Amor a prova

Ação e reação - Parte 1

As escolhas são suas... As consequências também.
Autor desconhecido

A luz da aurora não foi capaz de lhe trazer nenhum tipo de esperança ou contentamento como acontecia nos dias longínquos de seu passado, quando ainda era um jovem sonhador, recém-casado com a mulher que adorava, cheio de planos para o futuro.
Havia trabalhado com entusiasmo, dedicação e afinco ao longo da vida, alcançando como consequência sucesso profissional. Ao mesmo tempo formara uma bela família, que apesar de não ser perfeita, era o centro de todo seu universo. No entanto sua vida havia mudado depois de sua primeira viagem ao Tibete e nunca mais voltara a ser a mesma. Ele já havia perdido muito desde então e agora corria o risco de perder muito mais, inclusive a única mulher que amara na vida. E isso o devastava.
Aquela fora uma noite longa, velando sua amada, sem sair do lado dela nem por um segundo sequer. Apenas naquelas primeiras horas do dia, após certificar-se que sua respiração estava regular e seus batimentos cardíacos normalizados, sentira-se menos receoso em deixa-la. Só então, Gabriel se dera ao luxo de levantar-se e fazer uma breve caminhada pelo jardim de inverno da mansão Agreste.
E apesar da noite insone, não tinha vontade de dormir. Sua mente trabalhava exaustivamente no plano para vencer o maior desafio da sua vida. Lembranças dos acontecimentos da tarde anterior, quando o coração de Amélie havia parado de bater, inundaram sua mente. Por sorte ele estava por perto quando ouviu o sinal de alerta da cápsula. Suas ações foram imediatas e automáticas, realizando todo o procedimento que treinara exaustivamente com sua assistente, justamente para quando acontecesse algo dessa natureza. Entretanto, enquanto fazia a massagem cardíaca em Amélie, o medo havia paralisado sua mente e esfriado seu próprio coração. Tudo o que conseguia pensar era que perderia sua esposa para sempre. De seus lábios saíra um mantra estrangulado de desespero durante os poucos minutos que havia lutado sozinho pela vida dela "Não me deixe, por favor não me deixe..."

Quando o médico chegou, encontrou dificuldades para removê-lo de cima da esposa. Ele continuava a massagear-lhe o peito sistematicamente, sem dar-se conta que o coração de Amélie já havia voltado a bombear o sangue para o corpo. Somente depois que o Dr. Bernard assumira seu lugar, Gabriel desabou. Nathalie veio para lhe amparar e o ajudou a sentar-se na poltrona servindo-lhe chá com uma dose de whisky. Mas a bebida forte não foi capaz de reanima-lo, seus olhos permaneciam pregados no corpo inerte de sua esposa, esperando horrorizado o momento em que o médico lhe diria que Amélie havia partido. Então Adrien entrara na câmara e Gabriel vira nos olhos do filho o seu próprio medo espelhado. E vira algo mais, vira a ânsia do filho em fazer algo. Ele faria tudo que pudesse para salvar a mãe. Aquela determinação estava dentro dele, só precisava de libertação das restrições geradas por seus princípios e consciência. Aquela constatação serviu para corroborar seus planos.

Não havia sido uma decisão irrefletida. Gabriel havia pesado os prós e os contras por várias vezes. Havia avaliado as possíveis consequências. Não queria agir por impulso, mas diante das atuais circunstâncias, e do quanto havia se agravado o estado de Amélie, chegou a conclusão que suas análises só o faziam perder mais tempo. Por fim, decidiu que seu plano valia a pena, era a única maneira de conseguir o que precisava. Um pequeno sacrifício que logo seria esquecido diante da felicidade que o sucederia.
Seus pensamentos foram interrompidos ao ouvir passos suaves atrás de si. Virou-se para encontrar os olhos de sua fiel assistente.

- Bom dia senhor Agreste - A postura profissional dela aquela hora da manhã não surpreendia Gabriel. Seu profissionalismo era admirável, assim como sua lealdade. Mas naquele momento percebeu hesitação nos olhos azuis antes que ela voltasse a falar

- O senhor parece cansado. Deveria se deitar um pouco.

Ele negou com um gesto de cabeça

- Quero apenas um café forte em meu escritório. Vou me dirigir para lá assim que trocar esta roupa.