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No sonho, eu corria. Com medo, com vontade, com desespero. Damon sempre estava atrás de mim neles; caçando-me. Suas mãos grandes de dedos enormes tinham linhas nas pontas. Linhas feitas para controlar uma marionete. Linhas feitas para mim. O medo era real. E quanto mais eu me afastava, maior ele ficava. Até de tornar um gigante do qual eu jamais poderia escapar. Vi os rostos de minha mãe, minha irmã e Chase me esperando, mas eu nunca conseguia alcança-los. Meus pés doíam, meu coração pinicava e eu sabia que não sairia ilesa dali. Não com ele.

— Holly? — uma unha me cutucou, cautelosamente. A voz de Damon quase me causou um sobressalto. Ele olhava para mim fixamente. A música ainda rolava, alta e vibrante. Algumas horas devem ter se passado depois do nosso reencontro, porque não tinha mais ninguém na área VIP e, olhando para baixo, a pista de dança estava bem reduzida. Minha cabeça pesou. Eu não consegui dormir direito esses últimos dias. Quando Damon teve que sair para resolver alguma coisa, me sentei num sofá e fiquei ali, quieta, pensativa. Liv não estava mais por perto, tinha ido embora com seu amante. Antes disso, eu conversei com ela e nos divertimos um pouco, sentadas. Não deixei que ela me levasse pra dançar. A experiência na jaula mais cedo foi o bastante. — Ei, tudo bem? Desculpa ter demorado tanto.

— Tudo bem. — Não soube como consegui pegar no sono em um lugar tão hostil e com tanta gente que não gostava de mim por perto. Acho que saber que estava sob a proteção do chefe de tudo aquilo me deixou um pouco mais confiante do que deveria, então o cansaço aproveitou para tomar conta de mim. Eu ainda estava dolorida. Meus pés, principalmente. Usar saltos por tanto tempo cobrou seu preço. Meus músculos resmungaram quando eu me sentei. — Onde você estava?

— Resolvendo pendências.

— Que tipo de pendências?

— Quer mesmo saber desse tipo de burocracia?

Eu fiz que sim.

— Quero.

— Bom. — Damon mordeu seu lábio. — Houve uma briga entre dois caras no muro e um deles acabou estourando os miolos do outro. Acho que foi por ciúmes. Eu estava tentando entender tudo que aconteceu e resolver, do meu jeito.

Então esse era o tipo de burocracia que ele resolvia? Por Deus, não imaginei que fosse tão grave quando um de seus caras apareceu, de repente, e ficou sussurrando no ouvido de Damon. Não consegui ouvir a conversa ou captar o teor, e Liv, que ainda estava aqui naquela hora, me distraiu um pouco com seu falatório.

— E o que aconteceu com o assassino?

— Morreu do mesmo jeito que matou. — Damon deu de ombros. — Não ando com paciência pra moleques que querem matar só porque tem uma arma e um motivo fútil. Eles vão servir de exemplo. Vira e mexe eu tenho que dar um ali e um aqui. Ninguém pode sair tirando a vida de ninguém sem pagar um preço. A justiça pode ser falha fora daqui, mas na minha casa todo mundo anda na minha lei.

— Ah... — Meu sono repentinamente passou. Damon falava como se tudo não passasse de mais um turno de trabalho de rotina. E não era mentira. Havia respingos escuros em sua camiseta. Sangue. Prendi meu ar. A cena rolou na minha cabeça. Damon apontando uma arma e atirando o gatilho. Me lembrei de sua fuga do sanatório Harkness, quando ele matou o senhor Cullen e sua amante. Náuseas pontuaram minha cabeça como pregos.

— Droga, eu não devia ter detalhado tanto pra você. — Damon se arrependeu por ter me assustado com sua história, não pelo que ele fez.

— Eu pedi pra saber.

— Desculpa. — Ele tocou meu queixo. Reuni força e coragem para não me afastar, ignorando o fato de que esses mesmos dedos ativaram o gatilho que tirou a vida de alguém. Céus. — Você está cansada?

Ultraviolência: Retaliação Onde histórias criam vida. Descubra agora