Capítulo dois

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Se alguém tivesse dito a Alexander Sinclair, a alguns anos atrás, que ele estaria observando as ruas movimentadas de Bath de uma janela que não pertencia à sua família ancestral, ele teria rido do absurdo da ideia. No entanto, ali estava ele, de pé diante da janela de seu novo escritório, observando o fluxo constante de carruagens e pedestres elegantes que passavam pela Royal Crescent.
A casa em Bath, embora consideravelmente menor que Renfield Park, ainda mantinha um ar de distinção e elegância, Lady Cecília havia feito milagres em apenas dois dias, transformando os cômodos antes vazios em um lar acolhedor com os móveis e objetos que haviam trazido consigo.
— Bem — murmurou Alexander para si mesmo — suponho que este seja o nosso novo começo.
Seu olhar vagou para a casa vizinha, uma construção elegante de pedra cor de mel, típica da arquitetura georgiana de Bath. Foi então que ele a viu.
No pequeno jardim frontal da casa ao lado, uma jovem de cabelos cor de fogo cuidava diligentemente de um canteiro de rosas. Ela não podia ter mais do que dezessete ou dezoito anos, provavelmente da idade de Elizabeth. O sol da tarde brincava com seus cachos, criando um halo dourado ao redor de sua cabeça abaixada.
Como se sentindo o peso de seu olhar, a jovem de repente ergueu os olhos. Por um momento, verde encontrou azul, e Alexander sentiu uma estranha sensação. Havia algo naqueles olhos...
— Alex? — A voz de Elizabeth interrompeu seus pensamentos. — Mamãe está perguntando se você já está pronto. Lady Middleton espera por nós para o chá em meia hora.
Alexander piscou, quebrando o contato visual com a misteriosa vizinha.
— Sim, Lizzy, estarei pronto em um momento.
Quando ele olhou de volta para o jardim, a garota ruiva havia desaparecido.

                    ⚜️
O salão de Lady Middleton era exatamente como Alexander imaginava que seria o covil de uma das maiores fofoqueiras e casamenteiras de Bath: opulento, excessivamente decorado e cheio de lugares estratégicos para conversas sussurradas atrás de leques.
— Lady Cecília, que prazer tê-la em Bath! — A voz estridente de Lady Middleton precedeu sua figura rechonchuda enquanto ela se apressava para receber os Sinclair. — E estes devem ser seus adoráveis filhos. Alexander, não é? Que homem bonito você se tornou!
Alexander inclinou-se em uma reverência educada, resistindo ao impulso de limpar a mão na calça após o aperto úmido de Lady Middleton.
— É uma honra, Lady Middleton. Sua reputação como a anfitriã mais graciosa de Bath a precede.
Os olhinhos de Lady Middleton brilharam com o elogio.
— Oh, você é um galanteador, não é? Venham, venham, deixe-me apresentá-los à minha querida Rose.

Enquanto seguiam Lady Middleton para o interior do salão, Alexander trocou um olhar divertido com Elisabeth. Sua irmã parecia estar lutando para conter o riso.
— Rose, querida! — chamou Lady Middleton. — Venha conhecer nossos novos vizinhos!
Uma jovem mulher ergueu-se graciosamente de uma poltrona próxima à janela. Alexander sentiu sua respiração falhar por um momento. Rose Middleton era, sem dúvida, uma das mulheres mais bonitas que já havia visto. Seus cabelos dourados estavam arranjados em um penteado elegante, e seus olhos azuis brilhavam com inteligência e um toque de humor. E ele realmente não entendeu como uma beldade como ela ainda não havia se casado, pois aos vinte e nove anos, era tão ou mais bela que qualquer debutante.
— É um prazer conhecê-los — disse Rose, sua voz melodiosa e controlada. — Espero que estejam gostando de Bath até agora.
— Oh, certamente estamos — respondeu Lady Cecília com um sorriso gentil. — A cidade é encantadora, e todos têm sido tão acolhedores.
— Fico feliz em ouvir isso — Rose sorriu, seus olhos encontrando brevemente os de Alexander antes de se voltarem para Elisabeth. — Talvez possamos mostrar a vocês alguns de nossos lugares favoritos na cidade? Há um novo salão de chá simplesmente adorável na Milsom Street.
— Isso seria maravilhoso! — exclamou Elizabeth, seu rosto iluminando-se com entusiasmo.
Alexander observou a interação com interesse. Havia algo na maneira como Rose olhava para sua irmã, uma suavidade em seus olhos que não estava lá quando ela o cumprimentou. Interessante.
— Agora, sentem-se, sentem-se! — Lady Middleton gesticulou energicamente para os sofás. — Temos tanto sobre o que conversar! Alexander, querido, conte-me, você já conheceu alguns dos jovens cavalheiros da cidade?
E assim começou o que Alexander só poderia descrever como um interrogatório disfarçado de conversa educada. Lady Middleton parecia determinada a extrair cada detalhe de suas vidas, desde suas conexões sociais até suas perspectivas financeiras.
— É uma pena sobre Renfield Park — disse Lady Middleton, seu tom falsamente solidário. — Mas tenho certeza de que você logo encontrará... outras oportunidades aqui em Bath.
O olhar significativo que ela lançou na direção de Rose não passou despercebido por Alexander. Ah, então era isso. A famosa Lady Middleton estava à caça de um marido para sua filha, e aparentemente, o novo e empobrecido Barão de Renfield havia entrado em sua mira.
— Mamãe — Rose interveio suavemente, um leve rubor tingindo suas bochechas. — Tenho certeza de que Lorde Renfield não veio a Bath em busca de... oportunidades
— Bobagem! — Lady Middleton agitou a mão — Todo jovem solteiro está sempre em busca de oportunidades, não é mesmo, Alexander?
Alexander engoliu em seco, sentindo-se subitamente encurralado.
— Eu... bem...
— Na verdade, Lady Middleton — Lady Cecília veio em seu socorro — viemos a Bath principalmente para um novo começo. Alexander tem planos de explorar algumas oportunidades de negócios.
— Negócios? — Lady Middleton pareceu momentaneamente desconcertada, como se a ideia de um nobre se envolver em algo tão mundano quanto negócios fosse completamente alienígena. — Bem, suponho que seja... louvável... em tempos difíceis.
O restante da visita transcorreu em uma mistura de fofocas locais (aparentemente, o Visconde de Wellesley havia sido visto saindo sorrateiramente da casa de uma viúva às três da manhã) e não tão sutis insinuações sobre as qualidades de Rose como uma potencial esposa.
Quando finalmente se despediram, Alexander sentiu como se tivesse acabado de emergir de uma batalha particularmente exaustiva.
— Bem, isso foi... interessante — comentou Elizabeth enquanto caminhavam de volta para casa.
— Interessante é uma palavra para isso — Alexander riu sem humor. — Aterrorizante seria outra.
Lady Cecília sorriu gentilmente.
— Lady Middleton certamente é... entusiástica. Mas Rose parece ser uma jovem encantadora.
— Sim, ela parece — concordou Alexander, pensativo. Havia algo em Rose Middleton, uma complexidade por trás de seu comportamento impecável que o intrigava. Não da maneira que Lady Middleton provavelmente esperava, mas ainda assim...
Quando chegaram em casa, Alexander se retirou imediatamente para seu escritório, alegando a necessidade de revisar alguns documentos. Na verdade, ele precisava de um momento de paz para processar tudo o que havia acontecido.
Parado novamente diante da janela, seus olhos inconscientemente procuraram o jardim da casa vizinha. A garota ruiva não estava à vista, mas as rosas que ela estivera cuidando balançavam suavemente na brisa da tarde.
Alexander se pegou pensando na estranha confluência de eventos que o haviam trazido a este momento. Há apenas algumas semanas, ele era o herdeiro de uma propriedade ancestral, carregando o peso das expectativas de gerações. Agora, aqui estava ele, em uma cidade estranha, observando um jardim que não era seu.
E ainda assim...
Havia uma sensação de possibilidade no ar, uma leveza que ele não sentia há anos. Talvez fosse o ar de Bath, ou talvez fosse simplesmente a libertação de um fardo que ele carregara por tempo demais.
Um movimento no jardim vizinho chamou sua atenção. A garota ruiva havia retornado, desta vez com um livro na mão. Ela se acomodou graciosamente em um banco de pedra, aparentemente alheia ao olhar curioso de seu novo vizinho.
Alexander se pegou sorrindo. Quem era ela? Por que ela o intrigava tanto?
Uma suave batida na porta o tirou de seus devaneios.
— Entre — ele disse, relutantemente afastando-se da janela.
Elizabeth entrou, um sorriso travesso brincando em seus lábios. — Então, irmão querido, o que achou da nossa adorável Lady Middleton?
Alexander gemeu dramaticamente.
— Por favor, não me lembre. Acho que envelheci dez anos naquela sala de estar.
Elizabeth riu.
— Ah, vamos lá, não foi tão ruim assim. Rose parecia bastante agradável.
— Sim, ela parecia — concordou Alexander, pensativo. — Na verdade, ela me lembrou um pouco você.
— Eu? — Elizabeth pareceu surpresa. — Como assim?
Alexander deu de ombros.
— Não sei ao certo. Apenas uma impressão. Talvez seja o jeito como ela sorri.
Elizabeth o estudou por um momento, uma expressão curiosa em seu rosto.
— Hm. Interessante.
— O que é interessante?
— Ah, nada — Elizabeth sorriu inocentemente. — Apenas pensando que talvez Bath não seja tão ruim assim, afinal.
Antes que Alexander pudesse questionar mais, Elizabeth mudou de assunto.
— Ah, quase me esqueci. Mamãe perguntou se você gostaria de dar um passeio pelo Parque amanhã. Aparentemente, é o lugar para ver e ser visto em Bath.
Alexander suspirou.
— Suponho que não temos escolha, não é? Temos que começar a estabelecer nossa presença na sociedade local em algum momento.
— Exatamente — Elizabeth sorriu. — Quem sabe? Talvez você até encontre a adorável lady Middleton lá.
Alexander se engasgou.
— LIZZI!
Mas Elizabeth já estava saindo do escritório, rindo pelos cotovelos.
— Boa noite, irmão querido. 
Sozinho novamente, Alexander voltou sua atenção para a janela. O jardim vizinho estava vazio agora, as sombras do crepúsculo alongando-se sobre as rosas cuidadosamente cultivadas.
Amanhã seria outro dia. Um dia de novos rostos, novas impressões, novas possibilidades. 
Com um último olhar para o jardim silencioso, Alexander se afastou da janela. Era hora de se preparar para o que Bath tinha reservado para ele.
Afinal, como sua mãe sempre dizia, a vida tinha uma maneira engraçada de surpreender você quando você menos esperava. E Alexander Sinclair estava mais do que pronto para algumas surpresas, ou pelo menos ele assim pensava.

Entre Desejo e DeverOnde histórias criam vida. Descubra agora