Capítulo 2

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    As lágrimas caíam sobre algumas fotos do ex-casal. Lucero não entendia as razões por estar tão vulnerável, mas no fundo sabia a resposta exata. O concerto virtual com Mijares reuniu um momento especial: cantaram alguns de seus sucessos individuais, assim como os duetos que gravaram ao longo de suas carreiras como casal. A presença dos filhos também contribuiu para criar uma atmosfera nostálgica, levando os fãs à loucura. Tudo isso trouxe à Lucero memórias de um passado bonito, em que eram felizes como uma família.
     Tendo em mente que, se continuasse vendo aquelas fotos, estaria fadada a sofrer, Lucero se perguntava por que ainda sofria. Estava em um relacionamento de muitos anos com o empresário Michael Kuri e se convencia de que era uma mulher completamente feliz ao lado dele. Decidiu, então, guardar seu álbum de casamento em um cofre no fundo do closet, para evitar que Kuri visse aquilo e ficasse chateado. Ao olhar para o vestido de casamento que usara com o ex-marido, sobre a cama, ela se deu conta do quão idiota havia sido com o atual namorado. O que ela estava pensando ao levar o vestido consigo? O que ele estaria pensando naquele momento?

— Como assim, desligado? — murmurou, ao ouvir a mensagem na caixa postal: "Aqui é Michel Kuri, por favor, deixe seu recado e retornarei sua ligação em breve." Aquilo soava preocupante; ela temia que ele pudesse interpretar as coisas de maneira equivocada.
       Já era quase meia-noite, e Lucero não conseguia pregar o olho. Se revirava de um lado para o outro, sem conseguir dormir por mais que tentasse. Estava sozinha em casa, ou melhor, estava com Runa, sua cachorrinha. Lucerito, a filha mais nova, após o concerto, pediu para dormir na casa de uma amiga e disse que de lá seguiria para a escola, garantindo que a mãe não precisava se preocupar. José, o filho mais velho, já era maior de idade e sabia bem o que fazer da vida. Ainda morava com a mãe, mas naquela noite optou por dormir na casa do tio Antônio. Quanto aos empregados, estavam em seu dia de folga.
    Tomada pela angústia de ser ignorada pelo namorado e pela insônia, Lucero foi até a geladeira pegar um copo de água. Seguiu para a varanda em busca de um pouco de ar, enquanto continuava a olhar o celular com frequência, mas não havia nenhuma mensagem dele. Em um momento, ao virar a cabeça, percebeu que Mijares estava ali, na varanda de seu quarto, visivelmente bebendo um copo de whisky e parecia chateado com alguma coisa.
    A mansão era um espaço que ambos haviam comprado quando ainda eram casados. Contudo, com o divórcio, Lucero sabia que as crianças também precisavam do pai e não queria se afastar. Sabendo o quanto Mijares era apegado aos filhos, chegaram a um acordo: a mansão, sendo imensa, passou por algumas reformas para garantir que não houvesse invasão de privacidade por nenhuma das partes. Ambos tinham espaço suficiente para viver suas vidas como quisessem, sem precisar invadir o território do outro.
    Dessa vez, era ele quem a encarava. Ela usava um baby doll com estampa de gatos, de shorts curtos, mais um de seus presentes que recebia de suas amadas Lucerinas. Imediatamente, ela se escondeu de seu campo de visão e fechou as portas da varanda. Seu coração parecia saltar: "Que vergonha, como ele pôde ter me visto dessa maneira?" Suas bochechas coraram.
     A campainha começou a tocar de forma insistente. Era tarde, e ela confessava estar um pouco receosa de abrir a porta, mas logo reconheceu a voz do amado. Era Kuri, mas ele parecia alterado.

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