prólogo

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Somerset, Inglaterra, 1807

A noite de verão envolvia os jardins de Renfield Park, a propriedade ancestral da família Sinclair, em um manto de escuridão aveludado, quebrado apenas pelo brilho prateado do luar. Ao longe, o som abafado de música e risos ecoavam da mansão iluminada, onde a nata da sociedade de Somerset se reunia para mais um dos famosos bailes do Barão.
No canto mais afastado dos jardins, protegido por um denso bosque de teixos centenários, o Tenente Frederick Ashford se mantinha nas sombras, seus olhos negros buscando uma figura em particular. Com um movimento decidido, Frederick deixou seu esconderijo e se aproximou das portas francesas que davam acesso ao salão. Ele ajustou seu uniforme naval, tomou uma respiração profunda e entrou.
Alexander Edmund Sinclair, o herdeiro do Baronato de Renfield, sorria e conversava com a graça típica de um jovem aristocrata. Mas Frederick, que conhecia cada nuance daquele rosto amado, podia ver a tensão nos ombros de Alexander, o tédio mal disfarçado em seus olhos azuis.
O aroma de perfumes caros e a cacofonia de conversas encheram seus sentidos enquanto Frederick navegava entre os grupos de convidados, seus olhos nunca deixando seu alvo. Quando finalmente chegou perto de Alexander, ele se inclinou ligeiramente.
— Milorde, — ele murmurou, sua voz baixa e carregada de intenção. —Posso ter uma palavra em particular?
Alexander se virou, surpresa e algo mais escurecendo seus olhos.
—Tenente Ashford. Certamente.
Com um gesto sutil, Frederick guiou Alexander para longe dos olhares curiosos, em direção ao refúgio das árvores no jardim. Assim que estavam fora de vista, protegidos pela escuridão e pelo sussurro das folhas, Frederick empurrou Alexander contra o tronco rugoso de um velho teixo, suas mãos agarrando a lapela do casaco do jovem.
— Fred, — Alexander ofegou, metade protesto, metade súplica, mas anseio por inteiro.
Frederick silenciou-o com um beijo ardente, dias de desejo reprimido explodindo em um momento de paixão desenfreada. Suas mãos exploraram o corpo de Alexander com uma urgência quase desesperada, memorizando cada curva, como se soubesse que esta poderia ser sua última chance.
Quando finalmente se separaram, ambos ofegantes, Frederick pressionou sua testa contra a de Alexander.
—Venha comigo, — ele sussurrou fervorosamente. — Meu navio parte para as Índias Ocidentais em uma semana. Podemos começar uma nova vida longe daqui, longe de todas essas expectativas sufocantes.
Alexander fechou os olhos, visivelmente tentado pela proposta. Frederick podia sentir o coração dele batendo furiosamente contra seu peito, um eco do seu próprio.
— Fred, você sabe que não podemos, — Alexander respondeu, sua voz trêmula. — Meu pai, o baronato...
— Ao diabo com o baronato! — Frederick exclamou, sua voz ainda baixa, mas intensa. — Ao diabo com tudo isso. Eu te amo, Alex. Não é o suficiente?
Por um momento, pareceu que Alexander cederia. Suas mãos agarraram os braços de Frederick, puxando-o para mais perto. Mas então, como se acordasse de um sonho, ele se afastou.
— Não podemos viver de amor, Fred, — Alexander disse suavemente, sua voz carregada de arrependimento. —Temos deveres, responsabilidades. Você tem sua carreira na Marinha, eu tenho minha família, meu título...
Frederick deu um passo para trás, a rejeição queimando em seu peito como ácido.
— Então é isso? Você escolhe seu dever sobre nós?
— Fred, eu...
O som de vozes se aproximando cortou o que quer que Alexander fosse dizer. Em um instante, Frederick recuou para as sombras, seu rosto uma máscara de determinação e mágoa.
— Você pode escolher seu dever, Alexander, — ele disse, sua voz fria como o aço de sua espada. —Mas não espere que eu fique aqui para ver.
Com essas palavras, Frederick desapareceu na escuridão, deixando Alexander sozinho com seus pensamentos e o peso de sua decisão. O som da festa continuava ao fundo, uma melodia alegre em cruel contraste com a cena que acabara de se desenrolar.
Oito anos se passariam antes que seus caminhos se cruzassem novamente. Oito anos de mar aberto, batalhas sangrentas e noites solitárias. Mas nem o tempo nem a distância poderiam apagar a memória daquela noite nos jardins de Somerset, quando Alexander Sinclair escolheu o dever ao invés do desejo, e Frederick Ashford jurou que jamais entregaria seu coração novamente.

Entre Desejo e DeverOnde histórias criam vida. Descubra agora