Um Lugar Aprazível e Privado

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O cemitério ficava nos arredores do Queens, onde os prédios davam lugar a casas vitorianas pintadas com cores de confeito: rosa pálido, branco e azul-claro. As ruas eram quase todas desertas, e a avenida terminava em um cemitério escuro, exceto por um único poste.

Levaram um tempinho com as estelas para conseguir atravessar os portões trancados e mais algum tempo para encontrar um lugar suficientemente recluso para que Raphael começasse a cavar. Ficava no topo de uma colina baixa, protegida da estrada abaixo por uma fila espessa de árvores. Taehyung, Jungkook e Jimin estavam protegidos por magia, mas não havia como esconder Raphael, nem o corpo de Namjoon, então as árvores ofereciam um disfarce bem-vindo.

As laterais da colina que não davam para a rua eram cobertas por grossas camadas de lápides, muitas das quais traziam uma estrela de Davi no topo. Brilhavam brancas e suaves como leite ao luar. A distância havia um lago, com a superfície encrespada por ondulações brilhosas. Um bom lugar, pensou Taehyung. Um bom lugar para visitar e colocar flores no túmulo de alguém, para sentar e pensar na vida da pessoa, no que ela significou para você. Não um bom lugar para se ir à noite, sob a cobertura da escuridão, para enterrar seu amigo em terra rasa, sem o privilégio de um caixão ou um velório.

— Ele sofreu? — perguntou Taehyung a Raphael. Ele parou de cavar e levantou o olhar, apoiando-se no cabo da pá como o coveiro de Hamlet.

— O quê?

— O Namjoon. Ele sofreu? Os vampiros o machucaram?

— Não. A morte por sangue não é tão ruim — disse Raphael, com a voz suave. — A mordida deixa a pessoa drogada. É agradável, como ir dormir.

Uma onda de tontura percorreu seu corpo, e por um instante achou que fosse desmaiar.

— Taehyung. — A voz de Jungkook o trouxe de volta do devaneio. — Vamos. Você não precisa assistir isso.

Jungkook estendeu a mão. Atrás dele, Taehyung podia ver Jimin de pé com o chicote na mão. Tinham enrolado o corpo de Namjoon em um cobertor, e ele estava no chão, aos seus pés, como se estivesse guardando a coisa. A coisa não, ele, Taehyung lembrou a si próprio ferozmente. Ele. Namjoon.

— Eu quero estar aqui quando ele acordar.

— Eu sei. A gente volta. — Como não se mexeu, Jungkook o pegou pelo braço, que não ofereceu resistência, e afastou-o da clareira, puxando-o pela lateral da colina.

Havia pedregulhos ali, logo acima do primeiro nível de túmulos; ele se sentou sobre um, fechando o casaco. Estava surpreendentemente frio ao ar livre. Pela primeira vez na estação, Taehyung pôde ver a própria respiração ao expirar.

Taehyung se sentou no pedregulho ao lado de Jungkook e ficou olhando para o lago. Podia ouvir as batidas rítmicas da pá de Raphael atingindo a terra, e a terra atingindo o chão. Raphael não era humano; ele trabalhava rápido. Não levaria tanto tempo para cavar uma cova. De qualquer forma, a cova não teria que ser tão profunda.

Taehyung sentiu uma pontada de dor no estômago e se curvou para a frente, com as mãos na barriga.

— Estou enjoado.

— Eu sei. Foi por isso que eu trouxe você para cá. Estava com cara de que ia vomitar nos pés do Raphael. Se bem que poderia ter tirado aquele sorrisinho do rosto dele — Jungkook observou reflexivamente. — Temos que levar isso em consideração.

— Cale a boca. — A dor passou. Taehyung inclinou a cabeça para trás, olhando para a lua, um círculo de prata lascada flutuando em um mar de estrelas. — A culpa é minha.

— A culpa não é sua.

— Você tem razão. A culpa é nossa.

Jungkook voltou-se para ele, a irritação clara nas linhas do rosto.

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⏰ Última atualização: Oct 05 ⏰

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Shadowhunters: City of Ashes | TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora