Capítulo 4 - Arregaçando as mangas

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E sem querer, 

acabei me tornando o seu super-herói preferido


— E a sua noiva, lida bem com isso?

— Dona Lúcia, a senhora já deve imaginar que, como as outras, essa não deu certo, Adriana é uma ótima pessoa, não merece esse sofrimento, estar com alguém que não pensa nela, concorda? — Lúcia concorda silenciosamente

Mais tarde naquele mesmo dia, Helena, como de costume havia ido para a casa da avó enquanto Luciana estava na obra, tem sido assim desde sempre, a única rede de apoio que sempre teve foram seus pais e o irmão Andreas, Marcos vivia como um verdadeiro nômade, ora em Pernambuco, ora em São Paulo, as vezes na Bahia ou Belo Horizonte. Quase que não via as filhas, só quando se endividava, aí voltava à casa de seus pais. Andreas era um homem autista com um nível de suporte baixo, tinha hiperfocos em super-heróis da Marvel e os esculpia em argila fria, reformava carrinhos em miniatura e os transformava em carrinhos icônicos de seriados dos anos 80 e 90. Andreas era um homem inteligente, Luciana tinha orgulho dele, formou-se em engenharia civil, casou-se com uma mulher muito boa e inteligente, pedagoga, compreensível. Thaís, sua cunhada, era uma boa moça, uma boa esposa, boa mãe para Arthur e uma ótima profissional.

Era por volta das 15h quando Helena brincava sozinha com um pequeno boliche de madeira enquanto Lúcia costurava e o senhor Milton assistia a algum jogo de futebol quando a pequena avista uma figura masculina adentrando a varanda da casa, como fazia pelas tardes que a menina estava com a avó, Júlio afrouxava a gravata e retirava o paletó, arregaçava as mangas da camisa social branca, retirava os sapatos e as meias e abaixava-se para falar com a pequenina

— Tio Júlio!! — A menina abraçava forte o rapaz que retribuía na mesma intensidade

— Como vai? — O rapaz pergunta ainda em meio ao abraço do mais velho, ela tinha as perninhas entrelaçadas no tronco de Júlio — Como foi na escola hoje?

— Bem — A menina começa — Aprendemos as cores primárias hoje e eu ganhei uma estrelinha no mural — Diz ela mostrando o papelzinho dourado em formato de estrela que tinha grudado no dedo

— Muito bom, minha garotinha esperta — Júlio bate palmas a aplaudindo — E a mamãe já viu? Ela gostou?

— Ela e a mana Ju — Disse ela colando a estrelinha na testa — A mana Ju também ganhou uma estrelinha, mas foi no caderno

— A sua prima Juliana, não é? Porque a chama de mana? — Júlio questiona, Luciana sempre teve muito apego na sobrinha mais nova, levava a faculdade, shopping e parques

— Porque ela é a minha maninha e eu amo ela — A menina explica como se fosse óbvio

— Claro que sim, pequena, claro que sim — Ele afaga os cabelos de Helena — Me conta mais da escola — Assim passaram boa parte da tarde, Helena contava sobre a escola e seu dia a dia

— E a minha festa é semana que vem, você vai não é tio? — A menina suplica com as mãozinhas juntas

— O tio vai tentar, tá bom? — Helena faz que sim com a cabecinha — E quando vai ser? Hm?

— Hm — Ela coloca o dedinho na cabeça como se pensasse — Na sexta-feira

— Tá bom, o tio vai fazer o possível e o impossível para ir na sua festinha, tá bom assim? — Ele pergunta e ela acena — São duas promessas agora — Ele diz pensativo

— Que? — A menina pergunta, confusa

— Nada não bonequinha — Ele dá um beijo na testa da pequena — Agora vamo lá, vou te entregar para a vovó e vou voltar a trabalhar

— Mas já? — Ela protesta

— Já sim senhora — Ele fala fazendo cocegas na pequena — Amanhã o tio volta, tá bom? — Ela, relutante dá a mão para o rapaz que a coloca nos ombros, ao entrarem na sala escutam o avô da menina falar

— Heleninha, vai lavar as mãos, vamos jantar — Helena vai deixando um beijo na bochecha de Júlio

— Júlio — Ele escuta Lúcia o chamar em seu pequeno ateliê e assim ele vai

— Oi Lúcia, como vai?

— Estava boa a brincadeira? — Lúcia prende a risada ao ver o rapaz com manchas de tinta pela camisa social branca e a gravata suja com dedinhos de tinta

— Muito — Ele solta uma risada — Tudo por ela, a senhora sabe

— Sei sim — A mulher concorda, é uma frase que ele sempre fala quando se refere a Luciana ou a Helena — Ouvi a Helena falar da festinha dela, olha se você não quiser ir não tem problema

— Dona Lúcia — Ele senta-se em uma das cadeiras ali — Há 10 anos eu prometi algo a sua filha, e eu tenho cumprido desde então, ela pode não saber, mas estou. Agora, eu prometi algo a sua neta, e eu vou cumprir. — Ele finaliza com um sorriso

— E quando será?

— Próxima sexta, naquele salão de trampolins 


Opa!!

Cheguei

Boa leitura!

HELENA - O TEMPO NOS DEVOLVE TUDO O QUE A NÓS PERTENCEOnde histórias criam vida. Descubra agora