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— Descobrimos que ele têm um bairro inteiro sob sua posse a não muitos quilômetros daqui. Não têm como entrar: os homens de Constantin monitoram tudo armados até os dentes. — Charles me entregou algumas fotos para que eu constasse a veracidade das alegações.

Havia se passado alguns meses desde que nós começamos a investigação — o FBI, no caso. A essa altura, estávamos em novembro novamente e em breve a neve começaria a cair. Eu estava agradecendo por não ser uma temperatura tão rigorosa quanto no ano anterior. O outono pegou leve conosco.

— O desgraçado deve ter aproveitado pra restaurar seu império enquanto a polícia estava ocupada procurando na época do seu desaparecimento. Depois de todo esse tempo, a coisa ficou muito maior. Eu disse que deveríamos ter agido antes. — Chase Philips, o parceiro de Charles, rugiu para ninguém em especial. Ele estava "emputecido". — Puta que pariu!

— Modos, Chase. — Charles o repreendeu. Era o cérebro da operação, o mais racional. — Temos medo de invadir sem saber como tudo lá dentro funciona e acabarmos matando mais inocentes do que podemos salvar. Queremos acabar com Constantin depressa, mas se fizermos de um jeito desleixado, muitas vidas podem ser desperdiçadas. Eu me preocupo com elas.

— Eu entendo. — Assenti. — E é por isso que vocês têm à mim.

— Entende que isso pode ser perigoso? — Charles prosseguiu.

— Porra, ele vai matar você. — Chase retrucou. — Não é porque te deixou sair uma vez que você pode ir e voltar quando quiser, Holly. Essa merda é muito mais perigosa do que tudo que você já viveu com ele. A obsessão que ele sentia por você um ano atrás pode nem existir. Mesmo que você tenha trabalhado duro pra se preparar, não é nada seguro!

Dei de ombros.

— Eu não me importo. — Quando eu disse, Chase revirou os olhos, bateu as mãos na mesa e deixou a sala, puto da vida. Ele tinha lá seus estouros, por isso Charles o supervisionava. Era meio que responsável por não deixar o parceiro cometer nenhuma burrice e perder o emprego.

— Ele vai superar. — Charles massageou as têmporas. — Só está um pouco preocupado com você, e com razão.

— E eu não me importo. — Repeti, erguendo-me da cadeira. — Nós nos falamos depois para acertar os detalhes, Charles. — Ele assentiu para o pedido e eu sai para o corredor. Chase estava próximo ao bebedouro, tomando um bocado d'água na tentativa de acalmar seus próprios nervos. Com cautela, eu o toquei no alto das costas largas. — Quero que se acalme e venha comigo. — Sem esperar, sai de perto. Chase me seguiu até que entrássemos em outro quarto, longe do escritório de Charles. Nossa "base" era um casarão nos arredores da cidade, adaptado com a academia que eu treinava e salas com computadores ultramodernos que apenas a inteligência secreta do país tinha acesso.

— Porra, você não entende como é perigoso, Holly? — Ele reclamou, me segurando no antebraço sem exercer força. — Eu me preocupo com você. Não quero que fique em perigo com o maníaco que te sequestrou e matou todas aquelas pessoas no sanatório Harkness. É... loucura!

— Não é loucura. — O acalmei. — Loucura é continuar deixando centenas de pessoas inocentes sob a vigilância dele sem uma proteção legal. Não temos como saber o que a gente daquele bairro está sofrendo, nós nem fazemos ideia do que acontece atrás daqueles muros. Eu posso ajudar, Chase. Posso fazer algo para parar de uma vez por todas com a crueldade dele. — Era difícil para Chase compreender o meu lado, ele só estava se importando comigo e deixando todo o plano de lado. Dormir com ele foi uma péssima ideia. Calmamente, grudei nossas testas. — Passei meses aprendendo auto-defesa e tudo que preciso para me sair bem nessa operação. Vai dar certo, confie em mim. Estou pronta.

Ultraviolência: Retaliação Onde histórias criam vida. Descubra agora