Estava claro, mesmo que fosse difícil admitir: estávamos prestes a perder o jogo.
A sensação era sufocante, como se o ar dentro do ginásio estivesse denso demais para respirar. Cada ponto da Itália parecia mais um prego no nosso caixão. O placar não mentia, e a realidade se aproximava como uma sombra implacável.
Mas o que mais me atormentava não era a derrota iminente. Era a sensação de inutilidade, de estar ali, no meio da quadra, sendo tudo menos o capitão que eles precisavam. Meus movimentos eram automáticos, fruto de anos de treinamento, mas minha mente... ela estava longe. Perdida em conversas inacabadas, em confrontos familiares, em lembranças dolorosas.
O voleibol sempre foi meu refúgio, o único lugar onde eu podia me desligar de tudo e ser apenas eu. Mas hoje, a quadra parecia um campo de batalha interno, onde minhas próprias emoções me sabotavam a cada saque, a cada bloqueio. Eu olhava para a bola e, em vez de me concentrar no jogo, via os fragmentos de tudo o que estava desmoronando dentro de mim. Olhava de relance para o meu pai, e toda a farsa em que minha vida se transformou me encarava de volta.
Eu tentava me desligar, mas era impossível. A pressão estava em mim, e qualquer um pode me culpar por não estar à altura? Claro que sempre tem alguém para culpar. Mas ninguém, absolutamente ninguém, entende o vulcão de tormenta que se instalou em minha mente. Ninguém, exceto talvez Olivia. Mas pensar nisso só piorava as coisas.
Eu sabia que esse não era o momento para deixar essas coisas me abalarem. A equipe dependia de mim. O Brasil dependia do meu desempenho, da minha liderança. Essa era a minha responsabilidade. E, mesmo que tudo dentro de mim estivesse em pedaços, eu precisava mantê-los unidos. Eu era o capitão. Tinha que ser o capitão. Mesmo que isso significasse sufocar cada sentimento que tentava emergir na hora errada.
O quarto set estava em andamento; a Itália levou os dois primeiros, mas nós conseguimos o terceiro. Esse era o set decisivo, a chance de prolongar a luta ou de aceitar a derrota. Eu estava desesperado, não queria que nosso primeiro jogo fosse marcado por uma perda.
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Pra Você Guardei O Amor • B. Rezende
FanfictionSob o brilho das luzes olímpicas em Paris, Bruno Rezende, um astro do vôlei, busca a glória máxima. Mas a Cidade Luz, com sua atmosfera mágica, também o transporta para um passado que acreditava ter deixado para trás. O reencontro casual com Olivia...