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Alycia pov

Eu estava perdida. Sabia que iria me perder facilmente, mas precisava de um tempo. Eu precisava me controlar, ou poderia deixar transparecer minha angústia e dor, e Ollie me matava por nunca ter contado tudo à ele. Tento ligar para alguém mas ironicamente não tem sinal onde estou. Tive vontade de sentar e esperar. Se Tathi estivesse aqui ela tiraria nos duas dessa enrascada. Tathi era ótima com localização e essas coisas, ela só chutava uma direção e a gente seguia, e dava certo, agora me sentia sozinha e perdida.
Foi anoitecendo e eu decidi parar de tentar sair, me sentei e esperei o universo, os deuses ou seja lá que car*lho que exista ai fora me ajude ou me mande alguém para me tirar daqui. Avistei uma figura ao longe e fiquei dividida em correr e esperar. Decidi correr. Fui me distanciando mas a figura parecia me seguir, me escondi atrás de um tronco largo e coloquei a perna encostada no chão, quando a pessoa caiu, dei um chute em seu rosto.
- Porr* Alycia! Para! É Kimi!
Estava pronta para dar outro chute mas parei no meio do ato.
- Put* que pariu Kimi! Da proxima avisa desgraça! Como vou saber a diferença entre você e um sequestrador?
- Car*alho, ai, era só prestar atenção.
- Se f*de Antonelli.
Ajudei o idiota a se levantar e fui seguindo ele (ainda hesitante) em direção à eu espero que a saída do parque.
- Oliver foi levar Luiza em casa, ela dormiu e precisava descansar, ele pediu pra eu te levar em casa.
Quando saímos do parque vejo que o nariz de Antonelli está jorrando, literalmente jorrando sangue.
- Ai meus deuses, Kimi. Me desculpa, eu não...
Fiquei muito mal, uma sensação devastadora tomou conta de mim, o rosto dele estava horrível. Ele se virou e olhou confuso para mim, como se não tivesse notado. Tomei a chave do carro das mãos dele e puxei ele pelo pulso correndo em direção ao carro. Empurrei ele no banco do passageiro e me enfiei atrás do volante. Dirigi como nunca em direção a minha casa.
- Pra que tudo isso garota? Não vou morrer não.
Ele gargalhou mas eu apontei para que ele visse o próprio rosto no retrovisor, e confesso que a expressão que ele fez me deu vontade de morrer. Parecia que ele tinha visto a morte passar diante dos seus olhos, talvez tivesse mesmo. Ele parou de fazer piadas e ficou encarando seu reflexo até chegarmos na minha casa.

Fui abrir a porta mas até com isso eu me atrapalhei, meus dedos estavam tremendo mais que tudo, eu estava sem ar e não conseguia pensar em nada a não ser cuidar de Kimi. Abri. Suspirei de alívio e fui correndo até a cozinha para pegar os remédios para tratar aquele ferimento. Apontei para a cadeira na minha frente. Felizmente Kimi tinha fechado a porta da casa e veio em minha direção. Ele se sentou e olhou para mim numa súplica silenciosa. Peguei um pano molhado e comecei a secar e limpar o sangue, mas quanto mais eu limpava, mais saía. Eu estava entrando em pânico.
- Você... Alycia, você tá pálida, demais.
Balancei a cabeça para indicar que não era a hora, eu tinha que desfazer o que eu fiz. Depois de um tempo tentando limpar, o sangramento parou, o pano estava encharcado. Eu fui pegar remédios e curativos.
- Kimi, deixa eu ver se não quebrei nada, se doer me avisa.
Eu estava falando sem ar, eu estava sem ar. Toquei suavemente seu nariz e ele não esboçou nada, ainda bem que não quebrei. Eu peguei um cotonete e molhei com remédio para limpar as bordas das cavidades, e ele não se mexeu instante nenhum. Peguei uns comprimidos contra dor e inchasso e fiz Kimi engolir todos. Depois peguei uma compressa de gelo e dei a ele, quando terminei a única coisa que passava na minha cabeça era que eu tinha feito isso. A culpa era minha.
- Kimi, me desculpa, é sério, eu não queria te machucar, eu fiquei com medo e achei que era melhor fazer isso mas se eu soubesse que era você eu não tinha feito.
Falei tão rápido que temi que ele não entendesse. E ele fez a coisa mais estranha de todas, ele se levantou e sorriu, me entregou a compressa de gelo e pegou a chave do carro. E me deu um beijo na testa, depois foi em direção à porta.
- Tudo bem Aly, até amanhã.
E ele saiu.

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A semana que passou foi mais ou menos normal, Kimi voltou a me alfinetar e perturbar como se eu nunca tivesse chutado a cara dele, eu tentei fazer o mesmo, mas era difícil esquecer que eu chutei a cara de um piloto de formula 2. Ollie me perguntou o que houve, mas eu não quis explicar. Luiza também me perguntou mas eu desviei da pergunta. Ao que parece Kimi explicou, mas não entendi por que ele saiu sorrindo da minha casa. Hoje eu tenho treino de basquete, mas não sei se vou conseguir treinar com os pensamentos a mil por hora. Ollie, Luiza e Kimi vieram para o meu treino, coisa que eu não queria. Meus pais ainda estão viajando, eles ligaram para Ollie ante-ontem para dizer que só voltariam daqui a 3 meses, o que foi um alívio, mas mesmo assim, não foi o suficiente para me tranquilizar.

O treino foi normal, nada de especial, mas minha cabeça parecia a ponto de explodir. Sai sem avisar à meu irmão e fui pelos fundos, vagando pelas ruas em busca de uma lanchonete ou algum lugar para pensar. Encontrei uma cafeteria e entrei nela.
- Um cappuccino por favor.
Fiz o pedido e me sentei na mesa mais distante da janela. Decidi ligar para minha melhor amiga: Tathi. Ela atendeu quase imediatamente, e eu expliquei a ela tudo o que estava acontecendo. Ela riu da maior parte, mas quando descrevi o acidente com Kimi o microfone dela ficou mudo.
- Tathi, me ajuda, por favor.
"Amiga, não posso dizer o que você deve fazer, mas posso falar o que eu acho, acho que você deve esquecer, se ele esqueceu, apenas esquece, se você ficar pensando nisso igual quando o Oliver caiu do balanço e ficou escondendo dos seus pais, isso vai te consumir, esquece e tenta viver, se ele tocar no assunto, desvia, mas tenta esquecer."
Nunca me sinto tão bem com uma pessoa como com Tathi. Eu agradeci e me despedi da minha irmã de outra mãe e desliguei o celular. Passei o resto da tarde naquela cafeteria, quando anoiteceu eu fui andando para casa.

MAMMA MIA // Kimi AntonelliOnde histórias criam vida. Descubra agora