A luz, mesmo fraca, era uma intrusa nos meus olhos ainda fechados, uma presença delicadamente dolorosa que me fazia querer me encolher de volta para o escuro do sono. Levei um minuto inteiro para me ajustar, o tempo suficiente para a sensação se transformar em um incômodo mais suportável. Minha mão se ergueu instintivamente, protegendo o rosto, bloqueando a luz enquanto tentava reunir os pensamentos fragmentados que teimavam em escapar.Mas então, a consciência me atingiu como um raio. Eu não estava em minha cama. Não estava no meu quarto. Eu não estava em minha casa. O pânico começou a borbulhar sob a superfície da minha pele, me forçando a me sentar tão rápido que o quarto girou ao meu redor. A vertigem me pegou de surpresa, e eu tive que fechar os olhos novamente, esperando que o mundo parasse de rodopiar.
Eu respirei fundo, tentando me acalmar, forçando meu corpo a obedecer. Quando finalmente abri os olhos de novo, a luz suave da manhã iluminava o ambiente de forma que tudo parecia sutilmente dourado. Foi nesse instante que percebi as minhas roupas, dobradas com cuidado na poltrona verde escura no canto do quarto. A visão delas me fez levantar com pressa, quase com desespero, mas a tontura voltou, forçando-me a sentar novamente na beira da cama.
Respirei fundo algumas vezes, buscando clareza, até que a visão finalmente estabilizou. Com uma certa relutância, me levantei novamente, pegando minhas roupas, indo em direção ao banheiro. Descalça, senti o chão ligeiramente úmido em alguns pontos. A simples constatação fez meu estômago se revirar. Merda, ele esteve por aqui enquanto eu dormia.
Vesti minhas roupas tão rápido quanto pude, sentindo a pressa nos meus movimentos, a necessidade de sair dali antes que a situação se complicasse ainda mais. O jeans escuro deslizou sobre minhas pernas e, com um rápido movimento sendo seguido pela camisa vermelha e a jaqueta de couro negra. Descartando a cueca emprestada no cesto de roupas sujas, eu me certifiquei de empurrá-la para o fundo, como se quisesse esconder qualquer evidência do que havia acontecido. Um banho? Só em casa. Aqui, eu não podia me demorar nem mais um minuto.
Dei uma olhada no espelho. Meu cabelo estava surpreendentemente decente, talvez um reflexo irônico do caos interno que eu sentia. O rosto, apesar da leve palidez, não denunciava a grande ansiedade que eu sentia.
Voltei para o quarto, os olhos rapidamente encontrando minhas botas pretas ao lado da poltrona. Sentei-me para calçá-las, tentando ignorar o peso que parecia se acumular nos meus ombros, o relógio de cabeceira me mostrando que ainda eram cinco da manhã. Cedo o suficiente para sair sem muita conversa, cedo o suficiente para descobrir o paradeiro dos gêmeos.
Desci as escadas com passos lentos, quase calculados. A tensão era palpável no ar, a incerteza de como seria o clima entre nós dois aumentando a cada degrau. Eu não sabia o que esperar. Não sabia como seria a conversa ou se seríamos capazes de nos olhar nos olhos. Tudo o que eu tinha certeza era do nervosismo crescendo dentro de mim, uma sensação que eu precisava reprimir se quisesse lidar com Steve.
A lembrança da conversa da noite anterior passou pela minha mente, trazendo com ela um misto de sensações. Havia sido agradável. Mas o fim... o fim deixara uma marca. Era como se, por um breve momento, eu tivesse tocado em algo que deveria permanecer escondido. E eu ainda não conseguia entender como tinha sido capaz de ouvir minha voz de tão longe. A única explicação que me restava era a mais absurda: talvez Steve fosse algum tipo de super-humano com poderes especiais, fugido de um laboratório. Era ridículo, mas no meu estado de confusão, parecia a única explicação que fazia sentido.
Quando finalmente entrei na cozinha, lá estava ele. Segurando uma caneca, levando-a aos lábios com uma serenidade quase desconcertante. Seu olhar se levantou, e nossos olhos se encontraram. Azul profundo, uma cor que parecia penetrar diretamente na minha alma, deixando-me exposta. Havia algo de diferente nele. Talvez fosse a intensidade com que me olhava, ou a forma como seus movimentos pareciam quase precisos demais. Seus músculos se destacavam de maneira sutil, mas evidente, sob a camisa social branca que ele usava. Cada linha do seu corpo parecia cuidadosamente esculpida, como se ele carregasse um segredo em cada fibra.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Bela Maldição | ROMANOGERS
FanfictionROMANOGERS Numa busca por um novo começo mergulhando nas chama do passado, Natasha Romanoff anseia por uma vida simples e sem complicações, uma vida comum. No entanto, tudo muda quando ela se depara com os olhos azuis intensos e misteriosos de Stev...