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A luz suave da manhã invadia o quarto do hotel, filtrada pelas cortinas semiabertas e projetando um jogo de sombras nas paredes

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A luz suave da manhã invadia o quarto do hotel, filtrada pelas cortinas semiabertas e projetando um jogo de sombras nas paredes. Eu estava sentada na cama, com o notebook no colo, os dedos suspensos sobre o teclado, mas sem digitar nada. O cursor piscava na tela em branco, esperando pacientemente pelas palavras que eu deveria escrever sobre os primeiros eventos das Olimpíadas.

Eu havia me preparado mentalmente para essa manhã, organizando as pautas na minha mente: as últimas atualizações das competições, entrevistas agendadas, detalhes técnicos... Mas agora, tudo isso parecia distante, quase irrelevante, em meio à tempestade de pensamentos que o reencontro com Bruno havia desencadeado.

O encontro inesperado do dia anterior me pegou de surpresa, como um fantasma do passado surgindo de repente diante de mim, trazendo consigo uma avalanche de emoções que eu pensei ter deixado para trás. O choque inicial ainda reverberava, como uma melodia antiga tocando de novo, reabrindo feridas que eu acreditava já terem cicatrizado.

Não.

Não, não.

Essas feridas não se reabriram... porque, na verdade, eu nunca consegui curá-las completamente.

Suspiro, desviando o olhar do monitor para o horizonte que se desenhava além da janela, onde o céu se estendia em suaves tons de azul. Paris, a cidade dos encontros e desencontros, das memórias e dos amores perdidos... Quem diria que aqui, em meio à maior cobertura esportiva da minha carreira, eu reencontraria alguém que marcou tanto o meu passado? Quanta ironia havia nisso?

Eu sabia que ele estaria aqui, era quase inevitável, considerando a brilhante carreira que Bruno construiu no vôlei. Mas nunca imaginei que nos encontraríamos de forma tão aleatória em um restaurante.

Fecho os olhos por um momento, permitindo-me reviver o abraço de despedida da noite anterior. Aquele breve contato foi uma mescla agridoce de nostalgia e realidade. Por um instante, voltei a ser a adolescente que se sentia segura em seus braços, lembrando a última vez que provei do seu carinho e conforto. E então, de como optei por nunca mais sentir isso.

Todo mundo tem sua cota de arrependimentos, de uma forma ou de outra. Eu não sou diferente. Podem ter se passado vinte anos, mas a forma como minha relação com Bruno terminou... foi contra tudo o que sou e acredito. Vê-lo novamente, sentir sua presença e ouvir sua voz só me faz perceber o quanto eu desejaria poder lhe pedir perdão pelo que fiz naquela época, e contar a verdadeira razão por trás das minhas ações.

Pra Você Guardei O Amor • B. RezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora