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— Por que você veio? — Damon falou pela primeira vez em mais cinco minutos.

Depois de afronta-lo e afirmar que ele não poderia ser salvo de mim, o mandei se levantar e parar com a ceninha patética de cãozinho sem dono. Ele não disse nada, só obedeceu e ficou de pé, próximo da mesa. Aproveitando o bar para ficar de costas para ele e esconder meus verdadeiros sentimentos, fingi olhar as prateleiras de bebidas. Eu estava agindo bem? Sendo uma garota malvada? Nunca fui assim, nunca tive vontade de ser. Lembrei a mim mesma de que era apenas um personagem, que era tudo em prol de um bem maior e que eu estaria salvando muitas vidas quando ajudasse o FBI a entrar no complexo comandado por Constantin. Nada daquilo era eu, sim uma personagem inventada. Emanando esse mantra, peguei uma garrafa e dois copos, aos quais depositei sobre o balcão.

— Para me vingar de você. É o único motivo pelo qual eu viria atrás de um homem que arruinou minha vida. — Despejei o whisky na quantidade de dois dedos. Parecia horrível, e eu nunca imaginei que precisaria uma bebida tão forte pra suportar uma farsa.

Me enganei.

— E como quer se vingar? — Damon descruzou os braços. — Torturar? Me matar? O que você quer? Eu posso providenciar os instrumentos.

— Não seja tão dramático. — Eu disse. — Tá vendo? É isso que me irrita em você, Constantin. Sempre que faz uma merda você vem com esse ar de coitadinho que merece ser punido, como se eu estivesse sendo louca por te culpar por alguma coisa ruim que fez só porque se arrependeu dela. Esse tipo de manipulação já me encheu a paciência. — Tudo aquilo já era muito difícil sem ele se oferecendo pra ser torturado nas minhas mãos, não precisava que me fizesse ter piedade sua. — Eu só quero que você venha aqui beber comigo. Hoje é nosso reencontro. Não quer aproveitar? Eu lido com a minha vingança amanhã.

Cuidadosamente e com hesitação, ele cruzou a sala em grandes passos e aceitou o copo que eu lhe dei. Damon tomou um gole. Eu também, mas diferente dele, quase cuspi.

— Isso é terrível.

— Um pouco forte pra pessoas desacostumadas. Quer alguma coisa mais leve?

— Não. Tá ótimo. — Se ele podia tomar, eu também podia. — Enfim, por que não me apresenta o lugar? Ramona me deu uma pequena prévia, mas não cheguei nem perto da área VIP.

— Quer conhecer a área VIP?

— Quem não quer?

Damon assentiu. Terminamos nossas doses. Ele me estendeu sua mão, mas eu passei por ele fingindo não ve-la. Se o magoou ou não, pouco me importei. Abri a porta. O corredor era escuro. Não havia ninguém por perto. Ou eles eram espertos o bastante para não escutar por trás da porta ou tinham certeza absoluta que eu não poderia fazer nenhum mal a ele. Ou ambos.

— Quero pegar meu batom primeiro. Está no camarim. — Informei. Damon fechou a porta e a trancou. Sua chave foi posta no bolso detrás. — Gosto do vermelho vivo agora. Combina com o meu cabelo. Não prefere ele assim? — Confesso que a escova que fizeram antes de eu vir para cá foi bastante útil para variar meu penteado. Era muito diferente das tranças e coques, mas também sequer se comparava ao frizz de quando eu estava morando com Constantin. Liv os modelou para mim com baby-liss.

— Gosto de tudo em você. — Ele falou, hesitando. — Só... não acha que essa roupa está um pouco curta demais? Tem certeza que não quer se trocar?

— Absoluta. — Reafirmei. — Mas se quiser eu coloco a lingerie que Ramon...

— Não! — Damon fez um gesto com a cabeça e rasgou um sorriso claramente forçado nas bochechas. — Está linda assim. Não precisa mudar nada.

Ultraviolência: Retaliação Onde histórias criam vida. Descubra agora