Nos conhecemos?

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Ella acordou mais tarde hoje, ela conseguiu dormir, não a noite toda...mas aí seria pedir demais, não é mesmo?
  De repente o telefone dela tocou, estava sem nome. Quem seria ?

— Alô?... Quem fala?

— Alô. É você Ella? Sou eu Matheus

— Sim...como conseguiu meu número?

— Eu vi na sua fixa de funcionários...desculpe por isso, mas eu não sabia outra forma de falar com você. Lembra que combinamos passar o dia juntos? Você... ainda vai querer?

— Tudo bem...eu esqueci de te dar o meu número,mesmo. Claro que lembro. Mas onde nós vamos?

— Se não se importar,eu quero deixar isso como uma surpresa

— Ah...certo ?

— Calma,eu não vou te sequestrar kk Fui bem criado pela minha avó. Sei como tratar damas

— Avó?... Ah desculpe isso não é da minha conta.

— Não, tudo bem. Você a conheceu, não lembra? A senhora que te pediu ajuda para desatar o nó do barco. Eu e Jhon tínhamos saído para comprar, e quando eu cheguei ela estava desesperada falando que a jovem que a ajudou tinha se afogado.

Ella ficou calada por um tempo. Então foi assim que ele foi parar lá naquele dia? Então era ele um dos netos que aquela senhora se referia. Quais são as chances disso acontecer?

— Olá? Você ainda está aí?

— E..estou...

— Ficou tentando raciocinar, não é mesmo?

— Sim.

— Bom...eu te explico melhor quando te ver pessoalmente. Onde posso te encontrar? Na frente do prédio do jornal?

— Pode ser... Em alguns minutos estou indo. Tchau

— Certo! Tchau,até daqui a pouco.

Ella se arrumou e saiu de casa. Foi em direção ao ponto de encontro

Matheus a avistou

— Ella ! Aqui!

— Ah...oi!

— Pronta para o passeio? Vou pegar o carro

— Matheus...Quer dizer... senhor

— Sim? Porque está me chamando de "senhor" ?

— Porque o senhor quer passear comigo?... E afinal de contas você é o meu chefe agora, preciso trata-lo da maneira correta — Ella não estava acostumada a ninguém tratá-la assim, então era estranho essa sensação, o que ele queria em troca? Porque estava sendo gentil?

Quando um pássaro não é ensinado a voar, ele desconhece o céu . Quando não somos amados, estranhamos o amor.

— Ella... Falando como o seu "chefe", você foi tratada de forma horrível na minha empresa e eu não fazia a mínima ideia disso. Preciso recompensa-la, e trata-la da melhor maneira, não apenas com esse passeio,mas também  lhe pagarei uma indenização pelos danos físicos e mentais,que aquele homem lhe  causou.

Ella ficou olhando para Matheus sem dizer nenhuma palavra.

Ele continuou — Mas falando como a pessoa que te conheceu há 12 anos atrás,eu diria que já fazem anos que eu te procuro. E passar um tempo com você é o que eu mais quero há muito tempo. Quando eu percebi que era você naquela sacada outro dia. O meu coração simplesmente se partiu. A garotinha que eu tanto procurava estava tentando acabar coma própria vida... Eu prometi que cuidaria de você,e por mais que você não lembre...eu continuarei com a minha promessa.

— Eu te conheço? Doze anos atrás? Como?...Quem é você?

— Eu sei que você não deve lembrar, mas nos conhecemos no cemitério de Quennstown na Nova Zelândia.

— Lá estão enterrados os meus pais... Eu não estou entendendo,o que você fazia lá? — Os olhos de Ella estavam com lágrimas, a morte dos pais era uma ferida antiga,mas ainda sangrava, mesmo que parecesse estar cicatrizada...

— Quando pequeno eu morava lá,e sempre fugia do mundo real,  passeando naquele cemitério. Eu sei que não é o melhor lugar para ir,mas era o lugar onde eu mais me sentia a vontade.Longe de todos, longe das opressões da minha madrasta... Em mais um daqueles dias eu te vi, chorando em frente a dois túmulos... Eu me aproximei e começamos a conversar, você falou sobre os seus pais e eu sobre o meu pai e minha madrasta, também te contei sobre a minha mãe,que está enterrada lá. Passamos cinco dias conversando.  Sei que não deve se lembrar, para mim foram cinco dias com uma pessoa nova ...mas você estava de luto pela sua perda, então é normal não se lembrar. Muitas pessoas esquecem de traumas como esse, é como um mecanismo de defesa. No entanto , eu te fiz uma promessa de sempre cuidar de você. Mas depois de um tempo eu nunca mais te vi, você simplesmente sumiu. A minha promessa continuou, e continuará até o meu último suspiro.

— Matheus...

Ella não conseguiu segurar mais as lágrimas. Ele despertou nela uma dor que Matheus ainda não conhecia. Um passado que ela não gostaria de lembrar, não eram memórias ruins mas eram tão boas lembranças que Ella não se sentia digna de possuir. Enquanto seus pais estavam vivos, foi também o seu tempo de vida. A morte deles representou também a morte dela. Estava viva para todos ao redor ,mas uma parte morta por dentro.
 
Ele a abraçou. Aquele abraço de alguma forma preenchia o vazio dentro de Ella.

— Me perdoe por não ter dado mais notícias

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— Me perdoe por não ter dado mais notícias. Depois daqueles dias eu fui morar com o meu tio... Obrigada por se lembrar de mim por todo esse tempo.

— Eu entendo, e também não precisa agradecer. Você foi a única pessoa que quis ser minha amiga naquela época, na verdade, foi a única pessoa que quis conversar ou chegar perto de mim. Então é claro que eu me lembraria de você...Mas temos um passeio para ir, quero te mostrar o lugar onde eu sempre me escondia para sair da realidade

— O cemitério?

— Não kkk Vamos e você verá. Temos muito o que conversar, e nada de me tratar como o seu chefe hoje. Trate-me como o seu amigo de muito tempo atrás,pois afinal de contas nos conhecemos.

— Só uma pergunta...

— Sim?

— Porque não me contou antes que era você?

— Não julguei ser o momento certo, acho que você não estava em condições de conversar sobre isso

— Entendi — Ella deu um leve sorriso

— Vamos ?

— Sim!

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