— Filha, me fala a verdade, por que você chamou o tio Júlio de papai?
— Não pode, mamãe?
— Isso não sou eu quem tem que te responder, e também não acho ruim, só quero saber o porquê
— As meninas dizem que eu não tenho papai — Helena se justifica — Eu só queria mostrar que também tenho um papai
Júlio olha para a pequenina cabisbaixa e em seguida para Luciana, que logo entende que o rapaz queria conversar com Helena, tendo entendido ela se afasta
— Eu vou atrás da Juliana, ela está demorando, você fica com ela? — Ele confirma, e Luciana dá um beijo estalado na bochecha da filha
— Vamos ali no parquinho, Helena? — Ela confirma e Júlio a pega nos braços para começar a caminhar
Ao chegar no parquinho do colégio, ele a coloca em um balancinho e senta-se no ao lado — Então quer dizer que estão dizendo para a minha princesa que ela não tem pai? — A menina confirma com a cabeça
— E você me chamou de pai para mostrar que tem um pai? — Ela confirma — Foi só isso mesmo?
— Como assim? — A menina pergunta confusa
— O que eu estou perguntando, princesa, é se você me chamou de pai só pra mostrar àquelas meninas que você tem um pai, ou se você me chamou de pai porque queria me chamar assim
— Não sei — Ela parecia envergonhada, e Júlio percebia isso
— Princesa — Ele abaixa na frente da pequena — Você tem a personalidade da sua mamãe — Ela sorriu — E a sua mamãe nunca abaixou a cabeça para ninguém, principalmente para criticas assim, e você também não me parece uma menina que se importaria com isso, estou enganado?
— Não — Ele sorriu e, ainda sentado com as pernas em borboleta a puxou do balanço para o seu colo — Você gostaria de me chamar de pai?
—Pode? — Ela tinha os olhinhos esperançosos
— O seu pai pode não gostar disso — Ele adverte
— Mas ele nem vai me ver, nem vem aqui me buscar — A menina protesta — Ele só aparece pra gritar com a mamãe
— Certo — Júlio respirou fundo, ele mal podia medir a raiva que tinha desse homem — Vamos fazer assim, você pode me chamar de pai, mas se a mamãe achar ruim você para, sim? — Ela confirmou animadamente e abraçou o homem, aninhando-se no colo do mesmo
Perto dali, Luciana ia ao encontro de Júlio e Helena, ao lado de sua sobrinha Juliana, e seu amigo de classe, Bruno, que iria almoçar com eles também, os dois iam na frente, brincando animadamente, Luciana parou um pouco para admirar as cenas presenciadas: Júlio e Helena abraçados como se fossem pai e filha, e Juliana e Bruno brincando, alheios ao mundo exterior, Luciana observava a intimidade deles, a mesma que ela compartilhou com Júlio em sua adolescência
— Vamos todos almoçar? — Luciana chama os quatro presentes
— Oba! O papai vai almoçar com a gente, mami?
— Papai? — Luciana o olha confusa, e ele se aproxima da moça
— Eu descobri o porquê, e nós combinamos que se você não se incomodar, ela poderá me chamar de pai, o que você acha?
Luciana, ao olhar para Júlio vira um brilho diferente, esperança se fazia presente, ele queria ser chamado assim, mas não era por ser chamado de pai. Era Helena que fazia isso com ele, o rapaz se sentia pai de sua pequena, e ela sentia alivio, alguém no mundo, além dela mesma, tinha Helena como seu mundo também, ela ficou feliz.
— Se eu me incomodo? — Luciana perguntou seriamente e ele recuou — Eu a criei quase sozinha por cinco anos, Júlio, e você está me perguntando se eu me incomodo que alguém está me pedindo permissão para amá-la na mesma intensidade que eu a amo? É sério? — Ela finalizou com um sorriso no rosto, um sorriso iluminado — É claro que pode
— Obrigado! De verdade, muito obrigado — Ele a abraça fortemente — Não sabe o presente que acaba de me dar
— Você que não sabe o bem que nos faz — Ela tinha o mesmo sorriso no rosto que ele
— Tia! — Juliana a chama, com a voz manhosa — Estamos com fome — Luciana ri da cara que a sobrinha, a filha e o amiguinho da sobrinha faziam
— Vamos comer — Júlio fala, deixando os três animados — E o rapazinho, quem é?
— Eu esqueci de te apresentar, Júlio, esse é o Bruno — Ela aponta para o garoto moreno de pele clara e olhos amendoados — Melhor amigo da Ju, vão fazer uma atividade juntos não é isso?
— Dupla de estudos — Ele responde divertido — É que normalmente, uma vez na semana nos juntamos, nós dois, o Lucas, a Dulce, o Vinicius e a Priscilla para estudar os assuntos e tirar duvidas, mas hoje a Pri tem médico, a Dulce tem exame de faixa do Judô, o Lucas tá doente e o Vinicius tá com a mãe que acabou de ter neném, então, dupla de estudos
— Entendi — Júlio, que tinha Helena nos braços responde sorridente enquanto caminhavam até o carro — Sabe, Bruno, quando nós dois estudávamos aqui, também tínhamos nosso grupo de estudos, éramos nós dois, o Andreas, que é o tio da Ju, a Thais que hoje é casada com o Andreas, a Nadja e o Gabriel — Júlio cita enquanto observa o garoto caminhando ao lado da sobrinha de Luciana, o menino carregava as duas mochilas e andava lado a lado a amiga, observando atentamente as palavras de Júlio
— Que legal, e hoje todos são casais? — Bruno, pergunta com sua inocência, deixando Juliana, que conhecia a história, um tanto envergonhada — Digo, o senhor e a dona Luciana e a dona Thais e o Andreas eu sabia, mas e a Nadja e o Gabriel? — O garoto leva uma cotovelada de Juliana, sem entender direito o motivo — Que foi?
— Digamos que sim, Bruno — É Luciana quem responde ao entrar no carro, ainda envergonhada com as perguntas dos mais velhos
— Será que a tia Thais vai estar em casa? Estou com uma dúvida feroz em história — Juliana se pergunta e Bruno concorda que seria bom que a pedagoga estivesse
— E por que só pode ser a Thais? — Luciana pergunta, sempre fora ciumenta — Eu não posso ajudar?
— É que é história tia, você é melhor em matemática — A menina explica prendendo o riso, pois havia percebido o ciúmes da tia
— Deixa de ser ciumenta, Lu — Júlio comenta ao soltar o riso que prendia
O almoço foi tranquilo, com as crianças entre suas brincadeiras que comentários sobre a escola, a menina Helena como havia sido seu dia e como havia ganhado a estrelinha que exibia na testa, Julio e Luciana escutavam atentos aos garotos. Ao acabarem seus pratos, Júlio deixa as crianças na casa da avó das meninas, o caminho para o escritório foi preenchido por um silencio confortável, podendo escutar somente a música After Hours ao fundo
— Obrigado — Júlio quebra o silencio — Hoje foi incrível
— Eu que tenho que agradecer
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HELENA - O TEMPO NOS DEVOLVE TUDO O QUE A NÓS PERTENCE
RomanceQuando o orgulho fala mais alto que a razão, ou, quando uma briga idiota e imatura é capaz de acabar com um relacionamento que tinha um belo futuro escrito, mas.....por quanto tempo? E quando uma promessa é feita e quem prometeu não consegue cumprir...