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Apesar de ter sido um verdadeiro fracasso, a caçada em meio à floresta tropical com Ágappe foi consideravelmente tranquila. Depois de passarmos a noite no galpão abandonado, acordei com os primeiros raios da manhã iluminando o interior da fábrica, sentindo o corpo dormente e a coluna travada. Precisei de um minuto inteiro para perceber que Ágappe não havia me acordado para o turno de vigia, e mais outro para notar que ela se encontrava há um braço de distância, dormindo profundamente enquanto usava a mochila de encosto.
Sua franja ruiva cobria um pouco dos olhos e sua boca estava entreaberta, os braços agarrados firmemente a seu rifle de caça vermelho-sangue. Ela devia ter desmaiado em algum momento da noite, vencida pelo cansaço, pelo modo como sua cabeça tombava para o lado, apoiada em Quíron. A visão foi tão estranha para meus olhos quanto a cena de vê-la chorar no convés durante a madrugada anterior. Parecia... vulnerável demais enquanto dormia. Definitivamente, não era uma atribuição que eu estava acostumado a fazer à caçadora.
Acordei-a com um cutucão e ela precisou de uns bons cinco minutos apenas para conseguir abrir os olhos, mas, quando finalmente conseguiu se levantar, logo tratamos de iniciar nossa caminhada de volta, deixando o barracão sujo e abandonado para trás. Uma vez no Polar Tang, por volta do fim da tarde, Ágappe seguiu para o banheiro e eu, para minha própria cabine, onde me lavei e me joguei na cama, exausto e dolorido.
Só fui despertar novamente na manhã seguinte, com a luz intensa do meio-dia invadindo a cabine pela escotilha e o aroma suave de café preenchendo o ambiente. Ergui o tronco, estiquei as costas e massageei o pescoço, contente por encontrar uma caneca fumegante na cômoda e um prato com ovos mexidos e um pedaço de queijo branco, coberto por uma camada generosa de doce de leite. Shachi devia ter preparado um café da manhã tardio e Bepo o havia deixado em meu quarto, provavelmente pressentindo que eu acordaria faminto depois de passar dois dias enfiado em uma floresta.
Usando os antebraços de apoio, sentei-me e me arrastei até a beirada da cama, salivando apenas pelo cheiro delicioso da comida. Shachi costumava temperar todas as refeições com alguma erva incrivelmente aromática, embora eu não soubesse dizer qual era. Alcancei a caneca e o prato e comi na cama mesmo, tomando o cuidado de segurar a louça perto da boca para não correr o risco de sujar os lençóis.
Estava prestes a virar o último gole do café garganta abaixo quando finalmente me toquei que minha cabine parecia iluminada demais. Voltando os olhos para a escotilha, me deparei com o vidro aberto e o céu azul, o que me fez franzir profundamente o cenho. Por que estávamos navegando sobre a superfície?
Desconfiado, parei e me concentrei nos sons ao meu redor, tentando identificar o rugido do motor do Polar Tang sob os estalos da estrutura metálica, mas não consegui ouvir nada além do burburinho das ondas lambendo o casco. Então, decidi me levantar e espiar o lado de fora pela janela, mas o que vi apenas me deixou irritado. Senti o sangue ferver nas veias e minha visão girou por conta do estresse, obrigando-me a cerrar os punhos com força.
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Violet Hill - Trafalgar Law
FanfictionEm meio às dificuldades e frustrações para executar seu plano de se tornar Corsário, Law definitivamente não esperava encontrar um novo usuário da Nagi Nagi no Mi, a Fruta do Silêncio. Tampouco imaginava que a Caçadora Silenciosa, herdeira dos poder...