Capítulo 5 - Bonequinha

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Quero estar presente nas lembranças 

mais lindas de suas vidas


— Dona Lúcia — Ele senta-se em uma das cadeiras ali — Há 10 anos eu prometi algo a sua filha, e eu tenho cumprido desde então, ela pode não saber, mas estou. Agora, eu prometi algo a sua neta, e eu vou cumprir. — Ele finaliza com um sorriso

— E quando será?

— Próxima sexta, naquele salão de trampolins

O relógio correu mais algumas horas, Helena não jantava sem a mãe, por esse motivo a pequena aguardou junto com a avó que Luciana chegasse, era cerca de 18:50 quando Júlio subiu para o apartamento dos pais e 19h quando o carro de Luciana apontou na rua

— Boa noite, família — Luciana coloca sua pasta e bolsa em um móvel da sala, dando um beijo na cabecinha da filha que estava já na mesa de jantar, a aguardando — filha

— Mami — A pequena responde

— E para comer? O que temos hoje? — Luciana questiona, sentando-se na mesa

— Seu pai fez cuscuz temperado — Lúcia fala focando nos movimentos da filha — Está sem aliança, filha?

— Estou sim, mãe — Luciana confirma sem importância enquanto coloca uma porção no prato de Helena e outra no seu — Que delícia, obrigada, pai

— Faço com prazer, meu amor — O senhor responde — ISSO!! GOL!!

— Jogo de quem, pai? — A moça puxa o assunto, sabia que o pai amava jogos de futebol, tinha seu time de coração, mas escolhia para qual torcer na hora

— É clássico, princesa, FLAFLU — Ele explica, como se a arquiteta entendesse

— Ah sim

— Júlio veio aqui hoje — Lúcia começa — Brincou quase a tarde toda com a Helena

— Ah foi? — Luciana observa as feições da mãe e da filha ao bebericar seu café — E você gostou bonequinha?

— Muito!! — A pequena estava animada — O tio Júlio é muito legal, mamãe

— Tio Júlio é? Entendi

— Se sujou todo de tinta brincando com ela — A senhora provoca mais uma vez dando uma garfada em sua comida

— Você sujou o rapaz, filha? Ele não ia trabalhar depois, ou ia? — Ela pergunta já preocupada

— Não sei porque do espanto, Luciana — A mãe faz graça — Ele não estava preocupado, aliás, não sei se você lembra, mas ele mora aí na frente

— Você não me deixa esquecer — Ela brinca com a comida no prato como se fugisse do assunto

—Mami! — A menina chama a atenção da mãe que olha imediatamente — O tio pode ir na minha festa? — Ela pede

— Vamos ver, bonequinha — Luciana alisa os cabelos da filha — Mãe, podemos dormir aqui hoje?

— Claro, filha

— Ele também me chama assim — Helena fala

— Ele? — Luciana não entende

— O tio — Eis que ela se cala, seu ex-namorado gosta mais de sua filha do que o próprio pai dela, a moça já vira diversas cenas dignas de pai e filha, como na vez que Luciana já havia mandado Helena parar de arremessar o maldito bambolê como se fosse um boomerang, até que o que ela previa aconteceu, o brinquedo foi parar no telhado

FLASHBACK

— Mami, mami! — Helena chegou com lágrimas nos olhos para a mãe que trabalhava no projeto da reforma da casa de sua mãe

— O que foi, meu amor? Tá chorando? — Ela limpa as lágrimas do rosto da pequena

— Meu bambolê — O pequeno dedinho aponta para o telhado da garagem do prédio a frente

— A mamãe não disse a você — Ela faz uma pausa para cessar o choro da filha — Ei, olha pra mim. A mamãe não disse a você para não jogar o bambolê? O que poderia acontecer?

— Cair no telhado — Ela repete ainda chorando — E agora mamãe?

— E agora que depois eu compro outro — a menina volta a chorar — Filha, a mamãe é pequenininha, eu não consigo subir lá em cima. Seu tio Andreas também não tem tanta altura e — Ela mesma se interrompe ao olhar na direção do prédio. Júlio estava escalando as grades da garagem do prédio, pegou o brinquedo da pequena e pulou de volta para o chão, atravessou a rua. Por um pequeno momento e um leve fio de esperança lhe disse que o moreno entraria para entregar em mãos, mas ele apenas jogou por cima do portão para que caísse no gramado, ela sorriu agradecida, um sorriso que Júlio conhecia muito bem, mesmo que ele não tenha visto, ela o direcionou para ele

PRESENTE

Ele podia não perceber, mas estava cumprindo a promessa de 10 anos atrás, poderia também pensar que ela não lembra, mas a moça lembrava-se de cada palavra dita por ele, cada promessa. Ele realmente não quebrava suas promessas.

Do outro lado da rua, na janela do primeiro andar do prédio, Júlio estava recostado ali, observava a casa, tinha a visão de toda a área externa da casa de sua ex-namorada, conseguiu ver o momento em que ela foi para o jardim com a pequena, viu também quando Luciana estendeu um lençol, jogou pelúcias que ele conhecia bem, afinal, ele quem as deu — Isso lhe arrancou um sorriso, ela guardou os presentes — E finalmente, as viu deitarem-se para observar as estrelas

— Ainda aí filho? — Dalva, a mãe de Júlio o abraça, afagando seus cabelos

— Eu gosto de olhá-la, mãe. Me imagino lá com elas — Ele diz pensativo — Sabe mãe?

— Hm?

— Não gosto de bancar o egoísta, mas gosto de saber que elas estão direto aí agora

— Entendo

— Como esse cara pode não dar o valor que elas merecem

— Filho — A mulher chama atenção do rapaz — Existem pessoas assim, Luciana deu uma chance a alguém que não presta, não podemos fazer muito. Também não gosto de vê-la sofrer, gosto dessa menina, sempre gostei, a filha dela é uma fofa — Júlio sorri ao pensar nas duas, ainda as observava, caíram no sono

— Ela é uma princesinha mesmo — Recostou o queixo na janela — Elas são lindas, não são?

— São sim, filho, muito lindas — A mãe confirma — E se eu fosse você, iria até lá

— Eu vou reconquistá-la, mãe — Ele afirma — Não sei como, mas vou


Voltei!!

HELENA - O TEMPO NOS DEVOLVE TUDO O QUE A NÓS PERTENCEOnde histórias criam vida. Descubra agora