Capítulo 15 - Minha sogra

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— É a Helena

— Hm, então é a filha do seu grande amor? Ela é tão bonita quanto a mãe — Karol observa a foto — O motivo é a menina? Ou a mãe da menina? — O deboche é eminente entre os amigos

— Karolyne, não provoca — Júlio brinca com Karol

— Entendi, então começa com L e termina com Luciana?

— Você gosta não é, garota? — Karol abre mais ainda seu avantajado sorriso com a brincadeira que tirava com os amigos

Voltando ao condomínio onde moravam, o mesmo que se encontrava a obra que Luciana trabalhava, a jovem arquiteta tirava as medidas finais do ambiente, aquele ambiente lhe era estranho e, ao mesmo tempo estranhamente familiar. Dalva sempre que podia abraçava a moça que viu crescer e amadurecer, onde a moça estivesse recebia o abraço, e a mesma aceitava de bom grado, era bom, quente e aconchegante, sentia-se segura naqueles braços. Santiago não perdera a intimidade com a moça, sempre a chamando por apelidos carinhosos, já Luciana, esta referia-se ao bebê que estava por vir como "nosso", "Quando o nosso Murillinho chegar", e só então, depois de falar que se dava conta que referia-se ao garoto como um sobrinho que estava por vir, recebia olhares carinhosos de ex-sogra e ex-cunhado

— Bom, por hoje é isso, pelo menos a minha parte é isso — Luciana fala com um carinhoso sorriso no rosto para os ali presentes

— Já vai minha filha? Fiquei mais um pouco, tome um café com bolo comigo em meu apartamento — A senhora insistia com Luciana, sabendo que esses eram seus pontos fracos desde muito nova, café com bolo e uma agradável conversa, mas Luciana tinha receio, havia sete anos que já não pisava naquele apartamento, se quer olhava direito para o prédio, como entraria agora fingindo que nada havia acontecido? Não sabia se era capaz. No entanto, a companhia de Dalva era tentadora

— Preciso mesmo ir, Dalva, tenho coisas no escritório para resolver — A jovem mulher lhe responde — Mas, se não estiver ocupada, pode ir comigo, em meu escritório tenho café, bolo e biscoitos, o que me diz? — A senhora se anima com o convite, há muito tempo não conversava com sua querida nora

— Não vai lhe atrapalhar, minha filha?

— De forma alguma que a sua presença me incomodaria, vamos? — A arquiteta lhe retribui o gentil sorriso da mesma forma, logo, a senhora a acompanha até seu carro

As duas foram o caminho numa agradável conversa sobre assuntos aleatórios, que iam desde as folhas das árvores que tranquilamente balançavam na doce melodia do vento do lado de fora do carro, até lembranças de quando Luciana era uma adolescente, até mesmo de seu relacionamento com Júlio, a moça não incomodava-se em relembrar esses momentos, eram tempos felizes na vida de Luciana

— Lembra-se da vez em que ele subiu em uma árvore para te ajudar a sair de lá? — Dalva perguntava

— Que a minha perna estava presa? E saiu extremamente vermelha? — Luciana recorda-se, gargalhando ao ter a cena presente em suas memórias logo após Dalva concordar — E aquela em que ele simplesmente chegou com uma filhote de poodle em minha casa? Num sábado de manhã?

— Nina, não é? — Luciana afirma com a cabeça — É muito carinhosa aquela cachorra. Minha filha posso te fazer uma pergunta inocente?

— Claro

— Você foi feliz com Júlio? — A senhora pergunta, já sabendo a resposta

— Dalva, posso ser muito sincera? — Luciana pergunta ao parar o carro no semáforo e a mulher acena positivamente — Eu fui imensamente feliz com o Júlio — Ela responde, olhando nos olhos daquela senhora, Júlio parecia-se com a mãe, os mesmos cabelos pretos e lisos, não eram lambidos, eram lisos e macios, já tivera o prazer de acaricia-los, tinha também a mesma pele branca e os mesmos olhos, o formato de sua sobrancelha, apenas a forma de olhar e o sorriso que não, esses eram encantadores como os do pai do rapaz. O sorriso do rapaz era galante e gentil, seus olhos eram intensos e expressivos

— E hoje? — Ela pergunta — Você é feliz? — Luciana dá a seta para entrar na rua de seu escritório, andando mais devagar para estacionar seu carro na vaga destinada

— Estou voltando a ser — Ela afirma ao estacionar o carro, Dalva entendeu, mas queria mais respostas, prometeu a seu filho que o ajudaria com a moça, e era isso que iria fazer. Ainda sem estar satisfeita com as respostas, mas ciente que não era um assunto a se tratar no meio do estacionamento de sua nora, a seguiu

Era perto do horário do almoço, quando Júlio saiu do escritório dando a desculpa que almoçaria fora aos seus colegas de trabalho, chegando ao estacionamento, foi surpreendido por Karolyne, que certamente já sabia o que ele faria

— Me seguindo? — Ele pergunta travesso

— Sim, quero saber qual vai ser a da vez — Júlio dissimulou e Karol revirou os olhos

— Qual é, Júlio! Hoje de manhã você chegou todo felizinho e tem algo a ver com Luciana, agora você está saindo na hora do almoço e eu tenho certeza que tem a ver com Luciana

— Como tem tanta certeza?

— Você devia se olhar no espelho quando fala dela — Karol fala segurando o riso — Você não se aguenta, Jú. Fica com esse sorrisinho estampado na cara, tá na cara que está apaixonado — O jovem administrador revira os olhos, entrando no carro — Foge não, admite pelo menos

— Admitir o que? — Ele dissimula mais uma vez e Karol podia jurar que seria capaz de mata-lo — Karol, minha amiga... não há nada que admitir, eu nunca neguei nada — Dito isso, Júlio simplesmente sai com o carro, deixando uma Karolyne incrédula com o que ouvira

Chegando ao escritório de Luciana, sem cerimônia nenhuma, o rapaz cumprimenta Nadja com um beijo no rosto, assim como fazia quando eram novos, a moça retribui com um sorriso. Cumprimenta também a estagiária com um aceno, que sorri tímida

— Ela está ocupada? — Júlio, que tinha um pequeno embrulho nas mãos pergunta

— A última vez que eu entrei aí na caverna da fera ela estava com a sogra, conversando enquanto terminava de planejar o quarto do sobrinho — Júlio estranhou a escolha de palavras de Nadja, não raciocinou bem o que a amiga quis dizer, até onde sabia, o divórcio já havia saído e o único quarto que ela estava planejando, pelo menos que tenha chegado ao seu conhecimento, era o de Murillo, sobrinho dele. Ela revirou os olhos ao perceber a confusão de Júlio — Vem cá na minha sala, vem

Ele então a seguiu, adentrando a sala de Nadja, Júlio sentou-se em uma das cadeiras que lá havia, não soltando o embrulho

— Ela não percebeu — Nadja começou, mas nos momentos que eu estive lá com elas, Luciana se referiu a sua mãe como "minha sogra" e ao Murillo, seu sobrinho como "Não vejo a hora de ver a carinha do meu sobrinho" — Júlio alargou o sorriso ao ouvir essas palavras

— Era a minha mãe que estava aí então? — Ele perguntou sorrindo, obtendo a afirmação de Nadja — Ela chamou a minha mãe de sogra? — Outra afirmação — Como ela falou? Foi assim do nada?

FLASHBACK

Nadja estava entrando na sala da amiga logo após ela ter chegado da obra e se depara com Dalva, a ex-sogra de Luciana

— Dalva? Tudo bem, querida? — Ela cumprimenta a senhora com um abraço e um beijo no rosto — Iai amiga? Como foi na obra? Como está ficando?

— Tudo muito lindo, amiga — Ela fala com empolgação — Não vejo a hora de ver a carinha do meu sobrinho, e de ver ele no quartinho dele — Nadja se espantou, o que havia mudado? Ela teria percebido o que acabou de falar? Talvez não

— Que coisa boa, na próxima visita eu quero ir ver — Nadja entra na empolgação da outra arquiteta

— Nad, ainda tem daquele capuccino que compramos? — A mulher pergunta e Nadja afirma — Eu vou lá buscar então, minha sogra vai provar hoje — Luciana sai da sala então, de forma tão inerte que não percebera a forma que se referiu a mulher a sua frente

— Você ouviu o que eu ouvi? — Nadja pergunta em choque e Dalva confirma com uma lágrima nos olhos

HELENA - O TEMPO NOS DEVOLVE TUDO O QUE A NÓS PERTENCEOnde histórias criam vida. Descubra agora