Capítulo 17

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     A seu pedido, o amigo o deixou completamente sozinho na sala do escritório, apenas com a companhia do uísque. Olhou brevemente o celular sobre a mesinha e viu, no mínimo, três ligações de Lucero, que provavelmente buscava explicações para o seu sumiço. No entanto, não se sentia pronto o suficiente para falar com ela; estava abatido e desanimado. Quando Kuri comentou sobre o quão fracassado ele poderia parecer aos olhos de Lucero, aquele sentimento de inadequação, que o acompanhara durante o casamento e o divórcio, invadiu-o novamente. Era um dos traumas que não conseguira curar.
    Quando o casamento começou a demonstrar sinais de que não ia bem, Mijares alimentava a ideia de que realmente conseguia fazer Lucero feliz. Ela era do tipo sociável, enquanto ele era reservado e de pavio curto. Arrependeu-se de ter sido assim, ao perceber que perdeu inúmeros momentos que poderiam ter sido divertidos e inesquecíveis ao lado dela. Embora não pudesse voltar no tempo, temia o presente. Deus estava sendo tão generoso ao colocá-la em seus braços novamente, mas e se ele falhasse? E se a deixasse infeliz como um dia a fez? Não queria passar por mais uma frustração. Reprimiu até as memórias de quando ela oficializou seu relacionamento com Kuri; foi doloroso suportar e disfarçar que estava tudo bem.
     Colocou mais uma dose de uísque, tomando-a de uma vez, vestiu seu terno, pegou as chaves e saiu. Não estava bêbado, mas também não estava completamente sóbrio. Ligou o carro de Lucero no estacionamento e seguiu para casa. O relógio marcava meia-noite em ponto; estava bem tarde. Lucerito foi a primeira a dormir, deixando apenas a mãe acordada.

— Senhora Lucero, deseja mais alguma coisa? — perguntou a empregada.

— Não, obrigada. Pode ir dormir.

— Bom descanso, senhora Lucero.

— Para você também, linda. — Sorriu.

      Lucero estava vestida com um roupão de seda branco, liso, e usava pantufas da mesma cor. Ela ainda esperava por Mijares, cheia de inquietude, associando seu desaparecimento a algo ruim. Mas seu coração logo se aquietou quando Mijares entrou pela porta como um furacão e a abraçou com tanta força que a deixou sem reação.

— Não me deixe, por favor! — ele repetia, chorando como uma criança. Ela ficou em silêncio por alguns minutos, surpreendida; não era do perfil de Mijares ter aquele comportamento.

— O que aconteceu com você?

— Me prometa, por favor. Eu juro que não vou suportar de novo, Lucerito.

— Calma, Manuel. Você não vai me perder. — Ela estava preocupada com ele e o abraçou ainda mais forte para demonstrar segurança.

— Me dê a oportunidade de ser alguém melhor do que fui. Se você quiser que eu seja um palhaço, eu serei. Ir a eventos, eu irei. Só não me deixe sem opções.

— O que está acontecendo com você? Manuel, olhe para mim. — Ela o afasta suavemente, segurando-o pela bochecha. Nota que ele está com a pele avermelhada, quase roxa.

— Onde você se machucou?

— Não foi nada.

— E você está cheirando a uísque. Vem, você precisa de um banho. Depois, você vai me contar tudo.

     Lucero o ajudou a subir as escadas com cuidado, chegando ao quarto e o colocando diretamente sob o chuveiro. O efeito do uísque estava se tornando cada vez mais evidente quando ele a puxou para dentro do box.

— Manuel, olha só, você me molhou inteira. — Ela reclamou, mas ele nada disse e a beijou, fazendo-a esquecer que estava molhada.

— Eu te amo. Sempre te amei e você será a única que amarei por toda a minha vida, até o último dia, e até os dias que possam vir depois dele.

— Manuel... — Ela começou, mas ele a beijou com mais fervor.

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