batidas na porta. — Eu preciso ir. Promete que...

Não dei-lhe uma resposta. Eu simplesmente encerrei a chamada e devolvi o telefone ao motorista. Meu coração batia forte, apesar de eu sentir que estava lento. Meus cílios subiam e desciam, os olhos ardiam pelo choro, mas não me permiti derramar nenhuma sequer lágrima em minhas bochechas ou naquele asfalto. Era óbvio. Muito óbvio. Georgia fez tudo aquilo, toda aquela caridade de me ajudar antes porque queria Constantin de volta para si. Foi tudo um plano. Eu devia parabenizá-la por sua incrível atuação comigo. Não quis pensar em nada de mirabolante naquele momento; o que estava bem na minha cara foi o que eu quis ver e serviu para munir meu ódio. Podia ser uma loucura continuar sabendo que ele já estava com outra vadia, mas agora era um pouco mais pessoal que antes.

— Tudo bem com a senhora? Tudo bem com o plano?

De dentro da pequena bolsa, saquei o óculos escuros de armação triangular e ajeitei sob os olhos.

— Eu estou ótima. — Ele não precisava saber, ou levantaria suspeitas sobre o conteúdo da ligação e Chase poderia se encrencar. Eu não era burra para achar que o que ouvi no telefone teve boas intenções apenas. Mas querendo ou não me manipular, fosse para odiar mais Damon ou Georgia, Chase me abriu os olhos. E eu jamais voltaria a fecha-los.

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— Quem é você? — perguntou o homem que apontava o fuzil na direção da minha cabeça lá do alto dos muros. Um aperto do gatilho e eu seria mais um cadáver cheio de buracos ensanguentando a avenida. — Identifique-se!

Ultraviolência: Retaliação Onde histórias criam vida. Descubra agora