Capítulo 1 - Yeji

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O orgulho poderia te fazer agir das piores maneiras.

Eu precisava de dinheiro e minha amiga, que também era vizinha, me deu uma alternativa. A escolha era minha, eu poderia ter recusado, mas os três meses de aluguéis atrasados, além da energia cortada, me fizeram reagir.

Não pensei, nem fiz as análises de risco. Aceitei.

— Até parece que você vai para o abatedouro. É só uma festa, Yeji.

— Você está acostumada a essas liberdades e modernidades. Sabe que eu tenho muitos anos de terapia para fazer e me desprender de conceitos antigos.

— Você não vai com essa calcinha. — Ela abriu minha gaveta e tentei não surtar por ter alguém mexendo nas minhas coisas pessoais.

Estávamos no meu quarto, na quitinete que eu morava ao lado da dela. Chaeryeong era um mulherão, que não se intimidava em usar decotes, sutiã à mostra e calça justa, salientando o fio dental.

Eu era seu oposto, odiava qualquer coisa que me incomodasse, principalmente pano dobrado na bunda.

As palavras da minha mãe ecoavam na minha mente e eu as afastei, mas elas tinham força. Nunca sente no vaso que não seja da sua casa, não compartilhe roupa íntima, mulher tem que se manter casta até o casamento.

Mesmo depois da sua partida e do tanto que sofri para sair de casa e vir morar em uma das cidades próximas, com oportunidades de emprego, eu a sentia presente em minha vida.

A convivência com Chaeryeong me tornou um pouco maleável.

No início, acreditava que ela era uma prostituta de luxo. Como ela era extrovertida e comunicativa, não consegui deixar passar batido e conversamos. A amizade se fortaleceu quando ela experimentou da
minha comida e elogiou meus dotes culinários. Pelo menos, em alguma coisa, eu era boa. Meu sonho de ser diplomata parecia distante, mas se não desse certo, eu me tornaria a faxineira – de luxo – dela.

O restaurante que eu trabalhava fechou, a padaria que eu fazia um bico me dispensou e apenas a senhora idosa, que morava na frente da quitinete, me chamava uma vez por semana para fazer sua compra de mercado.

Nunca pensei que uma pessoa poderia falir. Era o meu caso e estava entrando em desespero. Minha primeira experiência morando sozinha e trilhando o meu caminho sem ajuda de ninguém... eu falhei.

— Não vou usar uma calcinha sua, Chaeryeong — resmunguei quando vi a minha amiga sair do quarto e da quitinete. — Meu Deus, não está certo.

— Errado é você desistir dos seus sonhos por causa de uma roupa íntima. — Ela voltou com duas sacolas preta e roxa. O sol estava se pondo e eu precisaria acende a lanterna do celular, que estava conectado em uma extensão da tomada na casa dela.

—Ganhei do meu daddy e ainda não usei. Está lavada e você pode ficar, como lembrança.

— É tão estranho você o chamar assim. Por que não apenas namorado? Noivo?

— Porque ele me paga e eu continuo livre. — Estendeu as sacolas e sorriu satisfeita. — Gosto da minha vida, do luxo com ele e da simplicidade do meu canto. Não fui feita para relacionamentos tradicionais, tudo está muito bem estipulado em contrato.

— Você tem um bom coração, merecia um marido rico.

— Eu sou a rica. — Piscou um olho e chacoalhou o que tinha em mãos, na minha frente. — Conceito antigo, Yeji. Nada contra as famílias felizes, com filhos e tradição. Fui talhada para fugir do que é senso comum.

— Mais uma crença limitante? — Fiz uma careta e peguei as sacolas da mão dela.

— Digamos que o foco não é mais esse. Troque marido rico por ser feliz. Só isso.

VIRGEM E MINHA - FESTA DA LUXÚRIA ••• G!POnde histórias criam vida. Descubra agora