Capítulo 20

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     Parecia ter voltado no tempo. As lágrimas escorriam pelo rosto, mas ela continuava imóvel, como se revivesse cada episódio de violência provocado por Kuri. A sensação era repugnante. Mais ainda por ver sua mãe defendê-lo com unhas e dentes, mesmo após presenciar inúmeras discussões do casal. Só agora, livre daquele tormento, Lucero percebia o quão tóxico ele havia sido. Mas dona León nunca lhe deu razão. A culpa sempre recaía sobre os ombros de Lucero, a fazendo pedir desculpas ao genro. No entanto, dessa vez, não seria como as outras. Bastava. Já tinha sido mais do que suficiente. Ela planejava contar sobre o rompimento com mais delicadeza, considerando o amor que sua mãe nutria por Kuri. Contudo, o que ouvira foram apenas palavras secas, desprovidas de qualquer consideração, como se a mãe não se importasse com seus sentimentos.
    Respirou fundo, secou as lágrimas e, de volta à cruel realidade, respondeu firme:
— Não vou fazer isso, mamá, porque terminei com ele.

    Dona León, com uma expressão confusa, se aproximou da filha:
— O que você disse? Acho que não entendi.

— Eu terminei com ele, e tive meus motivos. Motivos que não cabe à senhora saber. Sinto muito se a decepcionei, mas sou uma mulher adulta, capaz de tomar minhas próprias decisões.

    O tom de incredulidade e raiva dominou a voz da mãe:
— Você está louca, Lucero? É isso mesmo que acabei de ouvir?

— Como minha mãe, a senhora deveria me apoiar e acreditar que eu tinha razões para isso. Nossa relação estava desgastada, e a senhora sabe disso.

— Desgastada? Lucero Hogaza León, a sua relação não estava desgastada! Só tem um nome para tudo isso, e esse nome é Manuel Mijares! — Senhora León praticamente gritou, exaltada, deixando o veneno de suas palavras pingar como gotas ácidas.

    Lucero, sem conseguir conter a pressão, desabafou:
— Não queria te dizer dessa forma, mas não tenho outra escolha. Nem consideração teve para me falar essas palavras tão cruéis. Vou voltar com Manuel. E dessa vez, nada e ninguém nos separará.

    Senhora León, com os olhos arregalados, disse em um tom baixo, como se não acreditasse no que ouvia:
— Repete o que acabou de dizer, porque acho que a idade está afetando meus ouvidos.

— Eu vou voltar com Manuel, mamá. E não há nada que possa mudar isso. Só Deus pode nos separar.

—  VOCÊ PERDEU O JUÍZO?! VOLTAR COM SEU EX-MARIDO, DEPOIS DE SE TORNAR AMANTE BARATA DELE? EU NÃO VOU PERMITIR QUE VOCÊ JOGUE SUA CARREIRA NO LIXO DEPOIS DE TUDO O QUE CONQUISTEI PARA VOCÊ! — A voz da mãe retumbou pela sala, e antes que Lucero pudesse reagir, sentiu os dois tapas ardidos no rosto. Dona León, fora de si, começou a golpeá-la com a bolsa, enquanto Lucero chorava como uma criança indefesa.

      Após o ataque, a senhora León se jogou no sofá, enquanto Lucero permaneceu no chão, os soluços ainda presos à garganta. A mãe a olhava com desprezo absoluto. Testemunhando a cena, os empregados estavam perplexos, assim como Lucerito, que observava tudo, incrédula. Nunca, em todos os seus anos, havia visto as duas brigarem daquela forma. Era a primeira vez, e o impacto era devastador.

     Lucerito, tentando se manter despercebida, subiu as escadas rapidamente e correu para o quarto. Nervosa, ela pegou o celular e começou a ligar desesperadamente para o pai, que, para seu desespero, não atendia.

Senhora León, com a voz fria, mas sem a intensidade anterior, perguntou:
— Lucero, é isso mesmo que você quer?

Lucero, trêmula, tentou reunir forças para responder:
— Sim, mamá... Eu amo Manuel, e espero que entenda isso.

A mãe se levantou do sofá, pegando a bolsa de maneira calculada:
— Pois bem... — ela disse, os olhos duros como pedra. — A partir de hoje, esqueça que tem uma mãe, uma empresária. Está sozinha com ele. E quando ele fizer tudo de novo, não venha chorar como um cachorro na chuva, implorando por ajuda.

Lucero, em prantos, apenas murmurou:
— Me desculpe...

Sem sequer olhar para trás, dona León cruzou a porta, deixando a filha arrasada em todos os sentidos.

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