Twentysomethings

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Sai do aeroporto de Miami sentido o ar fresco do inferno. Como pode em um país onde está tudo frio existir uma cidade tão quente?

Minhas mãos tremiam quando o Uber entrou em West Miami, senti me coração pular uma batida quando entrou na SW 14° St no endereço que minha avó havia passado - a casa da família da Camila -. Não quis nem saber como ela conseguiu o endereço, tudo que eu quis foi sair do aeroporto e ir direto para lá. Quando o carro parou em frente ao número 6347 eu me perguntei “Como eu ia conseguir chegar aqui sem ajuda?

A realidade me acertou um soco na cara, eu ia fazer o que sem a ajuda da minha avó? Descer na Flórida e bater de porta em porta até encontrar a Camila? Eu estava tão louca que nem um hotel eu havia reservado. Se não fosse minha avó, se não fosse a Dinah...

O Uber olhou para trás esperando que eu saísse, ele já havia aceitado outra corrida, mas minhas pernas só queriam correr para longe dali, na verdade, elas pareciam gelatinas. Meu estomago estava enjoado e eu só queria morrer.

Sai do carro me arrastando mais do que as rodinhas da minha mala. O calor da tarde estava menos sufocante ali, onde o aroma inebriante de lilases perfumava o ar. Olhei o pequeno e bem cuidado jardim a frente da casa; um homem alto e grande se abaixou para arrancar uma erva daninha e sacudiu as raízes para tirar a terra. Não havia nenhum carro na entrada.

— Sei que parece trabalho, mas pra mim não é. — O homem disse — É assim que relaxo e não deixo a minha mulher doida. — Ele sorriu para mim e, mesmo com os cabelos grisalhos e as rugas de expressão profundas, ainda tinha um sorriso de menino, alegre e travesso. O mesmo sorriso da Camila. Com certeza era o pai dela.

— Gosto de trabalhos manuais também, mantêm meu réu primário intacto. — Brinquei, minhas mãos estavam escondidas no bolso de trás da minha calça jeans, elas tremiam demais para eu deixa-las a mostra.

O homem pegou o garfo de jardinagem e me encarou. — Achei que música fosse manual.

Sim, ele sabia perfeitamente quem eu era; aquele olhar, aquele comentário, não deixavam dúvidas, ele sabia com certeza quem eu era. 

— Transformar seu hobby em trabalho é se transformar em escravo do abismo. Nunca preenchemos o vazio, nunca ficamos satisfeitos.

— Camila não me falou desse seu lado filósofa. — Ele sorriu novamente e fez uma careta para a terra no chão. — Ela deve chegar logo.

— Gostaria de encontrar com ela, se não se importar em me passar o endereço.

O homem se abaixou, alguns sinais de calvície ficaram aparentes, ele colocou o garfo de jardinagem no chão, pegou uma luva e veio em minha direção. — Então, menina Lauren, eu sei que você é limitada intelectualmente quando é para tratar bem minha filha, então é melhor você esperar ela chegar aqui.

Ele se aproximou de mim, pera! Ele me chamou de burra?

— Deixa a menina. — Uma jovem senhora loira de óculos apareceu na porta, um copo de suco vermelho na mão.  — Camila deu uma saída, mas não vai demorar.

— Por favor, senhora. — Dei alguns passos em direção a ela — Eu preciso ir aonde a Camila está. Me dê o endereço.

Ela me olhou com pena. — É um pouco longe daqui.

— Não me importo, porque garanto que é mais perto que New York me eu vim de lá.

****

O uber olhou para trás, me encarando através do retrovisor. Com certeza cubano.

— ¿Qué tienes?

Intersex - a história  de LaurenOnde histórias criam vida. Descubra agora