June gloom

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Gente, perdi essa conta, recuperei essa semana, por isso o motivo q sumi. Voltamos a nossa programação normal kkkkkk

Eu fujo do amor, como um morcego que voa pra longe quando alguém acende a luz.

Eu sempre fugi do amor, mas então ela apareceu, com aqueles olhos grandes e castanhos, olhos de alegria, olhos com profundidade, com verdade, olhos com carinho, olhos de Camila.

Eu fujo do amor, corro com pressa, deixando pedaços de mim pra trás.

Mas ela apareceu com aquela gargalhada alta e continua, aquela gargalhada que engasga e faz aquele barulho engraçado no nariz.

Minha vida inteira eu corri do amor, mas dela eu corri mais devagar, olhando para trás a cada passo...

Minha vida inteira eu corri, fugi do amor, mas dessa vez eu não quero fugir.

Naquele dia que eu deveria almoçar com a família da Camila... eu fui embora e não fiquei; fui cuidar da minha saúde mental, fui atrás de psicólogos e psiquiatras, como um acidentado que corre para a sala de cirurgia.

Os pais dela devem ter percebido meus olhos vermelhos de chorar, eles me olharam com pena quando falei que não ficaria para o almoço, queriam me confortar, senti isso.

Não gosto de parecer vulnerável na frente de ninguém, mas ali não me senti julgada, aquela voz que sempre grita dentro de mim ficou em silêncio.

Prometi que voltaria, prometi almoçar com eles e uma semana depois eu estava ali, na cozinha daquela casa simples, mas cheia de amor.

Ele, o pai presente, estava de um lado para o outro na cozinha, pano de prato no ombro, enquanto contava histórias da Camila.

— Não é porque é mi pequeña, mas Camila sempre me preocupou quando ia pros esportes. Eu ficava aflito, já vestia roupa de sair esperando ela chegar pra levá-la ao hospital. 

— Era tão ruim assim? — Perguntei enquanto eu cortava tomates. 

Alejandro parou de mexer a colher na panela e me olhou. — Aos 11 anos ela inventou de jogar bola com os meninos da rua, não tinha bola, deram a ideia de jogar com uma lata de óleo de caminhão. Camila era o goleiro e defendeu o chute com a testa. Preciso nem dizer nada.

Me engasguei com o meu riso e levei o tomate picado para a panela que ele mexia. — Entendi agora da onde veio aquela cicatriz na testa.

Ele voltou a mexer a colher. — Tenho uma história que gerou cicatriz pra cada ano da vida dela, na verdade foi assim que desconfiamos que ela tinha algo diferente, você sabe, aquela doença lá.

Ele se encolheu um pouco, não era um assunto que ele se sentia confortável em entrar, então voltei a atenção em lavar a faca. Ele me olhou grato, há coisas que doem falar sobre, entendo perfeitamente, principalmente quando não há muito que podemos fazer pela pessoa que amamos.

— E você? Gostava de esportes na infância? — Ele me perguntou enquanto tentava abrir um vidro de palmito.

Dei de ombros e voltei a bancada — Não, sempre gostei mais disso aqui. — Abri os braços mostrando ao redor e respirei fundo. — Do cheiro, dos temperos, das texturas e das aventuras da cozinha. — Juntei os pepinos e comecei a lavá-los na pia. — Não tenho histórias de aventuras no esporte, só na cozinha.

Intersex - a história  de LaurenOnde histórias criam vida. Descubra agora