Ainda sou eu... Com ou sem um coração palpitante...

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"Ele encerra tudo... tudo o que restou. O mundo ruiu ao meu redor. Mas isso, isso, pode ser o bastante para aparar as arestas de meu coração, que um dia foi vivo."
                           -A maldição do mar
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Neuvillette achou que o mais correto era levantar-se e saudar respeitosamente a pessoa que acabara de chegar e que parecia tão importante.
Rapidamente ele pôs-se de pé e curvou-se.

-Alteza.

Mas quando seus olhos encontraram os do homem que estava diante dele. Ele sentiu seus pés flutuarem, perguntando-se, se aquilo era realmente possível...

Não...

Poderia ser alguém muito parecido...

Não...

Em qualquer mundo, universo ou dimensão que ele fosse, cada vez que encontrasse Wriothesley, ele o reconheceria...
E aquele era...
Era...

Ele engoliu em seco, sentindo as lágrimas se acumularem ao redor dos olhos. Tantos anos, esperando aquele encontro. Tanto tempo, que as palavras se perderam e ele não foi capaz de dizer nada. Sentia tanto, e não era capaz de expressar esse sentimento.

-Tanto tempo passou, mas você não mudou nada. -Wriothesley o envolveu em um abraço apertado, sentido o coração do outro Bater descompassadamente.

-Preciso falar a sós com você, mas não suportava mais ter que esperar tanto. Me acompanha? - Perguntou gentilmente.

Neuvillette encarou Sigewine.

Ela deu de ombros, mais preocupada com os biscoitos do que com o que estava acontecendo alí.

Ele acompanhou Wriothesley até uma carruagem bastante luxuosa.

-Entre.

Neuvillette observou que havia uma bandeja com alguns doces e algumas taças de água.

-Eu lembro que você gostava... Prove.

Neuvillette bebericou a taça vagarosamente saboreando. Não sabia dizer se era o fato de vê-lo novamente, ou realmente o sabor incrível.

-É... Agradável. -Wriothesley sorriu.

-Por um momento pensei que tivesse perdido a habilidade de falar.

-Eu só, não sabia por onde começar, ainda não sei, na verdade. - O outro segurou seu queixo.- teremos muito tempo para... Entender tudo.

Com essas palavras ele tomou os lábios do outro carinhosamente, saboreando o gosto que tanto ansiara por sentir, a cada instante daqueles séculos que passaram.

Neuvillette parecia hesitar, mas aquele toque era tão familiar que ele não conseguiu fazer nada a não ser entregar-se, seu corpo ansiava por tê-lo para si.

Ele arfou e com um suspiro satisfeito o duque se afastou, mirando-o com devoção.

-Eu não entendo... Como é possível? -Wriothesley riu, e segurou uma mecha branca entre os dedos.

-Essa é uma longa história... Quando chegarmos ao palácio, eu lhe explicarei... Tudo.

Os cavalos apressaram o passo.

-E Sigewine? -Neuvillette perguntou lembrando-se de repente.

-Ela é bem independente, na verdade. Tem algumas coisas a resolver na vila, por isso quis poupá-la do trabalho de retornar ao castelo. -explicou.

-Esse lugar é...

-No seu mundo, vocês o conhecem, como pós vida... Além... Reinos dos mortos... Mas aqui, Nós simplesmente o chamamos de Zíryan.

-Então, você está realmente...? Por alguma razão Neuvillette se recusava a pronunciar tais palavras, não importava se passara meio milênio, ele nunca aceitaria isso, mesmo que representasse a verdade.

Wriothesley suspirou tomando uma de suas mãos e entrelaçando os seus dedos.

-A verdade é que não é tão simples... Este mundo é apenas a continuação do outro... - sorriu. -Olhe para mim... -Neuvillette engoliu em seco e limitou-se a encarar aquela face. A mesma que desejava ver antes de dormir e logo depois de acordar.

-Ainda sou eu... Com ou sem um coração palpitante... Embora devo admitir que se ele ainda fosse capaz de bater, seria impossível controlá-lo agora...

Neuvillette meneou a cabeça.

-Algumas coisas não mudam, não é mesmo?  -ele sorriu sincero.

Com um solavanco a carruagem parou.

Um dos cocheiros abriu a porta.

-Chegamos alteza! -Ele se posicionou ao lado e esperou que os dois saíssem.

O dragão observou o grande portão dourado que se abriu diante deles, os dois se encaminharam por um   longo jardim, com duas fontes grandes, cujas estatuas pareciam anjos.

Havia uma diversidade de rosas azuis e brancas.

-Algo nelas... Me fazia lembrar de você. -Wriothesley admitiu um pouco tímido.

O outro o fitou demoradamente, seus olhos escorregando para os lábios do duque, sempre que ele se distraía.

-Por quê tanto tempo? -neuvillette se encontrava ansioso por respostas, tentava manter seu auto controle, mas este lhe fugia como água escorrendo pelas mãos.

Wriothesley deu um sorriso triste.

-Me acompanhe.

O palácio do duque era grande e confortável,com uma lareira que queimava e aquecia o ambiente, vasos grandes com as mesmas rosas azuis do jardim enfeitavam a maior parte do castelo. Depois de caminharem por uma série de degraus eles chegaram ao quarto de sua alteza.

A porta se abriu com um ranger e os servos foram dispensados deixando os dois a sós.

Wriothesley se aproximou vagarosamente e tocou a túnica de Neuvillette suavemente.

-Sabe qual foi a primeira coisa que pensei quando te vi vestido de forma tão simples?

O outro meneou a cabeça e os olhos do duque repousaram em seus lábios.

-Como poderei me controlar até chegarmos ? Seria tão fácil arrancá-la de você... -Suas mãos deslizaram por debaixo do tecido e ele sentiu aquela pele quente... Com a outra ele desfez o nó rapidamente e suspirou ao ver o outro completamente exposto diante dele...

-Wriothesley...

-Você não quer?

O outro permaneceu em silêncio

-Mesmo depois de tanto tempo e tantas noites ainda é difícil pra você admitir que me deseja? -Ele riu baixinho. -Mas não é preciso, eu vejo em seus olhos.

-Tratante! - Respondeu com um sorriso, deixando-se levar quando o outro arrastou-o para si, colando seus corpos e beijando-o com ferocidade.

Neuvillette deslizou suas mãos por debaixo de todo aquele tecido, rasgando em pedaços as vestes do outro, quem não o conhecia poderia julgá-lo por sua aparência fragil, mas a verdade é que aquelas mãos pálidas e delicadas escondiam uma força extraordinária.

O outro arfou, tomando seus lábios violentamente mais uma vez, eles desabaram sobre a cama, um ânsia incontrolável de finalmente se unirem depois de tanto tempo.

***
-Me diga... - O duque começou. - Por onde você quer que eu comece?

Neuvillette franziu o cenho.

-Desde o começo... Desde... Aquele dia. - Sua voz tremeu levemente. O duque segurou suas mãos e plantou um beijo suave em seu rosto absorvendo aquele cheiro do qual sentira tanta falta.

-É. Não foi um dia muito agradável. Principalmente  por que na época eu não sabia se iria voltar a vê-lo. Mas cá estamos nós.

Neuvillette montou sobre o outro e o encarou. Acariciando seu peito.

-Dessa vez não vou deixá-lo ir! -Havia tanta firmeza nos olhos do dragão que o outro apenas assentiu com um sorriso de entendimento mútuo.

O Oceano Sagrado e a Máscara da DorOnde histórias criam vida. Descubra agora