XV. PERFUME DE PAPOULAS

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Ainda encharcados com a chuva, seguimos direto para a sala de navegação, onde Bepo e Ágappe traçaram a rota para nosso próximo destino, Potty Isle

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Ainda encharcados com a chuva, seguimos direto para a sala de navegação, onde Bepo e Ágappe traçaram a rota para nosso próximo destino, Potty Isle. Shachi nos trouxe toalhas para nos secarmos, mas o frio já havia se instalado em nossos ossos e nem mesmo o ar gelado da cabine foi capaz de nos incomodar. A caçadora sequer se importou com o rastro de água que deixou pelos corredores, apenas correu de um lado para o outro para pegar seu bloquinho e desenhar alguns mapas apressados.

O aguaceiro não havia conseguido lavar a maquiagem de seu rosto e pescoço, e o vestido molhado se agarrava ao seu corpo de maneira escandalosa. Ikkaku tentou oferecer um roupão para protegê-la, mas ela simplesmente o rejeitou alegando que a roupa era a última de suas preocupações no momento. E, por mais que o fato evidentemente deixou todos, exceto Bepo, muito distraídos, não consegui me sentir irritado com ela, porque meu próprio foco também estava comprometido, embora o motivo fosse outro.

Acontece que, com toda aquela produção, Ágappe ficava tão diferente que era quase como se estivesse olhando para outra pessoa. A mercenária com quem estava acostumado tinha uma aparência ameaçadora, hostil e de poucos sorrisos, como um cacto — cheio de espinhos que não deixavam ninguém se aproximar. Só que essa pessoa sumira sob todas as camadas de maquiagem e tecido chique, substituída por uma criatura suave e convidativa, que exalava graciosidade e cujo sorriso charmoso encantava qualquer um sem a menor dificuldade. Acho que o que mais me pegou de surpresa foi a forma como, sem a cicatriz no rosto e a tatuagem escura emoldurando sua garganta, a própria fisionomia de suas feições parecia mudar para algo mais terno, gentil. Eu nunca tinha parado para pensar na forma como uma única cicatriz no nariz poderia transformar uma pessoa, e isso me fez refletir sobre o quanto eu desconhecia a respeito de Ágappe.

Apesar dos mais de quatro meses de convivência, ainda sabia muito pouco sobre o passado da caçadora. Sabia que ela era do West Blue, que nascera e crescera em Athenas, a capital de Helenia, que vinha de uma família de artistas, que seu pai havia lhe ensinado a caçar quando ela era criança e que havia sido rejeitada pela sua sociedade. Entretanto, todos os demais detalhes de sua história ainda me eram ocultos, e descobrir essa nova face — essa nova forma física que ela era capaz de assumir — fez com que eu me perguntasse como Ágappe era antes de se tornar quem eu conhecia. Antes das cicatrizes, das tatuagens e da Organização, quem a Caçadora Silenciosa havia sido?

A única filha de uma família cuja vida era um constante espetáculo? Uma herdeira frustrada, mas acostumada aos vestidos chiques e eventos sociais badalados? Uma garotinha sorridente que gostava de desenhar?

Era estranho pensar em Ágappe como sendo qualquer coisa que não a implacável caçadora de recompensas com quem aprendera a conviver. Ela era durona, irritadiça, teimosa e imprudente, e tudo o que não se relacionava a esses aspectos de sua personalidade parecia não lhe pertencer. Ágappe não chorava, não sentia medo, não bebia espumante em taças de cristal e, principalmente, não sorria para qualquer um com a graça de um membro da realeza. Ou, ao menos, não deveria. Considerar que, em um passado não muito distante, ela provavelmente havia sido outra pessoa, com outra personalidade, manias e trejeitos era um tanto desconcertante — talvez justamente pelo fato de que esse pensamento só viera a me ocorrer por causa de uma maquiagem e um vestido provocante.

Violet Hill - Trafalgar LawOnde histórias criam vida. Descubra agora