V. GUIZOS DO CAOS

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Bastou uma única semana para que eu descobrisse que a Caçadora Silenciosa simplesmente não conseguia permanecer em silêncio por mais de cinco minutos

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Bastou uma única semana para que eu descobrisse que a Caçadora Silenciosa simplesmente não conseguia permanecer em silêncio por mais de cinco minutos. Estava constantemente produzindo ruídos, batendo os saltos das botas no piso e fechando as portas e escotilhas com força demais. E havia os malditos guizos. Essa era a parte mais irritante.

Assim que subiu a bordo, Ágappe amarrou um trio de guizos no cinto, de modo que era possível escutar o tilintar metálico dos sinos ecoando pelos corredores do Polar Tang. Quando lhe questionei a respeito, ela esclareceu que costumava usá-los para que as pessoas percebessem sua aproximação e lembrassem da sua presença, já que sempre acabavam por esquecê-la pelo fato de ela não conseguir participar das conversas. Mal sabia ela que não havia necessidade nenhuma de usar os guizos para anunciar sua presença, a caçadora já fazia isso apenas por existir.

Ainda que não conseguisse falar, Ágappe era estridente como um grilo. Escandalosa, barulhenta e destrambelhada; parecia incapaz de se movimentar sem esbarrar em alguma coisa ou chamar a atenção de todos para si. Nunca pensei que alguém que possuísse a Fruta do Silêncio pudesse produzir tantos sons o tempo todo. Nem mesmo Corazón, em todas as suas constantes trapalhadas, chegava aos pés da sonoridade impressionante da caçadora.

Entretanto, procurei ignorar seus guizos irritantes e suas mãos falantes - que ela discretamente gesticulava sempre que eu lhe dava as costas -, engolindo o estresse que sua presença me proporcionava pelo bem do plano. Ágappe se adaptou facilmente à tripulação logo no primeiro dia, o que considerei uma grande vantagem. Ela parecia ser difícil de lidar, na maior parte do tempo agindo com a hostilidade de um canguru raivoso, de modo que não me incomodei ao perceber que ela e Ikkaku haviam formado uma espécie de coleguismo. Já que estávamos lidando com um animal selvagem, permitir que alguém tentasse domá-lo me pareceu uma escolha inteligente.

Os primeiros dias correram de modo relativamente tranquilo, e, apesar dos guizos tilintantes e dos tropeços pelos corredores, Ágappe aderiu à rotina do Polar Tang sem muita dificuldade. Passava a maior parte do tempo trancada em sua cabine ou perdida em meio aos compartimentos do submarino e, durante as refeições, se juntava ao restante da tripulação, observando-nos enquanto comíamos e trocávamos os diálogos habituais. Vez ou outra, encontrava-a grudada a alguma escotilha, rabiscando o que quer que enxergasse do lado de fora em seu caderno com toda a concentração do mundo, mas nunca tinha curiosidade suficiente para me aproximar e perguntar sobre sua arte.

Isso não queria dizer, porém, que minha mais nova aliada era uma companhia pacífica para se conviver. Muito pelo contrário, Ágappe era mais inflamável que um tambor de gasolina. Questionava tudo o que eu dizia como se estivesse tentando ofendê-la e parecia incapaz de compreender que eu lhe fazia perguntas justamente porque não sabia as respostas. Era como se ela fosse uma fogueira de raiva e qualquer palavra que eu dissesse servisse como combustível.

Violet Hill - Trafalgar LawOnde histórias criam vida. Descubra agora