Capítulo Três

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     O dia em Bath amanheceu claro e promissor, como se a própria cidade estivesse ansiosa para apresentar seus encantos aos recém-chegados Sinclair.       Alexander, acompanhando sua mãe e irmã em um passeio pelo Parque Sydney, não pôde deixar de notar como o lugar pulsava com vida e elegância.
     Lady Cecília caminhava com graça, seu braço gentilmente entrelaçado ao de Alexander, enquanto Elizabeth saltitava alguns passos à frente, seus olhos brilhando com a empolgação de uma jovem prestes a mergulhar nas delícias da vida social.
— Não é lindo, Alex? — Elizabeth exclamou, girando para encarar seu irmão. — Olhe todas essas pessoas elegantes! E os jardins são simplesmente maravilhosos!
    Alexander não pôde conter um sorriso diante do entusiasmo de sua irmã.
— Sim, Lizzy, é bastante impressionante. Embora eu não possa deixar de sentir que estamos em uma espécie de desfile.
     Lady Cecília riu suavemente.
— Ora, Alex, é exatamente isso que é. O Parque Sydney é onde a sociedade de Bath vem para ver e ser vista. É uma dança social tão antiga quanto a própria cidade.
     — De fato.— Enquanto caminhavam, Alexander notou vários olhares curiosos em sua direção. Aparentemente, os novos moradores da Royal Crescent já eram objeto de interesse e especulação.
     Era uma sensação realmente sufocante, lhe lembrando do peso e das responsabilidades que carregava.
— Alex? — A voz de sua mãe o trouxe de volta à realidade. — Você está bem, querido? Parece que viu um fantasma.
Alexander piscou, quebrando o contato visual com a misteriosa ruiva.
— Estou bem, mãe. Apenas... pensando.
    Antes que pudesse elaborar (ou inventar uma desculpa mais convincente), foram abordados por duas senhoras sorridentes.
— Lady Cecília Sinclair, não é? — A mais velha das duas se adiantou, sua voz calorosa e acolhedora. — Sou Margaret Bennett, e esta é minha filha, Louisa. Ouvimos que vocês acabaram de se mudar para a Royal Crescent. Estávamos planejando fazer uma visita.
      Lady Cecília sorriu, inclinando-se em uma leve reverência.
— É um prazer conhecê-las, Senhora Bennett, Senhorita Bennett. Sim, acabamos de nos instalar. Esta é minha filha, Elisabeth, e meu filho, Lord Alexander Sinclair.
      As apresentações foram feitas, e logo Elisabeth e Louisa estavam engajadas em uma animada conversa sobre os méritos das diferentes modistas de Bath. Alexander observou com divertimento como sua irmã parecia ter encontrado uma alma gêmea em Louisa Bennett.
— Os jovens fazem amizades tão facilmente, não é mesmo? — comentou a Senhora Bennett, seus olhos brilhando com aprovação ao observar as duas garotas. — Lady Cecília, devo insistir que você e sua filha venham tomar chá conosco amanhã à tarde. Seria um prazer apresentá-los a mais algumas de nossas amigas.
— Seria uma honra, Sra.Bennett — respondeu Lady Cecilia graciosamente.
    Enquanto as senhoras acertavam os detalhes do encontro, Alexander deixou seu olhar vagar novamente pelo parque, procurando inconscientemente  por um uniforme conhecido.

                    ****

Na tarde do dia seguinte, tendo escapado das obrigações sociais, Alexander se viu vagando pelas ruas de Bath. Seus passos o levaram a uma charmosa livraria na Milsom Street, o tipo de lugar onde ele poderia facilmente perder horas explorando prateleiras empoeiradas.
Estava absorto examinando uma primeira edição de "Orgulho e Preconceito" quando uma voz familiar o surpreendeu.
— Ora, ora, se não é Alexander Sinclair! O que o traz aos confins civilizados de Bath?
Alexander se virou, um sorriso genuíno iluminando seu rosto ao reconhecer seu antigo colega de Oxford.
— John! Que surpresa agradável!
John Wordsworth, agora visconde de Hastings, com seu sorriso fácil e olhos astutos, não havia mudado muito desde os dias de universidade. Os dois amigos se cumprimentaram calorosamente, a familiaridade de anos passados dissolvendo rapidamente qualquer formalidade inicial.
— Venha, Alex — disse John, dando um tapinha nas costas do amigo. — Deixe-me levá-lo ao clube. Temos muito o que colocar em dia, e faço questão de apresentá-lo aos cavalheiros locais.
O Clube dos Cavalheiros de Bath era exatamente como Alexander imaginava: uma mistura de opulência e tradição, com o aroma de charutos finos e conhaque pairando no ar. Acomodados em poltronas de couro em um canto discreto, os dois amigos logo se viram imersos em lembranças e atualizações.
— Então, o velho Barão finalmente deixou este mundo — John comentou, seu tom suavizando-se com simpatia. — Sinto muito, Alex. Sei que as coisas eram... complicadas entre vocês.
Alexander assentiu, tomando um gole de seu conhaque.
— Obrigado, John. Foi um momento difícil para todos nós. Mas estamos nos adaptando.
— E Bath? — John arqueou uma sobrancelha, um sorriso brincando em seus lábios. — Já caiu nas garras de alguma das beldades locais? E de suas mães casamenteiras?
Alexander riu, balançando a cabeça.
— Mal cheguei há dois dias, John. Embora deva admitir que Lady Middleton parece determinada a me empurrar para os braços de sua filha.
— Ah, a adorável Rose — John sorriu. — Um aviso, meu amigo: aquela é uma rosa com espinhos afiados. Encantadora, sem dúvida, mas não é exatamente o que parece, eu a conheço desde a infância, sei bem do que estou falando.
Antes que Alexander pudesse questionar mais sobre esse comentário intrigante, John mudou de assunto.
— Falando em encrencas adoráveis, você se lembra do meu primo Arthur?
Alexander sentiu um aperto no peito ao ouvir o nome. Arthur. O amigo de Frederick. As memórias que ele havia tão cuidadosamente suprimido ameaçavam emergir.
— Claro — ele respondeu, mantendo a voz neutra. — Como poderia esquecer?
John riu, alheio ao tumulto interno de seu amigo.
— Bem, acredite se quiser, ele ainda está dando aquelas festas loucas em Lyme. A última que ouvi, ele quase incendiou a casa de veraneio tentando recriar o incêndio de Roma para uma festa temática.
Alexander forçou uma risada, mas sua mente estava longe, voltando a uma noite de verão há oito anos. Uma festa em Lyme. Um jardim escondido. Um par de olhos negros que haviam virado seu mundo de cabeça para baixo.
Frederick.
— Alex? — A voz de John o trouxe de volta ao presente. — Você está bem?
Alexander se recompôs, oferecendo um sorriso que não alcançava seus olhos. — Estou bem, apenas... lembranças. Você sabe como é.
John assentiu compreensivamente, seus olhos brilhando.
— Bem, meu amigo, de fato conheço bem essa sensação— disse deixando transparecer, algo de misterioso. — Parece que temos muito para pôr em dia, partirei para Londres amanhã cedo, mas prometo estar de volta antes do início da temporada, então teremos uma boa conversa.
     Alexander concordou, grato pela oportunidade de ter alguém com quem conversar. Enquanto se despediam e ele fazia seu caminho de volta para casa, sua mente estava uma confusão de imagens e emoções.
    As lembranças de Frederick, o alcançaram tão vívidas e dolorosas quanto no dia em que se separaram.
Bath, parecia estar determinada a desenterrar cada segredo, cada desejo não realizado de seu passado. 
    Enquanto a noite caía sobre a cidade, ele se pegou olhando para as estrelas, perguntando-se onde Frederick estaria agora. E se, talvez, em algum lugar sob o mesmo céu, Frederick também estivesse pensando nele.
     Com um suspiro, Alexander entrou em casa, sabendo que esta noite seus sonhos seriam povoados por memórias de um verão em Lyme, de promessas sussurradas e corações partidos. O passado não estava disposto a ficar enterrado por muito mais tempo.

Entre Desejo e DeverOnde histórias criam vida. Descubra agora