A voz da experiência

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Clara é a luz, escuras nossas dores.

William Shakespeare


Era seu aniversário. Engraçado Marinette só ter se lembrado disso naquele momento, enquanto marcava no calendário um "x" sobre o dia do mês. Quando várias semanas antes aquela data havia sido marcada para a festa de despedida do ensino médio, ela tinha achado o máximo, mas guardou a informação para si, uma vez que ninguém parecia ter se lembrado do fato e ela não quisera parecer presunçosa. E conforme os dias foram passando e tantos problemas surgiram em sua vida, esqueceu-se completamente que justo naquele dia ela estaria completando dezoito anos.

Parou por um momento tentando fazer uma análise pessoal, como sempre fazia naquela data. Pesar os erros e acertos, se alegrar com as conquistas e estabelecer alvos e metas a curto prazo, eram formas de Marinette começar bem o dia em que comemorava mais um ano de existência. No entanto seu escrutínio interior não durou muito tempo daquela vez. Descobriu que não tinha vontade de fazer um balanço geral da sua vida até ali. Nem mesmo pensar sobre seu futuro, uma vez que se mostrava tão incerto. Não havia nenhuma euforia por ter atingido a maioridade, somente uma constatação de que se passara mais um ano e ela havia vivido tantas coisas que poderia dizer que havia sido uma década. Sentiu que seu corpo e sua mente estavam em faixas etárias diferentes. Enquanto o primeiro era jovem, forte e ágil, a outra estava exausta e desgastada. Nem mesmo os próprios sentimentos ela conseguira colocar em ordem. Ainda estava confusa e triste pelo que havia acontecido entre ela e Luka no dia anterior, além da dor da saudade que nunca a deixava. Aquele buraco em seu coração que parecia dobrar de tamanho a cada dia. Sem contar as preocupações de heroína. Não conseguira curar Amélie com seu poder e acreditava ser apenas uma questão de tempo até que Gabriel e Nathalie voltassem a atacar. O sumiço deles naqueles dias não a tranquilizara, pelo contrário, a deixara ainda mais apreensiva e sua incapacidade de tomar uma atitude que terminasse logo com aquele tormento a enervava e fazia com que se sentisse culpada. Mas porque deveria se surpreender? Sempre soube que não era nada sem o seu parceiro. Não o ter a seu lado criara uma espécie de bloqueio e torpor do qual ela não conseguia se libertar. Era como viver pela metade...

- Bom dia Marinette! Feliz aniversário! - A voz animada de Tikki a trouxe de volta daquele poço de pensamentos sombrios. A vermelhinha havia se aproximado, saudando-a com um abraço apertado na bochecha.

- Muito obrigada pequena. - A mestiça agradeceu retribuindo o carinho da kuami

- Está animada para hoje à noite?

- Bom, estou trabalhando nisso. Vai ser legal estar com meus amigos e comemorar o fim dessa etapa. O ensino médio foi marcante, mas estou feliz que tenha terminado.

- E também vai poder comemorar com eles o seu aniversário! - Ressaltou a kuami e viu um sorriso fraco surgir no rosto de sua portadora.

- Sinceramente, eu não sei se alguém está se lembrando disso. Não vi nenhum sinal de que meus amigos estejam bolando alguma surpresa como nos últimos dois anos. Nem mesmo a Alya, que é terrível para guardar esse tipo de segredo.

- Talvez estejam se aprimorando e você não tenha conseguido perceber nada.

Marinette lhe fez um carinho na cabeça

- Tikki, nem eu mesma me lembrei que era meu aniversário até me deparar com o calendário esta manhã. Acho que os outros também estão muito atarefados com os preparativos da festa para se lembrarem.

- Pois eu acho que você ainda terá uma grande surpresa!

- Acho que não. Mas não tem importância, de verdade. Eu não estou no clima para comemorar.

Amor a provaOnde histórias criam vida. Descubra agora