O dia amanhecia trazendo ao céu uma tonalidade rosa sútil e bonita. Os primeiros raios de sol apontavam no horizonte. A vista era linda. No muro da varanda da casa do velho avô, Jade olhava as sementes de alpiste que ele deixava ali todos os dias para os pássaros. Alguns estavam pousados ali. Reviveu em sua memória, quando, mesmo doente, ele levantava todos os dias e ia deixar comida ali para eles. Deu uma respiração profunda e deixou uma lágrima cair. Olhou o relógio em seu pulso, e já eram quase 7 horas. Seu ônibus passaria em breve.
Era domingo, o sepultamento de seu avô havia sido na quinta, e ela ficou na cidade com a família, para dar apoio a seu pai. Agora era hora de voltar para a cidade grande, para sua realidade, para sua vida. Seu avô havia descoberto um câncer muito agressivo no intestino havia 3 meses. 3 meses foram o suficiente para levá-lo embora. O coração dela estava apertado, como se realmente uma mão existisse dentro de si o segurando e espremendo até não poder mais. Era sacrificante não poder fazer nada. Ele era um homem simples, sem luxos, que gostava de cuidar da sua roça, de plantar e de colher. Jade passou muitas tardes ao lado do avô sentados no velho banco de madeira olhando a plantação, ouvindo as mesmas piadas, e aprendendo muito sobre a simplicidade e sobre a felicidade que o pouco carrega. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. Sua garganta fechada por um nó. Ela queria gritar, na esperança daquele sentimento ir embora, mas não podia.
Uma notificação chegou em seu telefone pelo WhatsApp. Deu um fraco sorriso quando viu o nome na tela: Laura.
"Oi, não vou perguntar como você está, pois posso imaginar... soube do que aconteceu e sinto muito"
"Se estiver precisando conversar, vai ter música no deck hoje, no fim da tarde e é algo bem tranquilo"
"Vi o rolê e lembrei de você"
"Fica bem"Jade não tinha forças para responder, apenas visualizou. Não estava querendo decidir nada naquela hora. Apagou a tela do celular e fechou os olhos, seguindo viagem.
Após ser recepcionada por Ana, Gabi e Luc, e de almoçarem juntos, ela se recolheu em seu quarto. Ligou o computador, adiantou algumas coisas da faculdade na tentativa de fazer a rotina voltar ao mais próximo do normal para sentir menos o que estava sentindo. Respondeu e-mails, colocou uma música, tomou um banho, desfez a mala e colocou tudo pra lavar. Ficou um pouco na sala com Ana, assistindo um programa de culinária qualquer. Sentia novamente a boca do estômago embrulhando e a garganta querendo queimar. Queria fugir do sentimento. Pegou o celular e respondeu Laura, horas depois:
" Não sou a melhor companhia do mundo hoje... mas te vejo lá"
Levantou-se
- Amiga, tudo bem?
- Sim, vou me trocar, vou sair.
Ana pareceu supressa.
- Vai aonde?
- No deck perto da faculdade encontrar com a Laura.
- Laura?
- Você não conhece, ela estava comigo no bar na quarta, lembra? Quando você me achou.
- Ah, sim lembro, uma morena bonita?
Jade fez que sim com a cabeça.
- De onde você conhece ela?
- Da minha entrevista na Opium. Ela é bem legal, me chamou na intenção que eu me distraia.
- Ah amiga então vai sim. Quer mais uma companhia?
- Eu não vou demorar, não precisa se preocupar.
- Tá bom. Qualquer coisa manda mensagem.
- Pode deixar.Entrou para o quarto e se trocou. Colocou uma calça jeans com rasgo no joelho, e um tomara que caia preto. Calçou sua sandália, pegou uma bolsa pequena também preta, de lado, e colocou alguns pertences. Tentou dar um jeito nas olheiras mas desistiu. Seria impossível disfarçar. Pegou seu óculos e foi caminhando a pé. O sol começava a se pôr, já não estava mais tão quente.
Avistou o deck, não estava cheio. Um cara mais velho tocava uma música a voz e violão sentado em um banco e algumas pessoas estavam em volta. Outras estavam espalhadas pelo local, sentadas no chão em grupos conversando. Era um deck todo de madeira, bem rústico, na beira de um rio que cortava o lugar. O sol se punha logo atrás desse rio, nas montanhas, trazendo um visual lindo. Jade sentiu uma paz profunda olhando aquilo. Subiu o pequeno lance de degraus e chegou. Não avistou Laura de imediato. Sentou- se no chão mesmo, um pouco afastada dos grupos, onde a música chegava mas não tão forte. Ficou encarando o sol baixar. Logo sentiu uma presença perto de si. Era ela.
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Caminhos - 1 temporada.
RomanceAté onde a paixão pode desconfigurar quem você é e toda sua vida? Até onde vale a pena ir em nome do amor de alguém? Laura conhece Jade em uma festa, e a obsessão nasce. Laura, sua vida conturbada,seus demônios e os caminhos dessa história que se d...