Capítulo 2 - Yeji

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O edifício elegante me intimidou, por isso fiquei um pouco mais dentro do carro, encarando a entrada. Precisava não só de coragem, mas uma dose de liberdade para dar aquele passo.

“Me afaste
Porque tudo se quebra
Nós somos os erros de alguém
E acho que nada está mudando
Me ajude, eu não sou eu mesmo, estou me isolando
Você me faz sentir como se não merecesse ser salvo”

Dangerkids – Nothing Worth Saving.

Eu não precisava ser socorrida por ninguém, apenas que as memórias me deixassem em paz. Soltei o ar com força, abri a porta do carro e acenei para o motorista em despedida. A pessoa que organizava aquele tipo de festa, com tanto luxo e regalias, deveria ter tudo na vida, inclusive a felicidade.

Entrei na recepção, um senhor simpático e educado aguardou que eu me aproximasse. Atrás do balcão, com uma postura profissional, ele não parecia saber que estava indo para uma festa onde as pessoas esperavam transar em qualquer canto, com qualquer parceiro.

Senti minhas bochechas esquentarem, mas o homem não estava abalado pelo meu constrangimento.

— Vim para a festa — murmurei, com medo da minha voz ecoar pelo local. Tirei o convite da pequena bolsa, ele o pegou e continuou com a mão estendida. — Quer meu documento?

— Não, apenas sua bolsa. Nenhum acessório ou eletrônico é permitido. Tudo o que você precisar estará disponível na cobertura. Se não estiver, um dos nossos colaboradores irá providenciar o mais rápido possível.

— Oh! — Entreguei, sentindo-me nua e desprotegida sem meu celular por perto.

— Tem alguém que irá te ligar, caso aconteça uma emergência? — ele questionou, solícito. — Posso mandar te avisar.

— Não, ninguém irá me ligar. Só estou desacostumada. — Cruzei e descruzei meus braços, eu estava solta demais. — E...

— Sim, senhorita? — Apontou para o elevador. — Ele a aguarda, basta apertar o botão com o número 20.

— Não é isso, mas... — Queria perguntar do dinheiro, mas estava me sentindo a pior de todas. Abaixei a cabeça e queria me esconder, não tinha outra alternativa que não fosse ser direta. — O pagamento?

— É sua primeira vez?

— Sim. — Ergui a cabeça, estava me assustando a naturalidade do homem. Talvez, a errada fosse eu, em achar tudo absurdo.

— Quando você for embora, eu estarei aqui, te devolvendo seus pertences e um envelope com o pagamento. Todos entram e saem por esse caminho, não tem erro.

— Tudo bem.

— Seja bem-vinda à Festa da Luxúria. Divirta-se.

Engoli em seco e dei um passo para trás, olhando ao redor e buscando o que ele tinha me desejado. Era apenas uma festa entre adultos, feita por um homem rico, que gostava de esbanjar.

Dei passos largos até o elevador, passei por um detector de metais e encarei a luz verde, estava tudo ok. Mentalizei que eu precisava passar despercebida e a sacada ser meu esconderijo.

Quando me encarei no espelho daquele cubículo de metal, vi uma mulher sexy e tímida, o contraste perfeito para denunciar que eu era uma penetra. Ninguém pedia identidade, mas saberiam que a verdadeira convidada tinha ficado e uma impostora veio em seu Lugar. Menos uma para a brincadeira entre adultos.

O elevador subiu, aumentando o ritmo das batidas do meu coração. Quando a porta revelou a cobertura, minhas pernas se mexeram por vontade própria, por conta da beleza do local.

Sofás, esculturas e obras de arte enfeitavam o lugar. Pessoas dançavam, as luzes estavam baixas e o neon transformava o normal em sensual. Olhares vieram em minha direção, mas logo desviaram, porque baixei minha cabeça e caminhei em direção a um canto, para me esconder. Procurei a sacada, não iria explorar nada, até dar o horário.

Olhei para meu pulso, ao redor e gemi, não havia relógio para que eu consultasse se seria o momento certo.

— Merda — resmunguei e fiz uma careta.

Um homem com máscara preta e bandeja na mão se aproximou de mim. Com taças na superfície, ele me ofereceu sorrindo e peguei uma para tentar disfarçar meu medo. Quando se afastou, eu fui em direção a um corredor, onde tinha mais luzes e som ritmado.

Na mesma batida da música, meu corpo vibrou. Os pelos se eriçaram e minha temperatura subiu. Era quente e inebriante, o clima daquela cobertura contagiava.

Assim que vi corpos nus se movimentando no primeiro cômodo, voltei para a sala e, em seguida, para próximo da porta de entrada. Virei a bebida na boca e tomei tudo em alguns goles. Não era forte e minha língua apreciou o sabor, por isso busquei outra taça e tomei mais uma.

Meu peito não estava tão alucinado como antes, uma calmaria me dominou. Busquei mais uma taça, já estava sorrindo e não me sentindo intimidada pelas pessoas que conversavam e me ignoravam.

Apagada. Passando despercebida. Se eu era apenas um inseto invisível em meio àquela perdição, não custava nada espiar.

Ninguém me conhecia e eu não reconhecia nenhum rosto.

Dei passos cautelosos de volta ao corredor, um casal andava pelo lugar e observava o que tinha nos quartos. Sem portas e expostos, eram pessoas que queriam se exibir para qualquer curioso.

Perguntei-me se chaeryeong era aquela que olhava ou executava, eu não tinha apreço em vê-la em ação.

Escutei gemidos e fiquei um pouco escondida para ver um casal contra a parede. Os quadris se esfregando, as coxas se movimentando e os corpos, subindo e descendo. Entre minhas pernas, senti uma pressão diferente e apertei-as, assombrada.

Tomei mais da bebida e vidrei em seus rostos, a mulher estava com os olhos fechados enquanto o homem a encarava, com desejo e atenção. Analisei seus seios pressionados ao tórax do homem, a nudez se mesclando, não sabia onde começava um e terminava o outro.

Arfando e rebolando, a mulher gemia cada vez mais alto, sobre a música e me excitando também.

Sentindo que estava indo além do que eu suportava, afastei- me na direção contrária e encontrei uma escada. Subi os degraus e o vento bateu no meu rosto, me ajudando a recobrar a compostura.

Desde quando eu tinha me tornado uma apreciadora em ver? Chaeryeong costumava me mostrar alguns vídeos na internet, comentando que fez naquela posição ou daquele jeito, mas eram suficientes cinco segundos, para que eu olhasse para outro lugar.

Vergonha. Mas, naquele momento, eu só sentia excitação. Bebericando da taça ao invés de tomar como água, olhei para as pessoas na piscina, outros nos sofás e os vi felizes.

Ninguém estava julgando ou preocupados em serem expostos, ali era um lugar seguro.

Apreciei o céu e a vista alguns minutos antes de voltar para a parte de baixo. Busquei mais bebida, sorri para ninguém em especial ao perceber que, pelo menos por um minuto, eu não queria ser apagada. Por mais que eu fosse dizer não, um daqueles homens confiantes e cheios de paixão poderia me fazer experimentar algo novo.

Eu queria fazer diferente.

Apoiei meu ombro na cortina e cruzei os braços, tropeçando ao sentir que tinha uma brecha atrás dela. Afastei o tecido e lembrei-me da sacada, eu estava bem na porta e tinha um palmo aberta. O melhor a fazer era ficar escondida, esperar o céu clarear e voltar para a minha vida pacata. Minha experiência na Festa da Luxúria tinha chegado ao fim.

VIRGEM E MINHA - FESTA DA LUXÚRIA ••• G!POnde histórias criam vida. Descubra agora