Deitada no sofá Jade não entendia porque a dor só piorava.- Tem certeza que você não quer ir? – Ana surgiu na porta, toda arrumada e seu perfume tomando conta de todo o espaço. Seu olhar era de compaixão para com a amiga. Ana, aquela figura alta, loira e com o sorriso estupidamente perfeito e contagiante parecendo uma princesa. – Vamos amiga, vai ser bom! O bar vai estar cheio, cheio de gente nova pra você conhecer. – Insistiu.
- Foi mal amiga, eu realmente não tô no clima. – Desviou o olhar para a tv, tentando não deixar evidente o choro chegando.
- Tudo bem, eu só vou porque o Arthur está lá, mas eu não demoro ta? Venho cedo pra ficar com você.
- Ana, pode ir se divertir. Eu vou ficar bem, juro. Quero que você se divirta.
- Tu tá me pedindo algo impossível, eu odeio te ver assim! Me liga se precisar de algo?
Jade assentiu com a cabeça e acompanhou a amiga sair. Quando ouviu o barulho das chaves trancando a porta, se permitiu respirar e chorar. Se lembrou daquela noite, há anos atrás, quando havia ido no Bar da Renata com Ana pela última vez.
Noite quente de segunda feira, os calouros da faculdade estavam em peso naquele lugar. Jade acabara de receber a resposta de Laura á sua mensagem, e soltou uma risada ao ler que a menina quase tinha colocado fogo em seu apartamento. Antes que pudesse responder, Ana entrou pela porta animadíssima e fez o mesmo convite que acabara de fazer segundos atrás: beber com os calouros.
Depois de muita insistência, lá estava ela, de banho tomado, short jeans e regata preta, cabelos úmidos e rasteira; rumo ao bar.
Fechou os olhos se deixando guiar pela doce memória:
Bar lotado, música alta, cerveja gelada e barata. Encontraram Mau e Lari, dois amigos da faculdade. Conversaram e riram horrores. Foi até o balcão pedir mais um litrão e enquanto esperava tirou o celular do bolso e respondeu Laura:
"kkkkk, meu Deus, como assim?"
O garçom entregou a cerveja, ela pegou e ao voltar para os amigos, a reconheceu ali no meio de um grupinho. Era Laura, que agora lhe abria um sorriso. Não tinha como evitar. Foi até lá.
Ouviu toda a história de como quase incendiou a própria casa, tomaram aquele litrão, fumaram um baseado, e dali outras e outras histórias saíram, até descobrirem que eram do mesmo signo, que faziam aniversário um dia depois da outra. Os olhares eram famintos e alimentados pela coincidência. Era gostoso estar ali, com aquela até então, estranha da entrevista de emprego e que agora se mostrava ser uma garota totalmente independente, engraçada e de boa energia.
Nesse mesmo dia descobriram que eram quase vizinhas. Laura a acompanhou até em casa e despediram-se combinando uma próxima saída em breve. A sensação para Jade era de que dali poderia surgir uma bela amizade.
Mas surgiu bem mais que aquilo.
E o resultado dessa combustão estava resumido agora ao pó miserável em que Jade se encontrava.
2 da manhã, olhando pela janela a rua vazia, vendo os poucos carros que passavam desejando com todas as forças que um deles fosse o carro dela, o carro daquela que partiu seu coração em mil pedaços. Desejando que de alguma forma mágica, ela aparecesse no seu portão e tudo ficasse bem. E as coisas se reconstruíssem, sem mentiras, sem passado, sem mágoas. Só um recomeço com final feliz.
Doía em sua alma saber que aquilo não aconteceria. Era tarde demais para as duas.

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Caminhos - ROMANCE LÉSBICO
RomantizmLaura conhece Jade em uma festa, e a obsessão nasce. Laura, sua vida conturbada, seus demônios e os caminhos dessa história que se dividirão em muitos e ainda se dividem. Paixão, desejo, reencontros, recomeços e o fim.