As Classificatórias

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Pov Rebeca

Sim, era exatamente isso que estava acontecendo. De todas as atletas ali presentes, Simone sorriu para mim e estava vindo em minha direção. Como não ficar nervosa em uma situação dessas?

– Rebeca Andrade!

Não é possível, eles me chamaram agora, justo agora? Olhei significativamente para Simone e me dirigi ao local demarcado para fazer o meu salto. Corri e executei o salto com uma entrada de rodante, uma meia volta na primeira fase do voo e uma pirueta e meia na segunda fase. No final, um pequeno passo para trás, mas nada que me prejudique. Fiquei satisfeita com minha performance.

Agora era a vez de Simone, e antes que ela fosse, eu passaria ao seu lado. Não resisti; ao passar por ela, disse:

– Boa sorte, Simone!

Ela sorriu e me respondeu:

– Você foi ótima!

Tudo aconteceu muito rápido. Em seguida, minha nota saiu, indicando minha provável classificação para a final. Minhas amigas comemoraram comigo, e tivemos um abraço coletivo. Depois, dei toda a minha atenção para a próxima competidora. Agora era a vez dela.


Pov Simone

Andrade é muito gentil, ou melhor, Rebeca, os brasileiros costumam se tratar pelo primeiro nome. Lembro-me de quando ela me falou em Tóquio, quando estava com o namorado fisiculturista. Pelo que vejo, ele não está por aqui; olhei ao redor e, sinceramente, espero que ele não venha. Não sei por quê, mas não me simpatizei muito com ele, ao contrário de Rebeca.

Essa foi a última coisa que pensei antes de dar meu salto e me classificar para a final. Seguimos para a próxima etapa: as barras assimétricas.

Aproveitei o intervalo entre as provas para ir até ela.

– Você foi ótima. – falei, tentando usar um inglês um pouco mais devagar para ajudar. Sabia que ela falava inglês, mas talvez não fosse tão fluente.

– E você foi perfeita! – respondeu ela com um sorriso, vindo em minha direção e me dando um abraço. Eu adoro essa receptividade brasileira.

– Você está bem, Biles? – perguntou ela, acredito que devido à minha pausa nos esportes.

– Passei por momentos difíceis, mas agora estou muito bem.

Ela ficou feliz em saber que eu estava bem. Rebeca é tão gentil, sincera e animada. Será que isso é típico de todos os brasileiros ou só dela?

– E sua família, eles estão aqui?

– Sim, minha mãe é aquela com a gigantesca bandeira do Brasil. – disse, e rimos juntas.

– E seu namorado, não veio dessa vez? – arrisquei a perguntar. Ela pareceu um pouco constrangida.

– Eu não estou mais namorando. – revelou, e isso realmente me pegou de surpresa.

– Eu... sinto muito. – falei, embora na verdade não sentisse.

– Não se preocupe, eu estou bem. – respondeu ela, com um sorriso.

– Vamos, Biles! Sua vez! – meu treinador me chamou.

Minha performance nas barras assimétricas não foi como eu esperava; fiquei em 9º lugar e não passei para a próxima fase. Agora, era apenas torcer para que Rebeca passasse.


Pov Rebeca

As barras assimétricas estavam realmente azaradas; não é possível que tanto Simone quanto eu não tenhamos passado para a próxima fase. Assim que retornei para conversar com ela, fiz um gesto com as mãos, demonstrando todo meu desentendimento sobre o que havia acontecido. Ela também parecia confusa com o resultado.

– Tentamos, não é? – perguntei, tentando manter o ânimo.

– Pelo menos damos oportunidade para que as outras ganhem alguma coisa. – ela respondeu, e rimos juntas.

– Desculpe interromper, precisamos falar um minuto com a Rebeca. – Jade chegou e disse gentilmente, esbanjando seu inglês perfeito.

– Você está bem, Biles? – perguntou Jade.

– Estou muito bem, obrigada. E você? – Jade confirmou com a cabeça e sorriu.

Simone voltou-se para mim e disse:

– Vá com a sua Jade, que eu irei com a minha. Depois continuamos a conversa.

Rimos e nos despedimos.

Quando Jade e eu estávamos afastadas, perguntei:

– Aconteceu alguma coisa?

– Nada demais, apenas câmeras, repórteres e fotógrafos curiosos com a conversa de vocês.

– Sério? Eu nem percebi! Mas tudo bem, não estávamos falando nada demais.

– Eu sei, mas eles não sabem. Não estou dizendo para você parar de falar com ela, mas evite ficar de papo na frente deles.

– Mas, Jade, nós sempre estamos na frente deles.

– Nem sempre. Não estamos na hora do almoço, ou na hora de dar um passeio romântico por Paris para comer um petit gâteau. – Jade disse com um tom malicioso e piscou para mim.

– Oh não, Jade, você não acha que...

– Eu não acho nada, mon cher.



Eu estava extremamente feliz. Eu havia me classificado para a final da individual geral, além das finais de salto, solo e trave. Também disputaríamos a final por equipes. Flavinha passou na individual geral e Júlia na trave. Brasil, prepare-se que as medalhas estão a caminho!

E é claro que as estadunidenses também estavam conosco.

Após a classificatória, Simone me deu um tchauzinho com a mão de longe. Eu queria muito ir falar com ela, mas, no mesmo instante, repórteres surgiram ao seu redor, e me lembrei do que Jade me disse. Mas o que estamos tentando esconder? Nossa amizade? Que bobagem. Teremos outras oportunidades para conversar, exceto, claro, um passeio romântico como Jade mencionou. Onde ela tirou isso? Que absurdo.

Passando pelos corredores dos alojamentos, encontramos vários amigos atletas brasileiros. Rayssa Leal veio correndo e me deu um abraço apertado.

– Oi, campeã! Como está?

– Estou cansada, mas bem. E você, campeã? – Sempre nos tratamos assim, até porque ela é a campeã no que faz, e ela diz o mesmo de mim.

– Estou ótima. E espero que você tenha reservado espaço em sua mala.

– Para quê? – perguntei, curiosa.

– Para as nossas medalhas, é claro. – Demos pulinhos de alegria em comemoração.

Enquanto isso, Augusto Akio estava batendo um papo descontraído com a Flavinha. Jade e Rosamaria, como sempre focadas, conversavam sobre esportes, Guilherme Costa, o Cachorrão, conversava com Lorrane, e João Chianca, o Chumbinho, estava bem próximo da Júlia. Era muito legal encontrar e conversar com nossos amigos brasileiros e saber que todos ali compartilhavam o mesmo ideal.

Continuamos nosso caminho para o alojamento e encontramos Larissa Pimenta e Willian Lima, animadíssimos. Por fim, encontramos Hugo Calderano e Gabriel Medina. Enquanto Medina nos contava sobre as altas ondas que já enfrentou, ele me pegou no colo e me levantou em uma brincadeira.

– Estar em uma onda é como flutuar, Rebeca. É como um de seus saltos. – disse ele, e rimos muito com a forma divertida que ele encontrou para me mostrar. Contudo, assim que ele me colocou de volta no chão, percebi que Simone estava passando pelo corredor e nos observando. Quando nossos olhares se encontraram, ela desviou e começou a caminhar mais rápido.

Isso me deixou angustiada. Mas por quê?

Eu e casca de BilesOnde histórias criam vida. Descubra agora