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          O gosto de confusão envolveu minha língua como uma bala doce, derretendo até restar um único gostinho de quero mais. Não demorou mais que três minutos para que as luzes fossem apagadas e a gaiola aberta. Mesmo quando Shani me tirou pelo braço lá de dentro eu não consegui conter minha satisfação. A cara de Damon foi impagável. Nunca o vi tão assustado, com raiva e vontade de vomitar simultaneamente. Quando ele começou a gritar para seus seguranças, sem tirar o olhar de mim, percebi que todos estavam assustados. Georgia, ao lado dele, ficou tão petrificada quanto uma estátua da Medusa. Sua pose perfeita de elegância não a acompanhou enquanto me observava.

— Por que estão a levando? — Liv tentou me seguir na escuridão. Ninguém respondeu. — Isso é porque ela veio se apresentar comigo? Nós achamos que não tivesse problemas!

— Quieta. — Shani ordenou. — Volte ao trabalho. Isso não é da sua conta. — Então, um dos três outros caras que estavam com ela impediram minha nova amiga de me seguir.

Chérrie, próxima a nós, seguiu calada.

— Tudo bem. — A confortei. — Eu vou ficar bem, Liv.

Liv estranhou, mas não tinha muito o que pudesse fazer. Laçou uma olhadela para Chérrie, que continuou em silêncio com uma unha na boca e o olhar voltado para os próprios sapatos, e depois Shani, enfurecida. Não tivemos muito tempo. Liv voltou para a gaiola e Shani apontou para o corredor, para que eu isse adiante. Ouvi um som e as luzes se ascenderam atrás de nós.

— O que você acha que tá fazendo aqui, sua cadela? — Shani vociferou, afundando as unhas contra minha carne. Embora todo o medo e a sensação de frio no estômago, senti-me feliz por te-la irritado. Toda aquela pose que conheci antes escondia sua verdadeira face, mas agora ela estava sendo sincera comigo. Uma escrota. — Como conseguiu chegar? Quem deixou?

— Isso importa? — repuxei meu braço e parei de mexer meus pés. Os soldados que seguiam Chani pararam também, a três passos de distância. — Consigo andar sozinha. Obrigada.

— Sua...

— Shani, não! — Chérrie entrou na frente da amante, de costas para mim. Curiosa, espiei por cima do ombro dela as narinas dilatadas de Shani. Como um touro. — Sabe o que acontece se alguém machucar ela. Não seja precipitada. Nem você estaria a salvo dele nesse caso.

Por que ele queria ser o responsável por fazer isso? Muitas ideias me cercaram. Shani, brava, deu de costas e continuou andando. Chérrie virou-se pra mim, olhando meu braço e as pequenas feridas vermelhas ameaçando a sangrar.

— Por favor, não provoque. Ela é muito temperamental e isso só a prejudica.

E quem diria que essa mesma mulher foi minha vizinha super liberal e animada... Que curso de atuação ela e Shani fizeram? Mereciam um prêmio dos gordos. Chérrie esperou, acompanhando-me. Shani ia em frente e os seguranças atrás. Não tinha como eu fugir. Nem se quisesse me arrepender seria uma opção. Suspirei fundo. Onde foi que me meti? Enquanto pensava em possibilidades, chegamos a uma porta. Eu decorei o caminho. Havia uma mulher lá, esperando por nós. Sua postura foi retomada e os traços bonitos estavam analíticos. Georgia tinha o cabelo repuxado num rabo-de-cavalo louro-platinado alto e usava um top com alças transpassadas e decote em forma de coração entre os seios. O batom rosa profundo era o destaque no branco da roupa. As enormes unhas descansaram contra os antebraços.

— Eu fiquei bem curiosa quando soube que alguém usou a desculpa de ser minha amiga para entrar aqui dentro. Foi inteligente. Ninguém esperaria por isso, afinal, nunca fui de ter amizades. — Disse ela.

— Não temos tempo pra isso. — Shani a cortou.

— Vamos. — Chérrie tocou meu ombro delicadamente.

Ultraviolência: Retaliação Onde histórias criam vida. Descubra agora